quinta-feira, 25 de junho de 2015

CRÔNICA - Janis Joplin Canta Para Nós (ZZ)

Janis Joplin canta 
para nós
em bar de Copacabana
Zeca Zines*

Amigo querido o Jornalista cearense Wilson Ibiapina que reside em Brasília, vindo aqui pelo Rio de Janeiro, telefonou pra fazermos um tour de conversas e algumas bebidinhas em Copacabana. Saímos conversando e passeando a pé. Neste tempo soubemos que a grande cantora de blues Janis Joplin estava pelo Rio, e coincidentemente ou não encontramos uma pessoa que pensávamos ser ela, com um acompanhante.

Fato é que ao chegarmos na esquina da Avenida Atlântica com Princesa Isabel, entramos num bar / restaurante / show, e, na saideira, entra uma pessoa esfuziante e pega o microfone, com os cabelos revoltos e aquela voz rouca e maravilhosa. Muito semelhante a Janis Joplin, cantou à capela Summer Time, um de seus clássicos. A voz era idêntica demais, era perfeita. A saideira, tomaram-se várias. Não sei se nós já estávamos turvos, mas aplaudíamos como se estivéssemos assistindo a uma intervenção artística inusitada de JJ pelo Rio. Quando saímos ainda perguntei ao garçom: “É a Janis Joplin?” E o cara respondeu: Não sei, por aqui aparece tanta gente estranha...

Mas não acho de todo impossível que isto tenha de fato acontecido, basta ler uns trechos que o Jornal O Globo publicou em 2014: “Janis chegou numa sexta-feira pré-folia, na companhia de Linda Gravenites, que assinava os exuberantes figurinos usados pela cantora nos palcos. No curto período em que passou na cidade, ela assistiu aos desfiles das escolas de samba na Candelária, fez topless na Praia da Macumba, foi barrada num camarote do Theatro Municipal e deu canja em inferninhos da Zona Sul, além de beber vodca, Fogo Paulista e licor de ovo como se não houvesse amanhã”.

Ricky, que era fotógrafo da versão brasileira da revista “Rolling Stone”, encontrou Janis com a amiga perambulando sem rumo pelas areias da Praia de Copacabana. A musa do movimento hippie apareceu no Copacabana Palace sem marcar reserva e, segundo ele, foi expulsa do hotel depois de ter nadado nua na piscina.

Com seu cicerone brasileiro, Janis Joplin badalou pelo underground carioca. Numa noite, os dois foram parar na boate Bolero, inferninho frequentado por prostitutas e marinheiros que funcionava na Avenida Atlântica, na altura da Rua República do Peru. 

Logo que entraram, a cantora foi reconhecida pelo roqueiro Serguei, que naquela ocasião atacava de crooner, à frente de uma pequena orquestra. Na mesma hora, ele anunciou a presença “da maior cantora de todos os tempos” e a chamou para subir ao palco. O pedido foi aceito prontamente, mas Janis teve que cantar a capela, porque os músicos não faziam a menor ideia de como executar seu repertório.

O lugar era superfuleiro, tinha até basculante atrás do palco. Mas Janis detestava lugar da moda e então ficou muito à vontade. Foi impressionante. Quando ela terminou de cantar, todo mundo que estava lá mandou garrafas de bebida para a nossa mesa. Tomamos um senhor porre — diz Ricky.

Janis também soltou a voz na boate Porão 73, que ficava no Leme, a convite de Serguei. O roqueiro, hoje octogenário, conta que esbarrou de madrugada com a estrela no calçadão de Copacabana, agarrada ao americano David Niehaus, que ela conheceu no Brasil. Os três chegaram à porta da casa de shows às três da madrugada. Vestida com uma blusa, uma saia estampada no estilo cigana e uma faixa amarrada na cabeça, Janis por pouco não foi barrada pelo gerente da casa noturna — um português que, de acordo com Serguei, confundiu-a com uma mendiga. Lá dentro, ela levou a plateia ao delírio quando cantou um dos seus maiores clássicos, “Ball and Chain”, com um copo de vodca na mão”.

Pelo sim, pelo não, conversei muito tempo depois com Wilson Ibiapina pra saber se ele se lembrava, e se isto era verídico ou não. Perguntei: “Ibiapina, tire uma dúvida por gentileza: Foi com vc que ví a Janis Joplin cantar em um bar de Copacabana? Ela entrou embriagada no bar e cantou a capela Summer Time”. 

E o Ibiapina disse: “Foi não, mas pode espalhar que foi. Eu também estava de porre, lembra?” 

*Zeca Zines 
é o Compositor 
Ednardo
José Ednardo Soares Costa Sousa



NOTAS DO EDITOR:

1. Ednardo é um dos ícones da música brasileira dos anos 70, integrado ao movimento denominado “Pessoal do Ceará”, juntamente com Fagner, Belchior, Petrúcio Maia, Ricardo Bezerra, Fausto Nilo, Augusto Pontes, Rodger Rogério, Teti, Cláudio Pereira, dentre outros. Seus maiores sucessos são os maracatus Pavão Misterioso e Longarinas.

2. Jane Lyn Joplin foi uma excepcional cantora americana dos nos 60, musa do movimento hippie, que morreu de overdose aos 27 anos de idade. Depois dela, pelos mesmos excessos, morreu no Brasil Elis Regina, por sua vez a rainha da MPB na década de 70, e depois Cássia Eller, talentosíssima interprete de rock. Na sequência, a inglesa Wine Winehouse.  

Um comentário:

  1. Agradecido aos amigos da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo, pela publicação desta minha crônica.
    Abraços do Ednardo

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