Janis
Joplin canta
para nós
para nós
em
bar de Copacabana
Zeca Zines*
Amigo
querido o Jornalista cearense Wilson Ibiapina que reside em Brasília, vindo
aqui pelo Rio de Janeiro, telefonou pra fazermos um tour de conversas e algumas bebidinhas em Copacabana. Saímos
conversando e passeando a pé. Neste tempo soubemos que a grande cantora de
blues Janis Joplin estava pelo Rio, e coincidentemente ou não encontramos uma
pessoa que pensávamos ser ela, com um acompanhante.
Fato
é que ao chegarmos na esquina da Avenida Atlântica com Princesa Isabel,
entramos num bar / restaurante / show, e, na saideira, entra uma pessoa
esfuziante e pega o microfone, com os cabelos revoltos e aquela voz rouca e
maravilhosa. Muito semelhante a Janis Joplin, cantou à capela Summer Time, um
de seus clássicos. A voz era idêntica demais, era perfeita. A saideira, tomaram-se várias. Não sei se nós
já estávamos turvos, mas aplaudíamos como se estivéssemos assistindo a uma
intervenção artística inusitada de JJ pelo Rio. Quando saímos ainda
perguntei ao garçom: “É a Janis Joplin?” E o cara respondeu: “Não sei, por aqui
aparece tanta gente estranha... ”
Mas
não acho de todo impossível que isto tenha de fato acontecido, basta ler uns
trechos que o Jornal O Globo publicou em 2014: “Janis chegou numa sexta-feira pré-folia, na companhia de Linda
Gravenites, que assinava os exuberantes figurinos usados pela cantora nos
palcos. No curto período em que passou na cidade, ela assistiu aos desfiles das
escolas de samba na Candelária, fez topless na Praia da Macumba, foi barrada
num camarote do Theatro Municipal e deu canja em inferninhos da Zona Sul, além
de beber vodca, Fogo Paulista e licor de ovo como se não houvesse amanhã”.
Ricky,
que era fotógrafo da versão brasileira da revista “Rolling Stone”, encontrou
Janis com a amiga perambulando sem rumo pelas areias da Praia de Copacabana. A
musa do movimento hippie apareceu no Copacabana Palace sem marcar reserva e,
segundo ele, foi expulsa do hotel depois de ter nadado nua na piscina.
Com
seu cicerone brasileiro, Janis Joplin badalou pelo underground carioca. Numa noite, os dois foram parar na boate
Bolero, inferninho frequentado por prostitutas e marinheiros que funcionava na
Avenida Atlântica, na altura da Rua República do Peru.
—
O lugar era superfuleiro, tinha até
basculante atrás do palco. Mas Janis detestava lugar da moda e então ficou
muito à vontade. Foi impressionante. Quando ela terminou de cantar, todo mundo
que estava lá mandou garrafas de bebida para a nossa mesa. Tomamos um senhor
porre — diz Ricky.
Janis
também soltou a voz na boate Porão 73, que ficava no Leme, a convite de
Serguei. O roqueiro, hoje octogenário, conta que esbarrou de madrugada com a
estrela no calçadão de Copacabana, agarrada ao americano David Niehaus, que ela
conheceu no Brasil. Os três chegaram à porta da casa de shows às três da
madrugada. Vestida com uma blusa, uma saia estampada no estilo cigana e uma
faixa amarrada na cabeça, Janis por pouco não foi barrada pelo gerente da casa
noturna — um português que, de acordo com Serguei, confundiu-a com uma mendiga.
Lá dentro, ela levou a plateia ao delírio quando cantou um dos seus maiores
clássicos, “Ball and Chain”, com um copo de vodca na mão”.
Pelo
sim, pelo não, conversei muito tempo depois com Wilson Ibiapina pra saber se
ele se lembrava, e se isto era verídico ou não. Perguntei: “Ibiapina, tire uma dúvida por gentileza: Foi
com vc que ví a Janis Joplin cantar em um bar de Copacabana? Ela entrou embriagada
no bar e cantou a capela Summer Time”.
E
o Ibiapina disse: “Foi não, mas pode
espalhar que foi. Eu também estava de porre, lembra?”
José Ednardo Soares Costa Sousa
NOTAS DO EDITOR:
1. Ednardo é um dos ícones da música brasileira dos
anos 70, integrado ao movimento denominado “Pessoal do Ceará”, juntamente com
Fagner, Belchior, Petrúcio Maia, Ricardo Bezerra, Fausto Nilo, Augusto Pontes,
Rodger Rogério, Teti, Cláudio Pereira, dentre outros. Seus maiores sucessos são
os maracatus Pavão Misterioso e Longarinas.
2. Jane Lyn Joplin foi uma excepcional cantora
americana dos nos 60, musa do movimento hippie, que morreu de overdose aos 27
anos de idade. Depois dela, pelos mesmos excessos, morreu no Brasil Elis
Regina, por sua vez a rainha da MPB na década de 70, e depois Cássia Eller,
talentosíssima interprete de rock. Na sequência, a inglesa Wine Winehouse.
Agradecido aos amigos da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo, pela publicação desta minha crônica.
ResponderExcluirAbraços do Ednardo