terça-feira, 28 de junho de 2016

ARTIGO - O Plebiscito Britânico (RMR)


O PLEBISCITO BRITÂNICO
Rui Martinho Rodrigues*


Os britânicos escolheram um caminho economicamente desvantajoso. A indústria automobilística daquele país fica em desvantagem com a restrição ao grande mercado da União Europeia (UE). A indústria mais sofisticada, em geral, terá prejuízo. A restrição à entrada de imigrantes torna deficitária a substituição de idosos por jovens.

O Reino Unido tende, com a decisão em apreço, a agudizar a própria desunião. O separatismo doméstico ganhou força. A decisão tomada contraria os interesses econômicos. O desafio à lógica do mercado, todavia, está sendo respeitada, apesar de protestos. Acostumamo-nos a pensar que o interesse econômico é, em última instância, como diriam um pensador de grande prestígio, o fator decisivo na determinação dos rumos da sociedade.

O acatamento da voz das urnas, porém, lembra a força da tradição democrática dos anglo-saxões, respeitada em todos os países desta linhagem, sem interrupção há séculos.

É oportuno ressaltar que a saída dos britânicos da UE é um recuo da globalização. Os críticos do citado processo de integração internacional desaprovam de modo acrimonioso o obstáculo interposto no caminho do avanço da internacionalização das economias e das culturas nacionais.

A decisão do plebiscito britânico pretende defender as culturas nacionais dos povos que integram o Reino (não muito) Unido. Também expressa a percepção do povo simples e dos pequenos negócios e dos desprezados velhinhos. Os intelectuais, as pessoas das diversas elites e os grandes negócios também foram contra.

Os analistas “politicamente corretos” desta vez estão do lado dos grandes negócios e das elites em geral, a começar pela “aristocracia” intelectual. O povo simples perdeu o encanto? Ou as suas decisões só devem ser acatadas quando sintonizadas com o pensamento dos “esclarecidos”, herdeiros dos “reis filósofos” concebidos por Platão?

O nacionalismo, seja aquele do tipo econômico, seja do tipo preocupado com a conservação das culturas nacionais, influenciou a atitude separatista. Curiosamente os que até ontem combatiam a “famigerada globalização”, agora defendem a internacionalização das nações europeias.

O nacionalismo, do ponto de vista filosófico, expressa uma distinção injustificável entre seres humanos. Economicamente é a festa dos que se locupletam com as reservas de mercado. Politicamente é uma oportunidade ímpar para o populismo inescrupuloso. Mas isso só agora foi descoberto? Ser nacionalista deixou, de modo abrupto, de ser “politicamente correto”?

Caíram as bolsas de valores. Caiu a libra. Parece, porém, que nem tudo é mercadoria, quando se decide contrariamente a tão criticada “lógica dos mercados”. Curioso é que tantos analistas estejam contrariados com o desprezo por tal lógica, associado a uma tentativa de preservar uma cultura nacional, segundo um raciocínio semelhante aos argumentos em defesa do cinema, da música e da literatura brasileiras.

A mudança subitânea de valores e princípios, no caso, diz alguma coisa sobre o discurso “politicamente correto”.


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