OCIOSIDADE
INDUZIDA
Vianney Mesquita*
– Quinze dias hoje, 29.3.2020 –
Na
ociosidade e na abundância, desequilibra-se a razão.
(TITO
LÍVIO).
Perfaz, hoje, exatos quinze dias que, ex-vi de determinação das autoridades sanitárias do Mundo, as pessoas afastaram-se das suas constâncias laborais, culturais, de ócio público – como cinemas, teatros, circos entre outras – para permanecer no recesso de suas casas, a fim de driblar a temerária covid-19 (não merece letra maiúscula).
Este
acrimonioso e odiento mal pandêmico – insensível, invisível, inodoro, insípido
e inaudível – avesso, pois, aos sensos humanos – já mexeu com mais de 600 mil viventes, mandados para as casas de
saúde e para os carneiros de cemitérios, obrigando o
orbe inteiro a uma reserva forçada e difícil, que muito preocupa e deixa
buliçosos e traquinas os seus circunstantes.
Defesos de
participar dessas intimidades e frequências sociais em todas as situações, sem
o natural deleite social, ínsito aos hominídeos, após essas duas semanas de
convívio físico-social interdito, em remissa forçosa em seus lares (e nem são
todos os que os possuem!), os habitantes da Terra prosperam na sua vontade
firme de se verem livres desse portentoso vírus, de tudo fazendo e ao geral se
obrigando com vistas à conquista desse desiderato.
Felizmente, também –
sem me reportar aos inomináveis males econômicos que esta circunstância fez
pojar à sociedade, mormente às comunidades pobres e miseráveis, o que é de
gravidade desemparelhada – a condição de isolamento nos deixa mais cuidadosos e
conscientes, ainda, acerca dos nossos procedimentos de cariz humano-procedimental.
De tal maneira, a
ocasião agora perpassada nos concede o lance de revistar nosso transato ético, comportamental
e deontológico, a cujo raciocínio não era dado azo em virtude do tempo
consumido com o labor, a vida urbana, os cuidados com o corpo e, em muitos
casos, a transcendência para o sobrenatural, um “pouco” esquecida quando sob o
perfeito confortamento vital.
Esta comodidade,
fluente no âmbito da normalidade vivífica, parece nos isentar das
responsabilidades relacionadas à existência posterior ao exício corporal – a
pós-animação terrena – para todos os credos, quer cristãos ou adeptos de motos
confessionais outros e – por que não – até os ateus e agnósticos – para alguns
dos quais guardo a certeza de que adquiriram bilhete para bons assentos na vida
eterna, de tão perfeitos que são seus procederes...
Sem muitos
quefazeres, na fruição da remissa forçada, então, comecei a pensar, tendo essas
reflexões abicado neste soneto decassilábico português, oferecido à ala
feminina da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo, representada pelas
musas-paradigmas do comportamento e da dignidade – Inês Mapurunga, Karla
Karenina e Alana Girão de Alencar – assentado no texto-prosa expresso na sequência.
Conquanto não seja
simpático a férias longas, como esta quarentena, vou, a pouco e pouco,
cumprindo meu castigo, merecido, no concerto deste “inferno” de suspiros que
solto há quinze dias.
A quarentena, tal
como os sais diapiros, conforme exprime a Geologia, que rasgam as rochas e a
terra para aparecer em cima, leva o remisso a fazer tudo o que puder para matar
o tempo, no exemplo do quarteto dois, que recorre ao lúdico, como os jogos de
gamão e firo, conservando-se no lar para o coronavírus não invadir.
Então, em ambiência
tranquila, embora acossada, tendo o lugar de morada como fortaleza, remansa
amortecido o tempo vagaroso, para, nessas férias, remuneradas – diga-se – pôr
nas mãos da Santíssima Trindade esta lida remanchona que, tenho convicção, logo
terá termo.
Veja o caríssimo
leitor o emprego da rima encadeada nos quartetos, o que parece conceder um
pouco mais de estesia aos versos decassilábicos portugueses.
OCIOSIDADE INDUZIDA
Não saboreio extensos retiros,
Em cujos giros vou pagando a pena,
Nesta geena de infaustos suspiros,
Sob autogiros, há uma quinzena.
Na quarentena, os sais dos diapiros
Furam os papiros, rochas à centena
Forçando a arena a gamões e firos
E o torpe vírus não adentra a cena.
Nesta tranquilidade induzida,
Em casa, valhacouto de guarida,
Amorteço o Chronos vagaroso.
Assim, em férias (com féria) da vida,
Entrego esta preguiçosa lida
Ao nosso Trio Todo-Poderoso!
COMENTÁRIOS
Vianney...
A homenagem me chega, tanto quanto nas histórias belamente escritas e ironicamente dramáticas, como um impetuoso e aflito Eco.
Ouço e, de imediato, tenciono responder, noutro grito, um novo
poema! Dadas as circunstâncias... em nossas cavernas podemos rememorar o sol
que arde lá fora, e desse pensamento, encontrar forças para esperar e escrever
fazendo jus ao ócio criativo! Grata pelas palavras e pela provocação
necessária.
Avante!
Alana Alencar
......................................................
Caro mestre Vianney, não tenho a sua estatura intelectual para usar as
palavras que definam a minha admiração, respeito e gratidão por esse texto e
poema dedicados a mim e a minhas queridas amigas confreiras com a sua
assinatura. Cá do meu casulo, encantada com sua sensibilidade, envio minhas
vibrações de paz e saúde (física e emocional).
Karla
Karenina
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Meu suserano intelectual.
Neste sereno entardecer, quando a noite deglute o dia, brilha no
meu coração esta prece-poema que clama as Mãos de Deus. Ave!
Edmar Ribeiro
Caro mestre Vianney, não tenho a sua estatura intelectual para usar as palavras que definam a minha admiração, respeito e gratidão por esse texto e poema dedicados a mim e a minhas queridas amigas confreiras com a sua assinatura. Cá do meu casulo, encantada com sua sensibilidade, envio minhas vibrações de paz e saúde (física e emocional) 🙌🏽🙌🏽🙌🏽🙌🏽🙏🏼🙏🏼🙏🏼🙏🏼
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