domingo, 26 de maio de 2019

CRÔNICA - Sabedoria de Burro (ES)


SABEDORIA DE BURRO
Edmar Santos*



Tudo tão acelerado! Quantos carros, bicicletas e motos nesse trânsito infernal.

O som de dezenas de buzinas me impelem a ir à janela ver o que se passa lá fora. Uma carroça puxada por um burro lento – certamente pelo peso da carga de tijolos que carrega. Penso eu!

Cabeça baixa, orelhas arriadas ao longo da queixada, segue indiferente ao buzinaço que insiste em tentar lhe acelerar. Bestas! Deve estar pensando o animal que, guiado pelos arreios, sequer expressa esforço; acho mesmo que deve estar acostumado, agora reparando que seu jeito parece desdenhar dos da outra espécie que buzinam.

Bem que as histórias contadas na literatura sobre esse bicho dizem que ele é inteligente. Anda lento pra não se igualar aos humanos que o xingam, pois sua  sabedoria instintiva lhe diz: És burro e sabes do teu tempo, e que em nada adianta te apressares, uma vez que o que há ao fim é somente isso: o fim.

Os buzinadores seguem sua racionalidade inteligente, sem se darem conta de seu próprio tempo; e na pressa sempre chegam ao fim, a que não querem chegar tão cedo.


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