quinta-feira, 8 de junho de 2017

CRÔNICA - Schadenfreude (RV)


SCHADENFREUDE
Reginaldo Vasconcelos*



Costuma-se dizer entre os lusófonos que não há tradução exata da palavra “saudade” em outros idiomas. Esse é um mito que não se confirma entre as curiosidades linguísticas, pois todos os idiomas têm uma forma simples de expressar essa específica nostalgia da distância, de pessoas ou coisas, geográfica ou temporal.

A palavra alemã “schadenfreude”, por sua vez, é tida como intraduzível, pelo seu significado complexo que não tem paralelo vocabular em nenhum dos dicionários de versão idiomática. Por isso mesmo é empregada por empréstimo pelos que falam ou escrevem em qualquer dos códigos linguísticos não germanos na grande Torre de Babel.

Significa um particularíssimo sentimento de regozijo com a desgraça alheia, comum a toda a humanidade, porém muito pouco confessado, porque denuncia certos instintos menores, certas pulsões menos nobres que apequenam a alma humana, como a perfídia e a covardia – refletidos em peças de humor como o personagem Amigo da Onça e o desenho do Pica-pau.

Shadenfreude é a “alegria do dano alheio”, aquele júbilo que costuma expressar o torcedor do Flamengo quando o Fluminense é derrotado, mesmo jogando contra outro time, e vice-versa, exatamente como ocorre com as torcidas de Fortaleza e Ceará, e entre outros rivais, seja no futebol ou fora dele.


Em português, poder-se-ia dizer que schadenfreude é o apanágio dos invejosos despeitados, dos frustrados e ressentidos, daqueles que a psicologia classifica como “complexados” – mas pode também ser apenas o corolário dos espíritos mais competitivos. Porém, pode provir da chamada “inveja negra”, aquela que leva os que, não tendo algo, desejam o mal aos que merecidamente o tiverem.

Mas a compreensão desse complicado conceito psíquico está hoje banalizada na política e na imprensa brasileiras. Gozam com a agonia petista os que sofreram por longos quinze anos a arrogância e a incúria dos “mortadelas”, a alegre boçalidade do Lula, a antipática e grotesca “presidenta” Dilma Rousseff.


Babam de prazer os que assistem à derrota do reino da incompetência hegemônica na administração pública nacional, no aparelhamento escancarado de instituições, pelo mesmo critério de mérito com que foi eleito ao Senado de Roma o cavalo preferido de Calígula.

Nessa linha comparativa, o País esteve entregue a um imperador lascivo, que se bacaneava em torno do Planeta, à custa do erário, com a sua protegida; ou a um Nero tresloucado, a tocar fogo nos dinheiros públicos para iluminar e aquecer miseráveis ditaduras esquerdistas mundo afora.

Enfim, as esquerdas naufragaram a República, que agora se agarra ao esquerdista Michel Temer, tábua de salvação que flutua por força da nossa Constituição Federal, mas que passa a ser execrado por seus antigos aliados, tido como culpado absoluto de todos os males do País.


Os zumbis esquerdistas não estão conformados com a sua obra incendiária, e lutam contra a direita, contra os “coxinhas”, contra as reformas, contra tudo, e agora entram em schadenfreude ao ser alvejado o seu ex-amigo Michel Temer, bem como ao ser abatido o seu arqui-inimigo Aécio Neves.

Pronto. Agora estamos todos felizes. Vamos todos afundar alegremente – uns cantando o hino da Internacional Socialista, outros entoando o nosso Hino Nacional. E que Deus se apiade de nossas almas!

   

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