GERÚNDIOS
DE VIVER E AMAR
Acerca da Pessoa e de um Livro de
Carlos Fernandes Gurjão
Vianney
Mesquita*
Não é o acaso, decerto, outra
coisa senão o pseudônimo de Deus, quando Ele não quer assinar. (Theóphile
Gautier, 1811-1872).
Em tempo bastante recuado, na metade da década de 1960, provei
do agrado de travar conhecimento com o Dr. Carlos Fernandes Gurjão, ambos como
discentes do Curso de Jornalismo para Principiantes (1), organizado e executado
pela Professora Doutora Adísia Sá, sob os auspícios da ACI, antes se tornar o
Curso de Comunicação Social, programa de graduação de grande prestígio da
U.F.C., fundado por Adísia Sá.
Naquela ocasião, hoje assaz remota, experimentei da agradável
companhia desta pessoa, na apreciação dos seus qualificativos intelectuais e
lhaneza de tratamento, como jovem de educação esmerada, de futuro promissor,
fato a se comprovar pouquíssimo tempo depois, quando o Dr. Gurjão se fez
facultativo pelo Curso de Medicina da mencionada Academia.
Um lapso enorme, mais de quatro decênios, apartou nossa hígida e
desinteressada convivência, cada qual tomando rumo próprio, sequenciando nossos
misteres profissionais em espaços díspares, sem jamais nos avistarmos, mercê
dos campos funcionais, distintos e distantes. Tal situação restou adjuvada pela
evolução de Fortaleza, com inusitado crescimento demográfico e excepcional
medrança social, ao ponto de se haver tornado a quinta urbe do País.
Conforme exprime o notável romântico francês Theóphile Gautier,
certamente, a eventualidade não é outra coisa a não ser o pseudônimo do
Criador, quando Ele não quer assinar. Isto porque, numa circunstância especial
de havermos sido convidados (eu e minha mulher, Socorro Mesquita), por meu
irmão – médico, como o Dr. Carlos Fernandes Gurjão – Fernando Antônio Mesquita,
estivemos presentes ao Encontro Anual da Sociedade São Lucas, sodalício de
facultativos católicos do Ceará, aberto a componentes das famílias dos
associados, em 2008, ocorrido em Guaramiranga-CE.
Esse acaso nos depôs, novamente, em contato, evento venturoso
para mim – o de reeditar a interrompida amizade.
Agora, pois, uma vez reformado por jubilação trabalhista – eu
também – ele se entrega à contemplação das coisas do espírito, ao cultivar com
inteligência e beleza estilística, além da religião, o texto-prosa e a poesia, fluxo espontâneo de poderosos sentimentos,
cuja origem está na emoção relembrada na tranquilidade, consoante é
magnificamente expresso pelo romantismo de William Wordsworth (Y
07.04.1770 – † 23.04.1850),
e a calhar muito bem na personalidade do
escritor sobre o qual escolio.
O autor de Vivendo e
Amando, sem duvida, com a decisão de escrever, aflui à reflexão de Jean
Richepin, médico militar (Argélia, Y 04.02.1849;
†
2.12.1926), para quem os poetas são pobres crianças, ao se distraírem fazendo
bolhas de sabão com suas lágrimas, entendendo ser, ainda, a poesia a eles
necessária, consoante sucede com todos os homens, pois quem não gosta de versos
conserva um espírito seco e pesado, hajam vistas serem os versos, na realidade,
a música da alma. E nisto o Dr. Carlos Gurjão é um virtuoso.
E a vida deste poeta – tranquila, cordata, amorosa e benfazeja –
é vera poesia, a qual, na sua acepção
ampla, é o antever de muito longe, o ousar denodado, o cravar os olhos no sol do
ideal sem trepidar e ver no homem, tão claramente como o corpo pedindo pão e
vestido, um espírito exigente de luz e um coração somente de amor refestelado,
na exata configuração de Antônio Feliciano de Castilho.
De parabéns o autor e a literatura por mais esta produção, cujo
influxo o leitor pode comprovar ao se regozijar com sua leitura.
(1) Fizeram, também, parte desse curso, além do Dr. Gurjão, os
imortais da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo, Paulo Maria Aragão e
Antônio Vicente de Alencar.
*Vianney Mesquita
Docente da UFC
Acadêmico Titular da Academia Cearense da Língua Portuguesa
Nenhum comentário:
Postar um comentário