terça-feira, 29 de janeiro de 2019

ARTIGO - Para a Esquerda ou Direita? (ES)


Para esquerda ou direita?
Edmar Santos*


Por uma análise apartidária, pode-se verificar que nas vertentes políticas que destoam em seus discursos, principalmente no critério econômico e de relações sociais; uns pregando meritocracias outros assistencialismos, não se distam no que concerne ao mesmo objetivo: o poder.

Tentam e esforçam-se para demonstrar e convencer a opinião geral, ou pelo menos da maioria garantidora de suas intenções, que a realidade ora vivenciada ao tempo de suas retóricas – a depender do poder vigente – é melhor ser mantida, se é argumento de quem está no poder ou, melhor ser descartada, se o argumento é de quem representa a oposição. Tudo é ideologia em busca do poder – seja de denominação esquerda, direita, situação, oposição, centro – por mais que nas ações de afirmação do próprio poder uma parcela ou outra da sociedade seja beneficiada e outra acalentada, alguma parte do todo social será descartada, a depender da linha vencedora.

Ora, o próprio termo ideologia, como se pode encontrar em Marilena Chauí (1980), foi usado primeiramente em 1801 por um grupo ideólogos franceses que eram antiteológicos, antimetafísicos e antimonárquicos, mas eram pertencentes a um partido de vertente liberal. Os ideólogos foram partidários de Napoleão e apoiaram o golpe de 18 Brumário, pois o julgava um liberal continuador dos ideais da Revolução Francesa. (...) Enquanto Cônsul, Napoleão nomeou vários deles como senadores ou tribunos. (...) Todavia, logo se decepcionaram com Bonaparte, vendo nele o restaurador do Antigo Regime. Opõem-se às leis referentes à segurança do Estado, são por isso excluídos do Tribunado, e sua Academia é fechada. Uma oposição política.

Não é de causar espanto que, nessa refrega de ideologias, fatos sociais sejam utilizados como propaganda de ratificação das benesses que supostamente estão sendo oferecidas ao corpo social. Podem surgir, para ratificar a política de algum “grande irmão”, nas palavras de George Orwell (1903 – 1950), manchetes de um filho de cortador de cana, negro, que “por mérito” próprio conseguiu se formar em medicina e se destacar da realidade dos que com ele compartilham a pobreza, porém, o “sistema está aberto a todos”; ou conseguiu, não obstante seu esforço individual, acessar à Universidade em um curso elitista, “graças a um programa de cotas oferecido pelo governo” porque a *dívida social com  população negra é histórica. O referencial é de quem escolhe.

De fato, em relação a políticos e política com suas vertentes ideológicas, sempre apoiados por ideólogos que formatam conceitos com base científica e propõem tendências, o que se constata é que quase não há uma perspectiva das palavras de Platão (428/427 – Atenas, 348/347 a.C.)  em seu A República, quando narra um ensinamento de Sócrates aduzindo que “um governante autêntico não deve visar ao seu próprio interesse, mas ao do governado”. Frente às realidades vivenciadas na sociedade exposta nas páginas da história, muito mais comum de se verificar é sua outra lição que diz: “os homens honrados não querem governar, nem pela riqueza nem pela honra; porque não querem ser considerados mercenários exigindo abertamente o salário correspondente à sua função, nem ladrões, tirando dessa função lucros secretos.

Regimes políticos atraem adeptos de acordo com a manutenção de suas zonas de conforto e alienação através das propagandas apresentadas nas mídias como na “teletela” de Orwell. São acalentados com a manutenção do status quo que lhes garante a conservação do “seu quadrado”. Aos contrários fomenta-se o combate, a “fiscalização do pensamento” e o expurgo, nesse caso a prisão e, em alguns casos e lugares, até a morte.

As transformações das relações sociais dos últimos séculos direcionam as pessoas ao mergulho nos acontecimentos do agora (reality shows, programas policiais, etc.), amplamente e intencionalmente – talvez em nome do mercado, ou da política, ou de ambos – e distancia a maioria dos membros da sociedade das reflexões sobre os acontecimentos passados e das perspectivas sobre futuro.

Na atualidade se presencia uma liquidez das relações e a criação de um contexto de ignorância provocada, como constata Slavoj Zizek (2009) se tem hoje “a sociedade capitalista que vive numa era de incentivo à satisfação de todos  os possíveis prazeres, onde o imperativo é “Goze, você deve gozar!”, onde a política perdeu seu caráter ideológico e preocupa-se apenas com a regulação da jouissance (gozo) e o sujeito corre perigo de desaparecer, seja por causa da ideologia capitalista, seja por causa das possíveis descobertas cientificas. E a complexidade do mundo virou disciplina para os dominantes escolhidos. Capitalistas ou não.

O fato é que, no que aponta Yuval Arari (2018), o mundo está ficando mais complexo, e as pessoas não se dão conta de quão ignorantes são. E prossegue: “Pessoas raramente contemplam sua ignorância, porque se fecham numa câmara de eco com amigos que pensam como eles e com feeds de notícias que se autoconfirmam, fazendo com que suas crenças sejam constantemente reiteradas e raramente desafiadas. Tudo que os que controlam o poder querem e precisam para manipular.

No que concerne à equidade social, ser uma “utopia” de muitos (a maioria) sem representatividade, não importa a vertente política, ou a ideologia, ou a lógica administrativa dominante da sociedade. Se prevalecer a teoria da evolução de Charles Darwin (1809 – 1882) os mais fortes é que se adaptarão aos novos tempos, suas tecnologias disruptivas e suas novas formas de fazer política e controle social. O futuro dirá.


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