LIÇÕES DE UM VELHO JORNALISTA
Wilson Ibiapina*
Ele é a cara do Jornal
do Brasil. O jornal carioca já se foi das bancas mas ele continua na ativa. A
primeira vez que ouvi seu nome foi pronunciado por Tarcísio Holanda, que tem
uma admiração profunda por sua competência. Wilson Figueiredo, Wilson Charuto (por causa do vício) ou simplesmente Figueiró, é um marco na história da
imprensa.
Na entrevista que
concedeu a Paulo Chico, publicada no jornal da ABI, Wilson Figueiredo analisa o
cenário da imprensa, fala de sua trajetória e do amor ao texto. Diz que o
jornalismo é um exercício literário.
Poeta por vocação,
trocou a carreira literária pelo jornalismo. Nascido no Espirito Santo, a
exemplo do gaúcho Mauro Santayana, do piauiense Carlos Castelo Branco ou do
baiano Sebastião Nery, Wilson Figueiredo começou na imprensa mineira.
Ele diz que se sente mineiro, “pois Minas é um vício”.
Quando começou em 1944
na redação do Estado de Minas não existia curso de jornalismo. Desistiu de
fazer Medicina e foi fazer jornalismo na redação. Lembra que era diferente.
Tinha menos redatores e mais material. Recebia informação de agência e fundia
tudo em matéria.
Depois foi para O Jornal, no Rio e em seguida no Jornal do
Brasil, onde ficou famoso como colunista e editorialista. Quando começou não
havia curso, quanto mais diploma de jornalista. Acredita que o jornalismo de
hoje só foi possível porque usou como mão de obra jornalistas que fizeram curso
e chegaram com o diploma. Palavas dele: “Essa mania de combater o diploma não
quer dizer nada. Talvez alguns precisem disso em um país de precário nível
social. Mas o jornal precisa do repórter que saí, que vai para a rua e sabe do
que está falando- sabe que é uma profissão. Os cursos de Jornalismo fizeram um
bem enorme para a profissão. Acabar com a exigência do diploma, na verdade,
apenas desestimula o jovem a estudar”. Algumas de suas opiniões:
A INTERNET
“A criação de novos meios fez do jornalismo uma coisa maior do que ele é e
acabou por enriquecer e diversificar a prática. Agora, por outro lado, surgiu o
amadorismo no lugar do profissionalismo. Nesse ambiente há uma tendencia que
escapa ao princípio do jornalismo, que é a impessoalidade”.
JORNALISMO
“Para mim, o jornalismo não é o jornal. Ele já existia mesmo antes de haver
o jornal. O jornal tornou-se veículo de uma coisa chamado jornalismo, que nada
mais é do que uma plataforma, um meio de progressão da informação, do andamento
das notícias, da difusão das ideias, dos costumes. Vi o rádio nascer. Naquela
época disseram que o rádio iria matar o jornalismo impresso. Bobagem. Pelo
contrário, o jornalismo ganhou foi um aliado. O mesmo aconteceu com a televisão
e agora se repete com a Internet. Ou seja, a tecnologia em questão pode até ser
nova, mas essa história de fim do jornal impresso é velha pra caramba”.
Hoje , aos 88 anos de
idade, Wilson Figueiredo continua na ativa. Conta Paulo Chico que ele vai a pé
de sua casa no Leblon, até Ipanema, onde trabalha na FSB Comunicações. Quase
todo dia, para mostrar seu vigor, que não sente o peso da idade. Wilson
Figueiredo se diverte quando lhe perguntam se é o jornalista mais velho na
ativa: “Evito pensar que possa ser o mais antigo jornalista em atividade no
País. Há de haver outro desgraçado, e ainda mais velho, por aí”.
*Wilson Ibiapina
Jornalista
Diretor da Sucursal do Sistema Verdes Mares de Comunicação
em Brasília - DF
Titular da Cadeira de nº 39 da ACLJ
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