O FERMENTO DAS
MANIFESTAÇÕES
Luciara Aragão*
A Democracia foi adotada como regime político e meio para
consecução de objetivos, podendo se revelar um meio perigoso, pois sem a
manutenção do espírito público cidadão, degenera numa batalha campal por
interesses especiais, individuais ou de grupos. Foi assim com a força da
corrupção em larga escala.
O interesse e participação dos cidadãos no processo democrático de
retomada da Nação criou um universo de três componentes, a saber, o próprio
cidadão, o aparato das técnicas e o domínio da comunicação. Trabalha-se para a
valorização e correção dos rumos democráticos com perseverança, intensidade e
racionalidade, sem que se hesite nas demonstrações de insatisfação quando dos
pontos de inércia de uma democracia viciada.
Notícias, divulgação e coordenação de manifestações, acontecem,
independente das grandes mídias e da omissão dos canais televisivos. A ausência das coberturas das grandes redes não
incomoda, pois a internet é o ponto de irradiação do aval ou do
descontentamento popular.
Canais como o YouTube, e um sem número de clips, fotos, gravações,
elucidam, motivam e denunciam
ideias e resultados. Esta atuação
no vasto campo das comunicações concede, a cada um do povo, a impressão de partilhar
uma parcela de poder, concedendo-lhe a capacidade de interferir, influenciar e
modificar a realidade.
Como numa soma, os meios midiáticos podem ser visitados a qualquer
momento, mantendo a atualidade da notícia e levando a troca de informações com
grande velocidade e interação, cobrindo as manifestações de rua, seus ritmos,
críticas e protestos.
Uma pergunta se coloca: O que pode significar este anseio por
participação popular direta nos destinos do País? A observação da lógica da
competição exacerbada entre os Poderes, a ausência de valores éticos e de agências
reguladoras demonstra as consequências negativas e a perda do caminho. O poder
constituído com os polos, apoios e ramificações tradicionais de base,
superestimava a sua coesão, e isto se revelou infrutífero.
Quanto às coalizões partidárias e interesses de classe, não poucas
vezes gestaram um imobilismo enfraquecedor e possíveis reações congeladas.
Todas elas sintomas de mudanças que fermentam na sociedade brasileira,
alterando o status quo. O povo quer
ética, com mudanças.
Nessa pós-modernidade de exaltações ao individualismo, dá-se um
maior valor ao êxito de cada um, levando à percepção de que as relações sociais
eletivas e voluntárias, em torno de um ideário comum, vêm se identificando com
o ressurgir de afinidades com a ideia de nação. Este fenômeno nacionalista, já
se esboçou nos Estados Unidos, dando a este sentimento um caráter quase de
religião.
A sede por referências éticas, pela manutenção da legalidade
legítima, ao mesmo tempo em que personaliza a vitória individual sobre a
transformação do conjunto vem eivada de esperanças. Cada manifestante é o
artesão na construção de um Brasil com uma nova visão interna e externa. O
espaço, em se transformando em desejo de revisão da realidade vigente. Como nos
disse Balandier, multiplicamos as formas de relação por meio do universo das redes. Elas reatam e conectam, constituindo-se numa
eficácia crescente, gerando, curiosamente, uma socialização lúdica, e até mesmo
afetiva.
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