A
Mobilidade Urbana
na
Belíndia
Altino Farias*
Moro no Bairro Papicu, entre o Shopping Rio Mar e a Avenida Alberto Sá. Portanto, moro
onde moram muitos. Nesta manhã, por volta das 7:00 horas, nossa secretária do
lar foi assaltada no trajeto de duas quadras que separam a parada do ônibus do
prédio em que resido.
O marginal subtraiu-lhe celular e carteira com documentos, incluindo
cartão da assistência médica, do qual ela precisaria hoje para um exame, bem
como quantia em dinheiro para custear parte dito exame, que seu plano, barato e
limitado, tem cobertura parcial. Este não foi o primeiro assalto que ela sofreu,
e lamento dizer que dificilmente será o último. Ela já foi assaltada,
inclusive, dentro do coletivo, mais de uma vez.
O direito de ir e vir – e em segurança – faz parte das liberdades
individuais do cidadão brasileiro. Meus filhos, quando adolescentes, passaram a
querer usufruir desse direito, queriam uma liberdade um pouco distante da vista
dos pais. Ambos sofreram assaltos e tiveram de recuar, agradecendo nossa boa
vontade (dos pais) em apanhá-los e deixá-los aonde quisessem. Dezoito anos
completados, não teve jeito, carro na mão para cada um, mesmo que as posses da
família não comportassem, com conforto, tais despesas.
Mobilidade urbana na moda, tenta-se transformar várias cidades do país
em cidades do primeiro mundo, onde a educação e cultura permitiram que se
atingisse um estado de bem-estar social estável e tranquilo, com uma
infraestrutura de serviços à população consolidada e eficiente. Aqui, se não criminalizaram
(ainda) o uso do carro particular, recriminam-no. Mas como? Moro a duas quadras
do mais novo big shopping da cidade e
tenho de ir de carro até lá, sob pena de vir a ser assassinado nesse breve
percurso.
Nos anos 80 usou-se muito a palavra “Belíndia” para designar o Brasil. Desejava-se
para o País o bem estar social da Bélgica, com a infraestrutura de uma Índia
daquela época. A equação do equilíbrio social, obviamente, não fechou!
Hoje, pretende-se e se promete uma série de providências importantes,
sem sequer explicar ao cidadão como o Estado fará bloquear ligações de
celulares a partir de presídios, evitando que chefões presos continuem mandando
no crime organizado de dentro das penitenciárias.
Então, antes de se falar em mobilidade urbana e coisas do gênero,
deve-se falar em segurança pública, e todos os fatores que exercem influência
sobre a disseminação do crime e da violência no seio de nossa sociedade. Caso
contrário, sugiro mudarmos definitivamente de Brasil para Belíndia, e fim. Tudo
resolvido!
COMENTÁRIO:
Lastimo, meu caro amigo, mas,
desgraçadamente, esta é a única verdade que nos é permitido reconhecer neste
atual e combalido País. Instituições engessadas, cegas, inertes, coniventes ou
oportunistas brilham nas propagandas, se escondem no escuro real da incompetência,
e largam o País à deriva.
Geraldo Jesuino
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