EXCELENTE TESE DE DOUTORADO
Vianney Mesquita*
É belo modelar uma estátua e dar-lhe vida; sublime, no entanto, resulta
conformar uma inteligência e dar-lhe verdade. (Vitor Hugo. *Besançon,
26.02.1802-+Paris, 01.06.1885).
Com suporte na
irretorquível verdade expressa na epígrafe da lavra deste novelista, poeta,
artista, ensaísta, estadista, enfim, polígrafo de França, firo estas notas para
expressar o agrado por haver findo a revista do escrito doutoral, intitulado Disenteria Nosocomial e Doença Associada ao Clostridium
difficille em Pacientes Imunossuprimidos, de Hospital Universitário, em Fortaleza-CE.
Este texto científico
foi sustentado, no dia 30 de maio pretérito, na Faculdade de Medicina da UFC, junto
a uma douta Banca Examinadora, presidida pelo meu amigo, aracatiense, Prof. Dr.
Aldo Ângelo Moreira Lima – UFC e diretor do Instituto de Biomedicina do
Semiárido Brasileiro - com o concurso de mais quatro pesquisadoras-doutoras da
UFC, USP e Unichristus, entre as quais a conterrânea (Palmácia) Professora
Doutora Terezinha do Menino Jesus Silva Leitão (UFC).
A autora é a Doutora
Ana Maria Ribeiro Cardoso Mesquita, do Corpo de Enfermagem do Complexo
Hospitalar da Universidade Federal do Ceará, mestra em Fisiologia e
Farmacologia pela mesma instituição e pesquisadora de manifestações patológicas
do trato intestinal e sítio estomacal, com ensaios publicados em revistas
nacionais e do Exterior.
A disenteria
nosocomial (DN) – ocorrente com a pessoa internada em nosocômio, hospital - relaciona-se
à assistência à saúde com incidência e severidade progressivas. De tal modo, a
pretensão da pesquisa da Dr.a Ana Maria foi determinar a incidência da DN, os fatores
de perigo e a superveniência da enfermidade, em associação com o Clostridium difficille – bactéria
Gram-positiva (1), comensal do sítio gastrintestinal, responsável por moléstias
do estômago e dos intestinos, em conjunção com antibióticos, variando desde
simples disenteria até uma colite psudomembranosa (2).
A fim de aportar a tal
intenção, ela realizou estudo caso-controle (3), em que pareou pacientes
conforme idade, sexo, período de admissão, clínica e diagnóstico, levado a
efeito no espaço de 6 de fevereiro de 2012 a 5 de fevereiro de 2013, no
Hospital Universitário Walter Cantídio, da Universidade Federal do Ceará, sendo
casos-pacientes aqueles com DN e casos-controle os participantes sem disenteria
nosocomial.
Ao cabo da
investigação, restou demonstrada a presença endêmica do Clostridium difficille, de tal sorte que, consoante indicou o
ensaio, a atualização da epidemiologia local orienta medidas de controle da
infecção hospitalar, como o emprego ponderado de antibióticos, cautelas com a
dieta entérica (do intestino) e cuidados de contatos para os clientes da
disenteria nosocomial (com o paciente institucionalizado)
Como remate, a doutora
Ana Maria Ribeiro Cardoso Mesquita expressa os fatos de que: a) nos internados
nas unidades de Hematologia, Transplantes de Fígado e Rim do Walter Cantídio, a incidência de DN
prossegue como relevante tipo de IH, comparando com seu estudo anterior, no
mesmo local, bem assim com a literatura corrente; b) nos internos das unidades
de Hematologia, Transplantes Hepático e Renal do Hospital locus do experimento, a incidência de infecção por Clostridium difficille
(ICD) foi ínfima, compatível com a literatura compulsada, de forma a não
significar panorama epidêmico; c) a DN teve implicações clínicas em pessoas
internadas, repercutindo no curso da hospitalização, porquanto esses pacientes
ficaram mais tempo à mercê de outras infecções hospitalares em HU no Nordeste
do País.
