sábado, 11 de maio de 2019

ARTIGO - À la Recherche du Temps Perdu (HE)


À la recherche
du temps perdu*
Humberto Ellery**

Eu continuo muito contido para tecer críticas políticas, pois o ambiente ainda está muito raivoso: se eu critico o PT sou chamado de fascista; se eu critico o Bolsonaro, tenho um “viés esquerdista”.

Como disse o Einstein, Deus deve amar muito os imbecis, pois encheu o mundo com eles. Inclusive, falando em infinitudes, afirmou só conhecer duas coisas infinitas: o Universo e a estupidez humana. E arrematou: “Quanto ao Universo, ainda tenho dúvidas!”.

Hoje pela madrugada encontrei um eleitor do Bolsonaro que, com voz lamentosa, se disse decepcionado com o Capitão. Eu respondi que, mesmo tendo votado não propriamente no Bolsonaro, mas “Fora PT”, não estou decepcionado, porque já esperava por isso. Mas estou surpreso: o cara é muito pior do que eu supunha!

A minha preocupação hoje se dá em relação aos militares, a melhor parte do seu (des)governo. Com o maior cinismo e desfaçatez o Capitão está assistindo aos achincalhes do Virginian Idiot aos generais, sem tomar nenhuma medida em sua defesa. Acresce que, além de elogiar o seu “guru”, resolveu condecorá-lo, desrespeitando os critérios para concessão da honraria (o que é ilegal).

O “astrólogo” atacou, com aquele seu linguajar de “papagaio de prostíbulo”, um dos maiores nomes do Exército Brasileiro (se não o maior), o inatacável General Eduardo Villas Boas, e o Capitão disse que o “filósofo” é um patriota, e que está querendo ajudar o governo.

No texto que estou encaminhando anexo, em que faço uma referência à estupenda obra de Marcel Proust, “Em Busca do Tempo Perdido”, que escrevi dois meses antes da eleição, quando ainda havia tempo para pularmos essa fogueira, antes, portanto, da facada (que quando não mata, elege), eu perguntava o que teria havido com a capacidade de avaliação dos chefes militares que o apoiavam.

Critiquei, inclusive, o General Mourão (e mantenho a crítica) que desrespeitou a hierarquia e fez comentários desabonadores à Comandanta Suprema das Forças Armadas, a anta da Presidenta, e foi exonerado do Comando Militar do Sul. Fosse ela uma idiota (que realmente é), mas era-lhe uma superiora hierárquica. Ponto. Hoje, que o General Mourão está na reserva, exercendo um cargo político, podendo dizer as bobagens que quiser, só tem falado coisas sensatas.

Será que nunca leram o que disse o General Geisel, numa entrevista aos historiadores Celso Castro e a Maria Celina D´Araujo (da FGV), (foram várias entrevista entre 1993 e 1996, o livro resultante está disponível no site da FGV), quando o Ex-Presidente, falando sobre as “vivandeiras do quartéis”, e a participação das FFAA na política, afirmou que o Deputado Bolsonaro “não representava as FFAA no Congresso, inclusive é um mau militar”.

Nunca leram os termos com que a Comissão de Justificação Militar (CJM), em 19 de abril de 1988, encaminhou o processo de terrorismo, “Operação Beco Sem Saída”, em que ele e o também capitão Fábio Passos da Silva pretendiam explodir a Adutora do Guandu, vazado nos termos: “Seja declarada sua incompatibilidade para o oficialato, com a consequente perda do posto e patente, de acordo com o art. 16, inciso I da Lei 5.836/72”. Onde estavam que não souberam – ou não deram a devida importância? 

Agora, meus caros generais, ou dão uma “enquadrada” no Capitão (o que é descabido, pois ele é agora o Comandante Supremo das FFAA), ou o Mais Antigo manda tocar “Sentido” e “Fora de Forma, Marche” – e pulam fora dessa canoa furada enquanto é tempo. Lamentável!


*Em busca do tempo perdido, obra romanesca do escritor francês Marcel Proust, escrita entre 1908-1909 e 1922, publicada entre 1913 e 1927, em sete volumes, os três últimos postumamente.







