sábado, 17 de junho de 2017

CRÔNICA - Sim ou Não? - Gesto de Grandeza (HE)


SIM OU NÃO?
Humberto Ellery*



O jornalista gaúcho (que em sua matrícula escolar constava como nascido no Uruguay) Apparicio Fernando de Brinkerhoff Torelly, que também assinava Apporelly, quando veio para o Rio trabalhar em jornais, se auto concedeu o título nobiliárquico de Barão de Itararé (referência à maior batalha campal da América Latina  que nunca chegou a ser travada).

Um dos mais brilhantes e criativos intelectuais da nossa imprensa, criador de frases memoráveis, como “quando um pobre come galinha um dos dois está doente”; “o casamento é uma tragédia em dois atos: um civil e outro religioso”; “tudo seria muito fácil, se não fossem as dificuldades”.

Certa vez, respondendo a uma prova oral do curso de medicina, que abandonou no quarto ano por questões não explicadas, o professor, tentando humilhá-lo por uma resposta errada, dirigiu-se a um bedel e pediu, em voz alta: Fulano, vá até a cantina e traga um feixe de capim! O nosso Apparicio completou: e pra mim um cafezinho! Comenta-se que ali começou o seu afastamento da Faculdade.

Durante a ditadura Vargas, Apporelli foi muito perseguido por ser comunista. Foi eleito vereador pelo Partidão, com o lema: “Mais leite e mais água para o povo; e menos água no leite!”.

Dividiu cela com Graciliano Ramos, de quem era amigo e correligionário, e está citado no monumental “Memórias do Cárcere”. 

Certa vez, durante um interrogatório, irritou tanto o policial que o interrogava, que este bradou: 

–  Seu Apparicio, responda apenas o que eu perguntei, pare com tantos subterfúgios e diga apenas sim ou não

O bravo jornalista respondeu: 

– Senhor Major, certas perguntas não podem ser respondidas com apenas um sim ou um não. Há que contextualizá-las.

O major discordou, afirmando que qualquer pergunta pode ser respondida simplesmente com um sim ou um não  – ao que o interrogado retrucou: 

– Posso fazer ao senhor uma pergunta para o senhor responder sim ou não? – perguntou humildemente o nosso herói. O major, cheio de raiva desafiou: 

– Faça! faça qualquer pergunta que eu responderei sim ou não.

O destemido jornalista tascou: 

– Major, o senhor acredita que sua esposa parou de lhe trair?

Foi quando levou a primeira mãozada. Pois é, são dessas perguntas capciosas que não podem ser respondidas que constam das mais de oitenta que o Fachin mandou para o Temer, e lhe concedeu 24 horas para responder; depois, condescendente, dilatou o tempo, mas as perguntas continuaram irrespondíveis, e versavam sobre quatro temas:

1. relativas à gravação clandestina que não foi periciada e é a pièce de résistance de todo o processo, mesmo não sendo aceita como prova em nenhum tribunal decente;

2. fatos anteriores ao mandato presidencial, portanto fora do alcance do processo;

3. questões de caráter pessoal (quem é Edgar?); e

4. questões referentes ao Rocha Loures, que está em outro processo.

Descobri hoje que o Fachin não é obrigado a responder aos questionamentos que alguns deputados aliados do Temer queriam lhe fazer. Mas eu farei as perguntas que me intrigam mesmo assim, ainda que conhecendo as suas respostas.

Lá vai:


1. Ministro Fachin, é verdade que o senhor certa vez atuou como advogado do Paraguay numa questão internacional contra o Brasil? (patriotismo é isso!).

2. Ministro Fachin, é verdade que o senhor participou ativamente da campanha presidencial, pedindo votos para a Dilma, se identificando como líder de “um grupo de juristas que têm lado, o lado do PT?"

3. Ministro Fachin, é verdade que o senhor advogou pelo MST, em questões de invasões de propriedades?

4. Ministro Fachin, é verdade que, para ser Ministro do STF,  o senhor foi pedir votos aos senadores de braços dados com o Ricardo Saud, tesoureiro e propineiro do Joesley Folgadão?

5. Ministro Fachin, é verdade que o senhor, já Ministro do STF, participou de um jantar na mansão do Joesley Folgadão em Brasília, que varou a noite, e pela manhã foi para Curitiba no Jatinho do criminoso?

6. Ministro Fachin, é verdade que o Joesley Folgadão cometeu 245 crimes, cuja prisão, na soma pelas penas máximas, chegam a 2.448 anos de cadeia?

7. Ministro Fachin, é verdade que o senhor mandou instaurar um processo contra o Presidente da República com base numa fita gravada clandestinamente, portanto sem nenhum valor em qualquer tribunal democrático?

8. Ministro Fachin, é verdade que o senhor se arvorou relator do Processo solicitado pelo Janot, quando, pelo Regimento Interno do STF, o relator deveria ser escolhido por sorteio?

9. Ministro Fachin, é verdade que, ao arrepio da Lei, o senhor concedeu Perdão Judicial ad aeternum ao criminoso Joesley Folgadão?


10. Ministro Fachin, por que o senhor é desse jeito?


GESTO DE GRANDEZA
Humberto Ellery*


O tucano FHC quando resolveu descer do muro, atrapalhou-se e acabou, açodadamente,  descendo do lado errado.

Sem querer entrar agora no mérito das acusações contra o Temer,  por enquanto eu as julgo infundadas, inconsistentes, e, consequentemente, injustas.

Se, durante o desenrolar do processo, surgirem provas graves e robustas contra ele, eu vou me permitir mudar de posição.

John Maynarde Keynes ensinou que “quando os fatos mudam eu também mudo de ideia”. Não tenho compromisso com a corrupção, mas com a Lei e seus direitos de defesa, contraditório, presunção de inocência e outros valores que, de forma paciente e prudente costumo assumir.

Já disse e vou repetir: embora eu defenda meus pontos de vista com paixão, construo minhas convicções com a razão.

Pois o sociólogo resolveu agora dar uma de golpista. Como convocar eleições gerais? Atropelando a Constituição?

É isso?

O Presidente da República tem esse poder?

Quem inventou uma reeleição para permanecer no poder além do tempo regulamentar tem moral para falar em Gesto de Grandeza?



Nenhum comentário:

Postar um comentário