BALAS PERDIDAS
Alfredo Marques e Freitas Júnior, advogados
e comunicadores, membros da ACLJ, fazem análises políticas no Programa Da Hora, pela TV União, canal 21 da Multiplay,
de segunda a sexta, às 12:30h, com reprise às 18:30h.
No programa de 14 de agosto os
apresentadores abordaram a planilha de fluxos financeiros do doleiro Alberto
Youssef, atualmente preso, operador de um esquema gigantesco de
lavagem de dinheiro para políticos brasileiros.
Freitas e Alfredo comentaram especificamente
a inclusão dos nomes de grandes empresas cearenses entre as que teriam recebido
notas fiscais emitidas por consultorias a serem prestadas pelo escritório da
contadora Meire Poza, que era laranja do doleiro, conforme a grande mídia divulgou.
Os jornalistas do Programa Da Hora esposaram a opinião comum de
que os citados magnatas cearenses, Carlos Jereissati e Ivens Dias Branco,
senhores de sólidos e tradicionais impérios empresariais, não teriam
necessidade alguma de se envolver com “punguistas” de Brasília, ante o
faturamento bilionário de suas indústrias de alimentos.
Em vez de corruptor ativo, muita vez o
empresário brasileiro é na verdade achacado por escroques federais, dos quais
Youssefs e Valérios são meros porta-vozes, que fazendo ameaças veladas de lhe
estorvar os negócios por meios burocráticos, o procuram para lhe vender
facilidades – a mesma linha de ação das milícias que extorquem comerciantes de
subúrbio, os quais terminam por alimentar o crime, quando não passam de inescapáveis vítimas da criminalidade institucionalizada no País.
A nova lei de combate à corrupção, que
acaba de entrar em vigor, é muito rigorosa com pessoas jurídicas de qualquer
categoria que sejam flagradas na condição de corruptores de agentes públicos. É
claro que até então empresários bandidos costumavam se esconder atrás da
razão social para enriquecer, corrompendo instituições públicas, mancomunados
com políticos desonestos, e depois não tinham sequer o patrimônio bloqueado,
para ressarcimento aos cofres públicos.
Mas esse novo estatuto legal não considera
que muita vez sociedades empresárias honestas são constrangidas pela burocracia
oficial a contribuir com esquemas financeiros oficiosos, que dão suporte a
caixas de campanha, sob pena de não sobreviverem no mercado, e portanto não agem
por iniciativa própria de corromper quem quer que seja. Estes estão sob o pálio
da “legítima defesa” do negócio ou do “estado de necessidade” da empresa, que,
juridicamente falando, são excludentes de ilicitude.
Há grandes incongruências na legislação penal
brasileira, que, por exemplo, concede progressão de pena a sociopatas, os quais com apenas um sexto
da pena cumprida entram em prisão semiaberta e voltam tranquilamente a predar a
sociedade; que pune com rigor os receptadores de produtos roubados, porque são
alimentadores do crime, mas entende que os consumidores de drogas são apenas
“doentinhos”, embora por seu turno alimentem o grave e milionário delito de quem produz e trafica alucinógenos.
Enfim, assiste razão aos comentários dos
apresentadores do Programa Da Hora, ao considerarem que os empresários
cearenses citados no inquérito que apura os crimes de Alberto Youssef e sua
corja seriam apenas vítimas das balas perdidas que cortam o mundo financeiro do
País, no tiroteio sem trégua entre o Ministério Público e os politiqueiros de
plantão, com projetis bambos ricocheteando pela mídia.
*Reginaldo
Vasconcelos
Advogado e
Jornalista
Titular da Cadeira de nº 20 da ACLJ
Titular da Cadeira de nº 20 da ACLJ
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