Aprendiz
de Rei
Arnaldo Santos*
A
política traz em sua essência a busca incessante pela coroa do rei simbolizada
pelo poder que a corte confere aos eleitos.
Em
busca dessa conquista os candidatos ao trono se nos apresentam cheios de boas
intenções, espírito público e sentimento humanista. Não raro temos a falsa
impressão de que estarmos diante de homens dotados de “virtudes” como a “compaixão”
com o sofrimento do povo, “prudência”, moral e bom senso. Uma vez entronados,
bem... o resultado em maior ou menor grau todos nós sentimos na pele, quão
afiada é a espada dos aprendizes de rei.
Ao
escrever esse texto o faço com a intenção de contribuir para que possamos fazer
uma reflexão sobre a discussão até aqui apresentada por aqueles que disputam
essas eleições.
Uso
a expressão “contribuir” porque não tenho a pretensão de dizer o que deve ou
não ser debatido, mas igualmente chamar atenção do eleitor para a pobreza de
ideias e propostas a que estamos assistindo nessa campanha, pela televisão.
Dois
meses de campanha já se passaram e ainda não percebemos uma discussão
substantiva, uma ideia-força que possa ancorar o debate eleitoral, e não será
por falta de temas importantes para a sociedade que teremos uma campanha
medíocre em termos de debate, sobre propostas que possam resultar em políticas
de governo.
Um
rápido olhar no cenário nacional, para muito além dos programas Bolsa Família,
e Mais Médicos, se vão ou não ser mantidos por quem venha a ser eleito, em caso
de vitória da oposição, ou se a Petrobras teve ou não prejuízo com a compra da
refinaria de Passadena, seria mais proativo debater a redefinição da matriz
energética do país.
Afinal, se quisermos ter condições de fazer crescer a
economia, o ponto de partida é a geração de energia, e ao que nos consta, estamos
prestes a crises de desabastecimento de água e energia. Por que não se
discute uma política de segurança nacional para o combate ao crime organizado e à disseminação das drogas que vicejam em todo país? Afinal, que país
queremos construir até a metade deste Século?
Quando
observamos o cenário aqui no Ceará a pobreza de temas e ideias é ainda mais
acentuada. Em vez de se discutir, por exemplo, o que fazer para conter os
alarmantes índices de assassinatos, assaltos, explosões de bancos e o alto
consumo de crack, discute-se a riqueza dos candidatos, o fato de uma única
família continuar gerindo o poder, etc. Será essa a agenda prioritária da
população cearense?
Mesmo
consciente de que na política não há lugar para os virtuosos, também não é
razoável admitir o despudor generalizado que nos atinge a todos, como nos
tempos do “cólera” ou do vírus “ebola”.
Saibam
os aprendizes de rei que na era do conhecimento se insere uma sociedade
pós-industrial, resultante da produção de saberes que essa mesma sociedade seja
capaz de disponibilizar e aplicar em sua própria construção.
Nessa
perspectiva, a política assume um caráter fundante e insubstituível, pois não
vislumbramos outra forma de se promoverem as transformações sociais reclamadas,
senão pela política. Não confundir com politicagem.
*Arnaldo Santos
Jornalista
Doutor em Ciência Política
Titular da Cadeira de nº 13
da ACLJ
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