MORRE J. CIRO SARAIVA
*Wilson Ibiapina
Hoje cedo, ao abrir o computador deparei-me com este
Email:
Prezado Wilson Ibiapina,
“Sou neto do Jornalista J. Ciro
Saraiva. Venho por meio deste comunicar-lhe o falecimento do meu avô Ciro
Saraiva nesta madrugada de sábado. O velório ocorrerá a partir das 14 horas na
Ternura, Aldeota - Fortaleza, e o sepultamento está previsto apenas para amanhã
de manhã, no Cemitério São João Batista.”
João Ciro Saraiva de Oliveira, mais conhecido
como Ciro Saraiva, nasceu em Quixadá. Começou na imprensa em 1953, no
jornal O Estado. Depois trabalhou no Correio do Ceará, O Povo e Tribuna do Ceará.
Foi radialista na Ceará Rádio Clube, na Dragão do Mar e na Radio Uirapuru.
Trabalhou
na TV Cidade e na TV Ceará. Foi secretário de Comunicação dos Governos Manuel
de Castro e Gonzaga Mota e fez parte da equipe de marketing da vitoriosa
campanha de Tasso Jereissati ao governo do Ceará, em 1986.
Em 2011
lançou o livro "No Tempo dos Coronéis”, em que relata os principais
fatos da política cearense durante a época do regime militar, do Governo de
Parsival Barroso, em 1960 à campanha de Tasso Jereissati, em 1986. Depois
escreveu "Depois dos Coronéis". Recentemente, vivia para fazer orações, escrever seus livros e
tratar da saúde.
Era
diabético e fazia a hemodiálise para ajudar no funcionamento dos rins, problema que o matou
nessa madrugada. Nos últimos anos deixou a religião católica, tornou-se
evangélico. Ele foi também O REI MOMO DO CEARÁ.
Do livro Dinastia de Momo,
do Jornalista Francisco Felix |
Quem encontrava ultimamente o circunspecto jornalista Ciro Saraiva era incapaz de imaginar que este senhor que gastava bom tempo de sua vida em
orações e em leitura da Bíblia, foi um dia o mais espirituoso, alegre e
divertido Rei Momo da história do carnaval de Fortaleza.
Essa passagem na vida do brilhante escritor, ele procurava esquecer por
achar o carnaval cada vez mais longe do povo, que essa “explosão cultural
popular virou coisa de rico marcada pela ferocidade do sexo, pela droga e pelo
dinheiro”, conforme ele assinala em seu livro “No Tempo dos
Coronéis”.
Mas tudo começou por causa do incidente que ocorreu no Country Club de
Fortaleza, onde hoje funciona hoje o restaurante Serigado, comandado pelo
cronista esportivo Sílvio Carlos.
Era o carnaval de 1961. O juiz de menores, Cândido Couto, recebeu
denúncia de que menores estavam participando da festa do Country, a
segunda-feira mais animada do carnaval cearense. O juiz mandou que a polícia
fosse lá retirá-los da festa. A tropa chegou no momento em que o Rei Momo Irapuan
Lima e sua corte visitavam o clube.
Edilmar Norões, que fazia parte da corte como cronista carnavalesco,
lembra da cena. Algum gaiato gritou para a polícia não prender o Rei Momo.
Irapuan Lima, indignado bradou: “O Rei é imprendível!”. A Polícia abriu fogo no
salão. O fotógrafo Vieira Queiroz, do Correio do Ceará, foi baleado e o Rei teve
que pular o muro para escapar dos tiros.
Depois dessa confusão o Rei Momo abdicou. O presidente da Crônica
Carnavalesca, Chico Alves Maia, entrou em campo para encontrar seu substituto.
Para alegria geral a escolha recaiu sobre um jornalista gordinho, recém-chegado de Quixeramobim. Com o nome de Cirão I, o novo Rei Momo se vestiu
de Nero e saiu às ruas, segundo ele, com “a disposição de tocar fogo no
Carnaval de Fortaleza”. Seu grito de guerra era “Vivo o Cão”.
Um dia, num baile no clube Iracema, Cirão sobe no palco e, ao lado do
comandante da Região Militar e do ministro Expedito Machado, proclama no
microfone: “O Rei, o Ministro e o General! Viva a irresponsabilidade!”.
Foi, sem dúvida, o mais animado e debochado Rei do Carnaval
cearense. Sua performance aumentava a alegria dos foliões. Só ia pra casa com o
sol raiando.
Não fez como aquele rei Momo do passado que foi destituído em plena
segunda-feira de carnaval. Foliões, que voltavam de uma festa às 6 horas
da manhã, flagraram o Soberano de pijama e comprando pão numa padaria.
A Rainha que acompanhava Cirão, Irani, era muito bonita e chegou a
provocar uma crise de ciúme na casa dele. Entre a Rainha do Carnaval e a Rainha
do Lar, o Rei optou pela Rainha do Lar. Inventou que estava doente e como já
era 1965, em plena ditadura militar, ele saiu-se com essa: “Só volto ao
carnaval quando houver condições de fazer alegria no Brasil”.
Do livro Dinastia de Momo, do Jornalista Francisco Felix
|
No carnaval seguinte o Rei já era o Javeh.
Ultimamente, o jornalista e escritor Ciro Saraiva vivia para Jesus, não ousava sequer repetir o brado de guerra que ele usava para incentivar seus súditos.
Considerava uma injuria a Deus.
Na verdade, nunca mais apareceu um Rei Momo tão espontâneo, carismático
que nem ele. O poeta Rogaciano Leite sentenciou um dia: “No Ceará só existiram dois reis: Luisão e Cirão. O resto é palhaço”.
Eu acho que o melhor mesmo foi o Cirão Primeiro e Único. Que Deus o
tenha.
*Wilson Ibiapina
Jornalista
Diretor da Sucursal do Sistema Verdes Mares de Comunicação em Brasília - DF
Titular da Cadeira de nº 39 da ACLJ
Jornalista
Diretor da Sucursal do Sistema Verdes Mares de Comunicação em Brasília - DF
Titular da Cadeira de nº 39 da ACLJ
NOTA DO EDITOR:
O jornalista Ciro Saraiva, em cargos de
direção e de editoria que ocupou em veículos de comunicação de Fortaleza,
concedeu a primeira chance na imprensa aos acadêmicos acelejanos Arnaldo Santos
e Reginaldo Vasconcelos, então iniciando respectivamente como radialista
profissional e como jornalista colaborador.
Na imagem, Ciro Saraiva acompanha o
trabalho do diagramador Paiva, na paginação da coluna Vida Moderna, assinada
por Reginaldo Vasconcelos, no suplemento semanal TC Revista que editava no extingo jornal
Tribuna do Ceará, em 1980.
Ciro foi alvo de homenagem por ocasião da
mais recente Assembleia Geral Ordinária da ACLJ, no auditório da ACI, em
23 de abril deste ano, quando lhe foi outorgada a Comenda Governador Parsifal
Barroso.
Já com a saúde muito debilitada, ele foi
representado na solenidade por seu neto, Jonas Sampaio, que recebeu a medalha e
o diploma em seu nome, das mãos do Acadêmico Benemérito Igor Queiroz Barroso.
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