COMENTÁRIO

De fato, como observa Humberto Ellery, Jair Bolsonaro tem se revelado uma esfinge, e o seu Governo um enigma gigantesco, que ninguém pode prever no que vai dar. Não se sabe se afinal seus métodos disruptivos vão ter sucesso. Se a honestidade, a franqueza e a transparência funcionam na política – ou se a mentira, o conchavo e a artimanha são essenciais para o sucesso da República – o que seria trágico porque, no fracasso da democracia verdadeira, para que não se instale novamente a anarquia, a força será a única alternativa.

Bolsonaro teve pulso para se revoltar contra o Comando, quando estava na tropa, bem como para se contrapor de forma aguerrida aos cretinos do Congresso, durante anos, enquanto Deputado Federal.

Ele calou Sua Majestade a Rede Globo após a campanha eleitoral, e teve fibra para resistir a um gravíssimo atendado das esquerdas. Mas não consegue calar a parlapatice da filharada impertinente, nem as invectivas de um charlatão exilado, que o encanta e controla como Rasputin à Czarina.

Eu também votei no Bolsonaro como única opção para proscrever a velha política – não somente o Lula e seus aliados, mas também os Ali Babás da direita que o Lula copiou; não só o PT, mas as demais siglas de esquerda, e notadamente o “quadrilhão” do PMDB, na comissão-de-frente dos direitistas cooptados.

Estou preocupado, assim como o articulista,  com o futuro na Nação, pois tudo ainda é incerto ou brumoso. O País viveu uma grave cirurgia, que lhe extirpou das entranhas um câncer ético, e também suas metástases, mas desse procedimento delicado ele ainda convalesce. Tecidos infeccionados e áreas necrosadas ainda permanecem empesteando três Poderes da República: o Legislativo, o Judiciário e a Grande Imprensa. 

Entretanto, diferentemente do que ocorre a Humberto Ellery, a mim me anima a certeza de que, aconteça o que acontecer, a esquerda não retornará, nem haverá o triunfo da banda podre da direita, pois, se o Capitão falhar, os Generais assumirão as rédeas, e então nós vamos ver como é que a porca torce o rabo. Por isso, o ideal seria torcer para o Governo Bolsonaro funcionar.

Reginaldo   Vasconcelos


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Humberto Ellery e Reginaldo Vasconcelos são duas personalidades que honram e dignificam a nossa Academia Cearense de Literatura e Jornalismo-ACLJ.

Faz gosto a gente acompanhar a troca de pensamentos e conceitos de ambos em torno do sucesso, ou não, do Governo de Jair Bolsonaro. É como se fosse uma reedição dos famosos Diálogos de Platão, o experiente Sócrates dando lugar para os comentários, nem sempre concordantes, de Platão.

No meu pensamento, o Governo de Jair Bolsonaro ainda não começou. O imbróglio está nesta questão da reforma da Previdência. É como disse o Dr. Reginaldo Vasconcelos neste Blog de nossa Academia:

O País viveu grave cirurgia, que lhe extirpou das entranhas um câncer ético, também suas metástases, mas desse procedimento delicado ele ainda convalesce. Tecidos infeccionados e áreas necrosadas ainda permanecem empesteando os três Poderes da República: o Legislativo, o Judiciário e a Grande Imprensa”.

Parabéns aos dois.


Cássio Borges
        

Um comentário:

  1. Caros Reginaldo e Humberto Ellery
    Vocês são duas personalidades que honram e dignificam a nossa Academia Cearense de Literatura e Jornalismo-ACLJ. Faz gosto a gente acompanhar, há tempos, a troca de pensamentos e conceitos de ambos em torno do sucesso, ou não, do Governo de Jair Bolsonaro. É como se fosse uma reedição dos famosos Diálogos de Platão, o experiente Sócrates dando lugar para os comentários, nem sempre concordantes, de Platão. No meu pensamento, o Governo de Jair Bolsonaro ainda não começou. O imbróglio está nesta questão da reforma da Previdência. É como disse o Dr. Reginaldo Vasconcelos no blog de nossa academia: "O País viveu grave cirurgia, que lhe extirpou das entranhas um câncer ético, também suas metásteses, mas desse procedimento delicado ele ainda convalesce. Tecidos infeccionados e áres necreosadas ainda permanecem empesteando os três Poderes da República: o Legislativo, o Judiciário e a Grande Imprensa". Parabéns paraa vocês, Cássio Borges

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