O CASTELO DE CARTAS
Reginaldo Vasconcelos*
O castelo de cartas do governo petista, que
já balança há algum tempo, tudo faz crer que vai cair. Muitas cartas do topo
vieram abaixo, sem que a base poderosa se abalasse. Mas, agora, toda a
estrutura ameaça fracatear.
Delcídio do Amaral, valete do Lula, foi
gravado oferecendo vantagens a um corrupto preso, por meio de um filho deste,
prometendo contatar autoridades políticas e judiciárias em seu prol. Foi preso.
Agora Aluísio Mercadante, valete da Dilma,
é gravado incorrendo no mesmo vezo, oferecendo e prometendo coisas idênticas ao
preso Delcídio, por meio de um assessor deste – desta vez a mando da Presidente
da República, segundo se deduz.
Somente muito desespero pode explicar tanta
estupidez. Nem os ratos caem na mesma ratoeira por duas vezes... a menos quando
a fome for imensa. No fogo cruzado fica o Supremo Tribunal Federal, citado em ambos os casos como parte das tramoias.
Agora o ex-presidente resolve se homiziar
em um Ministério do Governo, na undécima hora da paciência popular, do processo de impeachment da Presidente, do decreto de
prisão preventiva do novo ministro nomeado, já requerida pelo Ministério
Público de São Paulo, agora submetida à instância federal. Lula foge dos rigores do Juiz Federal Sérgio Moro, para cair no colo da Procuradoria Geral e do Tribunal Superior, estamentos para as quais os governos do seu partido fizeram nomeações.
Se a vida imita a arte, diante desse quadro surreal da política brasileira, me passam pela
cabeça as mais variadas imagens da literatura e do cinema.
Primeiramente viajo à minha própria
infância, em que se via na TV o programa de desenho animado “Manda Chuva”, em que
um grupo de gatos vagabundos liderados pelo mais caviloso deles, era sempre
perseguido pelo agente da polícia, o Guarda Belo, quase sempre driblado pela astúcia
e a malícia daquela chusma de malandros.
Em seguida me vem à mente o livro “O Rei
dos Mendigos”, do escritor espírita Luiz Carlos Carneiro, por acaso evocado em antigo enredo da Escola de
Samba Beija-Flor. Mendigos morais no presente caso, cada maltrapilho federal a
render homenagens ao esfarrapado mor, o mais sujo, o mais atrevido nas práticas
mais vagabundas da política.
Depois me ocorre a peça de cinema
denominada “O Grande Ditador”, de 1940, filme estrelado por Charles Chaplin, em
que o personagem central é uma caricatura direta de Hitler, mas uma alusão extensiva
aos déspotas em geral, que terminam se achando donos do poder absoluto. Chaplin brinca
com o globo terrestre, ali simbolizada a humanidade. Aqui se brinca com a Nação e com o seu povo, entrevistos no globo azul do nosso “lábaro estrelado”.
Por fim me vem à mente a configuração
musical da minha primeira analogia nesta crônica, e que lhe dá título, o castelo de cartas. Falo da
canção “Cartomante”, de Ivan Lins e Victor Martins, famosa na voz de Elis
Regina umas três décadas atrás. Cito o último verso, com o refrão final, que
sintetiza o momento presente da política brasileira:
“Tenha paciência, Deus está contigo,
Deus está conosco até o pescoço.
Já está escrito, já está previsto
Por todas as videntes, pelas cartomantes.
Tá tudo nas cartas, em todas as estrelas
No jogo dos búzios e nas profecias:
Cai o rei de Espadas,
Cai o rei de Ouros,
Cai o rei de Paus,
Deus está conosco até o pescoço.
Já está escrito, já está previsto
Por todas as videntes, pelas cartomantes.
Tá tudo nas cartas, em todas as estrelas
No jogo dos búzios e nas profecias:
Cai o rei de Espadas,
Cai o rei de Ouros,
Cai o rei de Paus,
Cai, não fica nada!”
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