quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

CRÔNICA - De Boca Aberta (RV)


DE BOCA ABERTA
Reginaldo Vasconcelos*


Enquanto inicia um tratamento de canal o dentista Marcos Maia Gurgel, a propósito de termos provavelmente de voltar ao voto em papel nas eleições, nos conta sobre o velho eleitor sertanejo que, após marcar o candidato na chapa de votação, em vez de sufragá-la, por nervosismo, colocou-a no bolso da camisa, e foi saindo.

Um mesário da sessão eleitoral percebeu, chamou-o e lhe recomendou inserir a “chapa” na urna. O velho retirou então a dentadura e esbravejou: “Eu bem sabia que essa bondade era só até as eleição!”.

Contou ainda, na sequência, o Dr. Marcos, do sujeito que tanto insistiu e incomodou o padre da paróquia, que lhe doasse o curió que possuía, o único da cidade, que o velho pároco não resistiu às suas instâncias e finalmente, para se ver livre dele, depois de meses de insistência, lhe cedeu o estimado passarinho.

Tempos depois uma moça revelou ao padre confessor que seu noivo estava insistindo muito para anteciparem as intimidades sexuais antes da celebração do casamento, marcado para meses à frente, mas que ela vinha resistindo, para não pecar contra a castidade.

O padre então respondeu à sua confidente: “Por acaso seu noivo tem um curió? Então, minha filha, dê logo o que ele quer, porque você não vai resistir à chateação por tanto tempo”.

Lá pelo terceiro procedimento odontológico ele lembra a história da menininha levada ao consultório para a extração de um dente de leite, que já amolecera e não caíra, e a mãe não tinha coragem de puxar. Depois a mãe contou que, ao chegar a casa, a pequenina contou ao pai: “O dentista é velhinho... mas tem uma força!!!”.

E emendou com o caso do velho matuto que o procurou com aguda dor de dente, no final de uma tarde de sexta-feira, no posto de saúde municipal da cidade em que ele servia na época, a 200 quilômetros desta Capital em que reside. A atendente protestou, que era final de expediente e que ela não ia auxiliar aquele atendimento.

Dr. Marcos então argumentou que seria uma maldade deixar aquele pobre homem transido de dor por todo o final de semana, com infecção do dentiqueiro careado, e a convenceu a permanecer no atendimento. E a luta durou até às sete da noite, depois de muito solavanco para extração daquele siso de velhas raízes contorcidas.

Na saída, o velho encontrou na porta do posto de saúde o motorista que esperava o dentista para conduzi-lo a Fortaleza, e cuidou de justificar a demora: “O Dr, é muito bom. O dente é que era bonequeiro”.

Aliás, os velhos sertanejos que o dentista conheceu são personagens recorrentes de suas histórias mais jocosas. Um deles, em um distrito remoto, teve um choque anafilático ao receber a anestesia, entrou a debater-se tanto que caiu da cadeira, rasgou a camisa, espalhou utensílios e material odontológico por todo o consultório.

Uma velha local, que estava improvisada de atendente, ao ver o paciente arquejando no chão, olhou para o Marcos e sentenciou: “Doutor, aí só outro!”. Felizmente o homem tornou, para revelar tranquilamente que aquela era a terceira vez que ele fazia “desmantêlo” em consultório de dentista.



NOTA DO EDITOR:

Marcos Maia Gurgel é dentista e advogado, natural de Limoeiro do Norte, nobre cidade cearense da região jaguaribana. Membro Honorário da ACLJ, Marcos é poeta e cronista de finíssima inspiração.
     
      

Nenhum comentário:

Postar um comentário