O ENGRAXATE E OUTROS SUICIDAS
Vianney Mesquita*
Os livros são os túmulos dos que não podem morrer. (Robert
William Chambers, novelista e contista ianque. *Brooklin-NY, 26.05.1865; + New York City,
16.12.1933).
Na contextura das letras de ficção, é notório o fato de o
gênero conto ser havido como casta bastante difícil de ser trabalhada pelo
escritor, máxime por se tratar de história relativamente curta e completa, com,
obrigatoriamente, exórdio, meio e fim. Esta grade composicional solicita de seu
criador bem mais engenho, em cotejo com outras espécies de manifestação
literoartística.
O exercício da prosa ficcional por intermédio desses gimmics requer aprimorada prontidão
intelectual, mais sutileza do autor, habilidade e talento.
Repele a intenção de escritores menos aparelhados
intelectivamente de se aventurarem pelos seus recintos e meandros, em razão do
balizamento imposto pelas instâncias requisitadas por tal espécie de entrecho,
pressuposto de inteligência e gênio inventivo, dotes não disponíveis aos
frequentadores da tão conhecida “vala comum”.
Assentirá, por certo, o leitor na ideia destas anotações,
ao deparar as peças do causeur de O Engraxate e Outros Suicidas, do noviço
(mas expedito) escritor Antônio Carneiro Mendes Jr. Sua feição restou docentemente planeada pelo meu saudoso mestre na
U.F.C., José Alcides Pinto (Y São Francisco do Estreito –Santana do Acaraú, 10.09.1923; † Fortaleza, 02.06.2008), em veros e alentados comentários, aportando ao livro
real diploma de valor. Convenhamos na ideia de que, do elevado de seu patim
literário, o multipremiado autor de O
Dragão (opus magnum, para mim)
não haveria de deitar ponderadas e tão bastantes apreciações, não fosse o
alcance artístico das peças aqui por ele comentadas.
Mendes Junior, por conseguinte, cuidou de homenagear o
gênero conto, em seus espaços e comissuras, porquanto este, além de
relativamente breve e exato, admite somente um conflito, ação singular, sem os
desdobramentos acolhidos, exempli gratia,
pelos romances e novelas.
Ordinariamente, a beleza da composição se encontra numa
ambiência limitada a uma quantidade mínima de personagens, devendo-se costurar
seu argumento em certa unidade temporal.
A esses pressupostos o autor prestou obediência, até respeitando seu
comparte na outra ponta da comunicação, não lhe adiantando, por mera
gratuidade, inferências óbvias, nem lhe atropelando a indústria interpretativa.
De tal sorte, diviso nos textos de Mendes Junior a
propriedade em relação ao gênero e a inventiva do escritor em decurso de
maturação no treino literário. Em tudo isso é assistido pela permanente
atualização fatual, sem, entretanto, descurar da informação já acumulada em
excepcionais leituras – comportamento que a ele confere, de plano, o perfil de
excelente autor, na expectação de mais e tão bem tramados argumentos, a fim de
granjear admiradores apostos no seu mesmo plano imaginativo e decodizante.
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