COMENTÁRIOS À
FRASE DO DIA
Vianney Mesquita*
A paciência, repetidamente provocada, decerto, se
transformará em fúria. (Publílio Siro).
Absolutamente
oportuna e vergonhosamente veraz é esta sentença sugerida pela imprensa
nacional, subsidiariamente estendida pela nossa Editoria, para retratar o
Brasil ora vigente, quando despudorados catilinas, poucos, felizmente, do
universo de 513 deputados à Câmara Baixa do País – e põe “baixa” nisto – se
esmurram e permutam palavras de calão reles, como se representantes fossem de
uma laia semelhante à sua, fato a não se coadunar conosco, os nacionais que, em
pecaminoso equívoco, os elegemos em pleito democrático.
Sem
querer, tampouco necessitar, entrar no mérito – corrijo, demérito, da estória – pois o País inteiro assiste, e o estrangeiro
em peso acha graça de nós, vou somente, com vistas a facilitar para o leitor a
descodificação da sentença oferecida a fim de fotografar o dia, trazer achegas
informacionais às renomeadas indagações de Cícero, fartamente mencionadas pelos
registos históricos. Eis as duas primeiras interrogações: Quosque tandem abutere, Catilina, patientia nostra? Quam diu etiam
furor iste tuus eludet?
As
muito historicamente conhecidas Catilinárias,
as quais concederam a Marco Túlio Cícero o título de Pai da Pátria, constituem um conjunto de quatro orações expressas
contra Lucius Sergius Catilina – a primeira e a derradeira dirigidas ao Senado
Latino, e as do meio diretamente ao povo romano.
As
duas ora reproduzidas na língua do Lacio, falada no então Império Latino –
depois código de expressão das Ciências até época relativamente próxima –
traduzem-se em: Até quando, Catilina,
abusarás da nossa paciência? E Por
quanto tempo tua loucura haverá de zombar de nós?
Lúcio
Sérgio Catilina foi il capoccia de uma conjuração para chegar à
República, na Cidade Eterna, no ano 63 a.C. Destemido, audacioso e arrojado,
porém desprovido de consciência, dirigiu a conspiração contra o Senado (SPQR – Senatus Populusque Romanus, denominação
oficial do Império), em cuja maquinação incluía as pessoas e autoridades mais
depravadas daquele senhorio despótico.
A
trama foi, então, denunciada por Cícero que, na qualidade de cônsul,
desmantelou a estratégia de Catilina, tendo conduzido à condenação os seus
sequazes, consoante proposto por Catão de Útica, o Jóvem, descendente de Catão,
o Antigo.
Lucius
Sergius Catilina morreu de armas em punho, na cidade de Pistoia, região da
Toscana (Itália) – vinculada à História Nacional, pelo fato de ali terem sido
sepultos em dos cemitérios os corpos de componentes da FEB – Força
Expedicionária Brasileira, que pelejaram na Segunda Guerra Mundial, na aleia
dos chamados Aliados contra o Eixo RO-BER-TO – Roma, Berlim e Tóquio.
A
relação procedida com Cícero, Catilina e as Catilinárias para nominar a operação da Polícia
Federal brasileira reside no fato de haver Lucius Sergius restado para o enredo
histórico da Humanidade como o protótipo do conspirador, de sorte que o seu
nome é, ainda hoje, empregado para qualificar negativamente os que tendem a
conquistar fortuna e poder, por todos os meios, ao afundar na desdita a própria
Alma Parens, consoante sucede agora
no Brasil.
Acresce
referir, por curiosidade, a ideia de o mencionado evento haver transposto à
História, em razão – além da sua relevância fática como ocorrência altamente
representativa do passado – da preeminência experimentada pelo Latim como língua
culta, cujo emprego consumiu longo tempo feito código da manifestação
científica em todo o Mundo, bem assim, utilizado como expediente comunicativo
da Igreja Católica, detentora de enorme poder, grande até a atualidade.
De
tal maneira, as obras eruditas, expressas na codificação românica, consoante
ocorreu com os dois pares de Catilinárias,
inda são (bem menos, porém, do que dantes) exercitadas em escolas de vários
países, como teores de matérias jungidas ao Latim, o qual, por meio de
bestuntos tão estreitos de nossas então “autoridades” educacionais, sobrou
retirado dos nossos curricula,
trazendo imenso prejuízo, no Brasil, ao aprendizado da Língua Portuguesa. É o
caso de também se perguntar – Quosque
tandem?
Por
conseguinte, continuemos todos a indagar, até se chegar a um modus faciendi para a conclusão de um
estado crítico tão indecoroso – emoldurados pelo célebre afresco de Cesare
Maccari (Cícerone denuncia Catilina – 1888), reproduzido pela Editoria deste
“blog”.
–
Quosque tandem?
Em vez de quosque, quousque.
ResponderExcluirVM.