A CALAMIDADE E A FESTA
Rui Martinho Rodrigues*
O governo fluminense decretou
calamidade no Estado. A justificativa é a condição das finanças. O citado
governo pede ajuda federal. Um dos motivos pelos quais a ajuda federal é
apresentada como necessária, justificando tratamento diferenciado em relação às
demais unidades federadas em situação igualmente difícil, é a realização dos
jogos olímpicos na “Cidade Maravilhosa”.
A situação é de calamidade e promove-se
uma grande festa. Os jogos olímpicos constituem um grande festejo, digno dos
reis e potentados da Antiguidade ou da Idade Média, embora possam promover o
turismo e deixar algum legado útil, caso estes não se convertam em elefantes
brancos a exemplo da Copa Mundial de Futebol de 2014.
Outros estados enfrentam dificuldades
financeiras, mas não estão promovendo um grande espetáculo, com muitos
convidados internacionais. Não merecem a mesma ajuda, segundo a lógica do governo
fluminense.
Os estados federados estão
endividados. A União não se encontra em melhor situação. Os governos
municipais, em sua maioria, também estão à beira da falência. Grande parte das
empresas e consumidores enfrentam situação semelhante. A saída seria promover
grandes festejos internacionais?
Não se fala em cancelar o grande
espetáculo, sem embargo de alguns países terem se oferecido para receber o
evento. A honra nacional cairia na lama, caso aceitássemos a transferência dos
jogos em apreço. A mesma honra não sofre nenhum respingo se os nossos serviços
de saúde, educação, segurança pública e tantos outros entrarem em colapso,
principalmente se a falência dos serviços essenciais se der longe das vistas
dos turistas, que ficarão circunscritos ao Rio de Janeiro.
O argumento para discriminarmos entre
estados falidos, favorecendo o Rio de Janeiro, é o turismo e a imagem a ser
projetada no exterior. Não se pensa nas atividades essenciais, que também
contribuem para o aquecimento da economia. Investir em saúde pode melhorar a
produtividade da força de trabalho, aquecer o setor de serviços e a indústria
ligada à respectiva atividade. O setor de transporte, com ênfase na mobilidade
urbana, pode diminuir o custo dos fretes, atenuando o chamado custo Brasil.
O turismo sofre os efeitos da
sazonalidade, gerando empregos temporários, além de guardar relação com todos
os problemas inerentes ao trânsito de pessoas, do que a circulação de doenças é
apenas um exemplo.
Iludimo-nos com as cifras milionárias
do turismo na França, na Itália e outros lugares. Esquecemo-nos de que estes
campeões de atração de visitantes têm bons serviços essenciais, podendo
investir em turismo sem que para tanto tenham de abandonar hospitais e outras
prioridades.
Desconsideramos a posição geográfica e a riqueza do patrimônio
histórico, artístico e cultural da Itália, da França e mesmo do México, com um
potencial de atração que nos falta. Não somos tão próximos de sociedades tão
ricas. Não temos tanta História e a que temos não preservamos. O turismo sexual tem sido o veio
explorado no Brasil. Será este o objetivo?
Nenhum comentário:
Postar um comentário