sábado, 26 de dezembro de 2015

CRÔNICA - Joga Pedra na Geni! (HE)


“JOGA PEDRA NA GENI !”
 Humberto Ellery*

Alguém, não lembro quem, me alertou para um absurdo ocorrido na madrugada do Leblon, na saída de um bar (saudades de Ipanema!).

Alguns coxinhas* de direita teriam hostilizado o grande artista Chico Buarque, pelo simples fato de ser ele petista. Por essa informação, ainda meio truncada, imediatamente concordei: qualquer agressão é absurda e intolerável, principalmente se o motivo for decorrente de divergências políticas, que devem ser discutidas em nível elevado e com argumentos plausíveis.

Cheguei em casa e fui direto para o YouTube: o que eu vi foi uma discussão tola, muito corriqueira, entre frequentadores da noite, depois de alguns birinaites.  Nada demais. Um bate-boca, em termos até educados, para um grupo naquele estado etílico.

Um dos coxinhas, em tom de lamento, chega a ser até amigável ao dizer: “Pô, Chico, todo mundo era teu fã!”. Seria isso uma agressão? Eu, pessoalmente, já fui muito mais insultado de fascista, nazista, idiota, fora termos mais suaves como tucano, direitista odiento, antipetista raivoso, reacionário, o escambau.

E eu não sou nada disso. Não discuto política com o fígado, mas com o cérebro.  Raiva, eu prefiro provocar a sentir, que é mais gostoso! Mas fiquei estarrecido com a falta de argumentos de alguém, tido por alguns como um gênio, quando um dos coxinhas da discussão diz que o PT é bandido (uma generalização inaceitável, embora próxima da realidade).

O gênio respondeu: “E o PSDB?”. Pelamordideus! Eu esperava mais do grande gênio. Que falta de argumentos, que infantilidade! Parece coisa de menino: “Meu pai é feio, mas o teu também é!”.

Mas eu deveria já estar preparado para isso, raciocinando a partir de sua incensada subliteratura, com seus “merecidos” prêmios Jabutis. O tal “Leite Derramado”, não consegui passar do terceiro capítulo; enfadonho, chato. Mandei pra frente, no primeiro “amigo secreto”.  E olha que adoro livros. Livros, bien sûr.

Mas continuo admirador de obra musical do Chico Buarque – apesar de bobagens como a recente “Mulher sem orifício”. Como disse Charles De Gaulle, a propósito da covardia do velho herói da I Guerra, o Marechal Petain: “A velhice é um naufrágio...”

O fato de ter o Chico um apartamento em Paris, a que o grupo que o abordou se referiu, mais precisamente no exclusivíssimo endereço da Île de Saint-Louis (cinquenta mil euros por metro quadrado), não interessa a ninguém. O dinheiro que ele amealhou foi legítimo, honestamente adquirido, pessoas compram ingressos caríssimos para suas apresentações, compram seus discos, compram até seus “livros”(argh!).

O inaceitável é usar dinheiro do povo para promover a tradução de um de seus livros para o coreano; é receber R$ 4,4 milhões da Lei Rouanet para fazer um filme de autolouvação; é intermediar para conseguir com a mesma lei R$ 800 mil para uma tourné de sua jovem namorada, mais R$ 1,5 milhões para um projeto musical do genro Carlinhos Brown. Isso é tirar dinheiro da saúde pública, da educação, da segurança, e doar para os “amigos do rei”  – um Robin Hood às avessas.

NOTA DO EDITOR:

*Coxinha é um termo pejorativo, usado na gíria e que serve para descrever uma pessoa “certinha”, “arrumadinha”. Tendo a sua origem em São Paulo, a palavra coxinha quase sempre tem sentido depreciativo, e indica um indivíduo conservador, que é politicamente correto e que se preocupa em adotar comportamentos que são aceitos pela maioria das pessoas.   

DUETO
Chico Buarque

Consta nos astros, nos signos, nos búzios/
Eu li num anúncio, eu vi no espelho, tá lá no evangelho, garantem os orixás/
Serás o meu amor, serás a minha paz/

Consta nos autos, nas bulas, nos dogmas
Eu fiz uma tese, eu li num tratado, está computado nos dados oficiais/
Serás o meu amor, serás a minha paz/

Mas se a ciência provar o contrário, e se o calendário nos contrariar/ 
Mas se o destino insistir em nos separar/

Danem-se os astros, os autos, os signos, os dogmas/
Os búzios, as bulas, anúncios, tratados, ciganas, projetos/
Profetas, sinopses, espelhos, conselhos/
Se dane o evangelho e todos os orixás/
Serás o meu amor, serás, amor, a minha paz/

Consta na pauta, no Karma, na carne, passou na novela/
Está no seguro, pixaram no muro, mandei fazer um cartaz/
Serás o meu amor, serás a minha paz/

Consta nos mapas, nos lábios, nos lápis/ 
Consta nos Ovnis, no Pravda, na Vodca.../

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