Dois pontos, ainda,
são dignos de nota nas suas conclusões: A DN, em associação com C.difficille,
significa perigo para os pacientes vulneráveis, e a presença de portadores assintomáticos
deste bacilo enterotoxigênico (4)
chama a atenção para os perigos de infecção cruzada e disseminação inter-nosocomial;
e a etiologia (histórico) não infecciosa é indescartável causa da DN, em
pacientes institucionalizados no Hospital Universitário Walter Cantídio.
Sob o espectro da
forma, bem como do continente da peça doutoral, sem dúvida, ambos conformam
superior qualidade, o que levou a Banca Examinadora a lhe destinar Suma cum laude, evento diretamente
proporcional à consentânea metodologia aplicada, à bibliografia recente e
adequada, bem assim aos resultados validados nos campos de prova.
A verdade me ordena,
pois, exprimir que a técnica de relatar se assentou em comunicação científica
perfeita, em língua culta e expressamente correta, tendo sido uma das melhores
que já por mim transitaram, sob tal aspecto.
Ex positis, decerto, o trabalho objeto de
comento é literatura nova atinente a descobertas no terreno eleito pela Autora
para estudar e vai embasar outros estudos do gênero, não apenas no Brasil, mas
também é passível de ultrapassar os lindes do País, ganhando o Estrangeiro.
Avis rara, avis cara!
N O T A S
Sob o ponto de vista
do Jornalismo de Ciência, as explicações sequentes resultam necessárias, a fim
de que os leitores possam ter facilitada a decodificação da mensagem ínsita à
tese, minimamente configurada nestes comentários.
A respeito do fato de
eu incursionar pelo repertório das Ciências da Saúde, importa explicar,
conservo algum trato íntimo com seus enredos e ambages, pois, além do preparo
em matérias próprias da escolaridade anterior à Universidade, há longos anos,
trabalho como revisor de ensaios nesta craveira temática
– e noutras muitas – porquanto mui procurado pelos pesquisadores, daqui e de
fora, quando encerram as pesquisas e tencionam exibi-la à comunidade
científica, no concerto-padrão da norma culta, em que, por natural compulsão, é
produzido verbalmente o conhecimento.
(1) É o bacilo que
obtém tom violeta ou azul-escuro por intermédio da técnica de Gram. Exatamente,
é o contrário das bactérias Gram-negativas, que não fixam a tonalidade violeta,
mas sustentam o corante de contraste (suframina = violeta genciana ou magenta).
O médico
bacteriologista dinamarquês, que inventou e concedeu denominação a essa
técnica, se chamou Hans-Christian Joachim Gram (* Copenhague, 13.09.1853; +
14.11.1938).
(2) Conforme sugere a
própria denominação, trata-se de uma estrutura parecida com membrana, sem, no
entanto, o ser. O mesmo que falsa-membrana; membrana acidental.
(3) No trato dos ensaios
epidemiológicos, o estudo de caso-controle consiste em comparar um grupo de
pacientes hospitalizados – os casos – e outro de pessoas sãs – os controles - as
quais, ordinariamente, são institucionalizadas para colaborar com a procura da
Ciência.
É uma técnica de
observação longitudinal, de largo emprego nas investigações em saúde, como
procedeu a doutora Ana Maria na sua tese. Em geral, este é um expediente
analítico e retrospectivo, em que quase sempre o investigador coteja o seu
experimento em relação a estudos semelhantes, com tempos, locais e
pesquisadores distintos, a fim de aportar a conclusões.
(4) Infecção interotoxigênica, neste
evento associada a Clostridium
difficille, é aquela cuja causa procede da Escherichia coli e de outras bactérias intestinais negativas para
Gram, excluídos os gêneros causadores, em especial, de infecções entéricas.
*Vianney Mesquita
Docente da UFC
Acadêmico Titular da Academia Cearense da Língua Portuguesa
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