sábado, 14 de junho de 2014

ARTIGO (VM)

ACERCA DA TEMPERATURA DOS
MASS MEDIA
Vianney Mesquita*



O que sucede hoje já aconteceu outras vezes; o que se expressou já foi dito e há de se dizer ainda; o que há de ser já foi. (Anton Francesco Doni. *Florença-Toscana, maio de 1513; +Monselice-Padova, 1574).


Ilustrada amiga, colega de departamento acadêmico na U.F.C. e eu, certa vez, resolvemos proceder a um projeto editorial que sobejou na produção de um livro, subordinado ao título O Termômetro de McLuhan (MESQUITA, Vianney; CYSNE, Fátima Portela. Fortaleza: Edições UFC, 1994). Nossos são os principais capítulos e minha a coordenação, tendo o volume experimentado bom alcance nacional como compêndio didático para uso em disciplinas da grande área da Comunicação e da Ciência da Informação.
                    
À época, os estudos sobre o autor da Galáxia de Gutenberg encontravam-se, até então, um pouco olvidados pelos pesquisadores - ora em razão de críticas acerca da possível ausência de profundidade de seus conceitos, no mesmo passo em que era festejado por cientistas de várias partes do Globo, e às vezes por conta da fulguração das ideias de outros investigadores, a ensombrar a reverberação de suas ideações vanguardistas.
                    
E eis que o chamado Profeta de comunicação voltara à cena, retomando-se os estudos atinentes aos seus corajosos conceitos, como, por exemplo, o de que os meios de comunicação constituem extensões das pessoas – TV como desdobramento da visão, microfone feito desenredo da boca e da fala, a roda é o progresso dos pés, a pinça desenovela a mão et reliqua.
                    
Entre outras vantagens desde canadiano pioneiro no exame científico da Comunicação e docente bem retribuído financeiramente em universidades do Canadá e EEUU, Herbert Marshall McLuhan (Edmonton, 21.07.1911; Toronto, 31.12.1980) lobrigou a existência da rede mundial de computadores quase 30 anos antes de ser inventada, de modo que seus compreendimentos pertinentes ao Saber Comunicacional Ordenado ainda hoje restam revisitados por investigadores que cuidam de tal ofício, fato quiçá demonstrativo de suas reflexões terminarem dignas de convicção como insertas em área sistemática do conhecimento.



                    
Na contextura da reminiscência editorial, docente e literária ora manifesta, ocorrida há 20 anos, reporto-me ao motivo do evocado livro – O Termômetro de McLuhan, uma das compreensões do autor de Os Meios de Comunicação como Extensões do Homem - a Teoria da Temperatura dos Meios.
                      
Faço-o a fim de esposar a imaginação de ser provável a noção de jamais haver transitado pelo pensamento dos inventores de escalas de graduação térmica, René Antoine REAUMUR, William Thompson (Lorde KELVIN), Daniel Gabriel FAHRENHEIT e Anders CELSIUS, a possibilidade de que, num dia do brumoso futuro, seus instrumentos de precisar a temperatura dos corpos pudessem também mensurar a grandeza termodinâmica dos meios de propagação coletiva em equilíbrio na permuta de energia sob a  forma de calor.
                    
Ocorreu, pois, de isso ser concebido pelo pesquisador de Guerra e Paz na Aldeia Global, quando determinou que, sob o ponto de vista relacional emissor-receptor-decodificador, os media são quentes ou frios, na dependência de definição visoauditiva, bem assim de envolvimento dos agentes ligados comunicativamente.
                    
Ideias estranhas como essa, sustentadas em 15 livros, editados com o auxílio financeiro oficial dos Estados Unidos, compõem o recheio dos sistemas mcluhanianos, entretanto, debatidas, combatidas, apreciadas e, paradoxalmente, exorcismadas, isto, quem sabe, até por pretextos de laivo ideológico.
                    
O fato é que o Profeta da Era da Informação – a primeira pessoa a cuidar do exame da Comunicação em ultrapassagem às evidências do senso geral – retorna, paulatinamente, à baila – conforme adiantei há pouco – pois se compulsa outra vez a literatura produzida neste lato quanto volátil terreno das suas teorias, como a se pretender patentear, depois de um lapso de obscurecimento, a verdade relativa do fato ordenado ou a dobrez pseudocientífica – como exprimem alguns - de suas arrojadas e discutíveis intenções.
                      
Os autores tencionamos, pois, no ensejo da publicação, projetar no volume do qual agora faço nota a símile da necessidade de posicionamentos interdisciplinares, conforme seus capítulos de teores até agora vigentes, como a indigitar, à semelhança do ainda hoje consagrado autor de O Meio é a Mensagem, o estado da arte da Comunicação, aqui sobreposto às compreensões da Ciência da Informação, à espera do debate e até, dando-se o caso, da mudança do nosso entendimento como autores, no concernente ao ali exposto, feito resultado da sadia reflexão.
                    
Invito os leitores, neste lance, a incursionarem pela obra desse canadense célebre, com visão internacional, conquanto habite outra dimensão há 34 anos, quando poderão se louvar no ensejo para cotejar dele as reflexões, hipóteses e achados reais.
                    
Talvez seja prestadio referir ao fato de a obra mcluhaniana ser achadiça em Fortaleza, mormente nas bibliotecas e centros de documentação das universidades e escolas de formação superior, muito particularmente, no Centro de Humanidades da Universidade Federal do Ceará. Isto, fora de dúvida, constitui elemento coadjuvante de efetivação do contato primeiro ou repetida convivência com a produção do Vidente da Comunicação.
                    

Manifestamente, na leitura sugestionada, será necessário conceder os abatimentos imprescindíveis na comparação do período de suas escrituras em relação ao tempo fluente, de tanta tecnologia, de tão intensos e nítidos clarões de civilização no auge, no entanto e em tese, de sobrada esquisitice e barbaria dos comportamentos humanos, no respeitante à moral, à ética, à deontologia e ao que se aguarda de um reino animal (pretensamente) superior, in anima nobili, às vezes, porém, mais vili do que nobili.


*Vianney Mesquita 
 Docente da UFC 
Acadêmico Titular da Academia Cearense da Língua Portuguesa  
Acadêmico Emérito-titular da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo 
Escritor e Jornalista


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