ACERCA DA TEMPERATURA DOS
MASS MEDIA
Vianney Mesquita*
O que sucede hoje já aconteceu outras vezes; o que se
expressou já foi dito e há de se dizer ainda; o que há de ser já foi. (Anton
Francesco Doni. *Florença-Toscana, maio de 1513; +Monselice-Padova, 1574).
Ilustrada amiga, colega de
departamento acadêmico na U.F.C. e eu, certa vez, resolvemos proceder a um
projeto editorial que sobejou na produção de um livro, subordinado ao título O Termômetro de McLuhan (MESQUITA,
Vianney; CYSNE, Fátima Portela. Fortaleza: Edições UFC, 1994). Nossos são os
principais capítulos e minha a coordenação, tendo o volume experimentado bom
alcance nacional como compêndio didático para uso em disciplinas da grande área
da Comunicação e da Ciência da Informação.
À época, os estudos sobre o autor da Galáxia de Gutenberg
encontravam-se, até então, um pouco olvidados pelos pesquisadores - ora em
razão de críticas acerca da possível ausência de profundidade de seus
conceitos, no mesmo passo em que era festejado por cientistas de várias partes
do Globo, e às vezes por conta da fulguração das ideias de outros
investigadores, a ensombrar a reverberação de suas ideações vanguardistas.
E eis que o chamado Profeta de comunicação voltara à cena,
retomando-se os estudos atinentes aos seus corajosos conceitos, como, por
exemplo, o de que os meios de comunicação constituem extensões das pessoas – TV
como desdobramento da visão, microfone feito desenredo da boca e da fala, a
roda é o progresso dos pés, a pinça desenovela a mão et reliqua.
Entre outras vantagens desde canadiano
pioneiro no exame científico da Comunicação e docente bem retribuído
financeiramente em universidades do Canadá e EEUU, Herbert Marshall McLuhan
(Edmonton, 21.07.1911; Toronto, 31.12.1980) lobrigou a existência da rede
mundial de computadores quase 30 anos antes de ser inventada, de modo que seus
compreendimentos pertinentes ao Saber Comunicacional Ordenado ainda hoje restam
revisitados por investigadores que cuidam de tal ofício, fato quiçá
demonstrativo de suas reflexões terminarem dignas de convicção como insertas em
área sistemática do conhecimento.
Na contextura da reminiscência
editorial, docente e literária ora manifesta, ocorrida há 20 anos, reporto-me
ao motivo do evocado livro – O Termômetro
de McLuhan, uma das compreensões do autor de Os Meios de Comunicação como Extensões do Homem - a Teoria da
Temperatura dos Meios.
Faço-o a fim de esposar a imaginação
de ser provável a noção de jamais haver transitado pelo pensamento dos inventores
de escalas de graduação térmica, René Antoine REAUMUR, William Thompson (Lorde
KELVIN), Daniel Gabriel FAHRENHEIT e Anders CELSIUS, a possibilidade de que,
num dia do brumoso futuro, seus instrumentos de precisar a temperatura dos
corpos pudessem também mensurar a grandeza termodinâmica dos meios de
propagação coletiva em equilíbrio na permuta de energia sob a forma de calor.
Ocorreu, pois, de isso ser concebido
pelo pesquisador de Guerra e Paz na
Aldeia Global, quando determinou que, sob o ponto de vista relacional
emissor-receptor-decodificador, os media são
quentes ou frios, na dependência de
definição visoauditiva, bem assim de envolvimento dos agentes ligados
comunicativamente.
Ideias estranhas como essa, sustentadas
em 15 livros, editados com o auxílio financeiro oficial dos Estados Unidos,
compõem o recheio dos sistemas mcluhanianos, entretanto, debatidas, combatidas,
apreciadas e, paradoxalmente, exorcismadas, isto, quem sabe, até por pretextos
de laivo ideológico.
O fato é que o Profeta da Era da Informação – a primeira pessoa a cuidar do exame
da Comunicação em ultrapassagem às evidências do senso geral – retorna,
paulatinamente, à baila – conforme adiantei há pouco – pois se compulsa outra
vez a literatura produzida neste lato quanto volátil terreno das suas teorias,
como a se pretender patentear, depois de um lapso de obscurecimento, a verdade
relativa do fato ordenado ou a dobrez pseudocientífica – como exprimem alguns -
de suas arrojadas e discutíveis intenções.
Os autores tencionamos, pois, no
ensejo da publicação, projetar no volume do qual agora faço nota a símile da
necessidade de posicionamentos interdisciplinares, conforme seus capítulos de
teores até agora vigentes, como a indigitar, à semelhança do ainda hoje
consagrado autor de O Meio é a Mensagem,
o estado da arte da Comunicação, aqui sobreposto às compreensões da Ciência da
Informação, à espera do debate e até, dando-se o caso, da mudança do nosso entendimento
como autores, no concernente ao ali exposto, feito
resultado da sadia reflexão.
Invito os leitores, neste lance, a
incursionarem pela obra desse canadense célebre, com visão internacional,
conquanto habite outra dimensão há 34 anos, quando poderão se louvar no ensejo
para cotejar dele as reflexões, hipóteses e achados reais.
Talvez seja prestadio referir ao fato de
a obra mcluhaniana ser achadiça em Fortaleza, mormente nas bibliotecas e
centros de documentação das universidades e escolas de formação superior, muito
particularmente, no Centro de Humanidades da Universidade Federal do Ceará.
Isto, fora de dúvida, constitui elemento coadjuvante de efetivação do contato
primeiro ou repetida convivência com a produção do Vidente da Comunicação.
Manifestamente, na leitura
sugestionada, será necessário conceder os abatimentos imprescindíveis na
comparação do período de suas escrituras em relação ao tempo fluente, de tanta
tecnologia, de tão intensos e nítidos clarões de civilização no auge, no
entanto e em tese, de sobrada esquisitice e barbaria dos comportamentos
humanos, no respeitante à moral, à ética, à deontologia e ao que se aguarda de
um reino animal (pretensamente) superior, in
anima nobili, às vezes, porém, mais vili
do que nobili.
*Vianney Mesquita
Docente da UFC
Acadêmico Titular da Academia Cearense da Língua Portuguesa
Escritor e Jornalista
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