O ENIGMA DA CRISE
Rui Martinho Rodrigues*
A crise é política, econômica, ética e
institucional. Existem aqueles que entendem sejam os insatisfeitos revoltados
porque pobre está andando de avião, e outras coisas deste gênero; em razão de maquinações
do capital e da imprensa golpista; por moralismo de “direita” – e rotulam os antigovernistas como “fascistas” e “golpistas”. Essa é a cereja do bolo governista.
Defensores do governo esquecem que o
acesso dos pobres aos bens e serviços representa mercado para o capital. Não
faz sentido dizer que o capitalismo não gosta disso. Existem insatisfeitos com
algum grau de inclusão dos pobres?
Pode ser, mas não representam os interesses
do capital, nem constituem uma parcela expressiva dos manifestantes, tampouco deslegitimam os protestos dos insatisfeitos em geral, ou o trabalho do TCU, da
PF, do MPF e da Magistratura.
Maquinações do capital supõem um grau
de manipulação, aliado a plasticidade da sociedade, em proporções tais que
comprometem a democracia. Afinal, se somos todos tão manipuláveis, as eleições
de nada valem. Além disso, o capital financeiro lucrou nos governos petistas
como nunca antes na história deste país. A alegada inclusão é mercado para o
capital, vale repetir.
Falar na imprensa golpista é esquecer
o sentimento das redações dos jornais. As camadas letradas passaram por
doutrinação desde o ensino fundamental até a universidade. Os “diplomados”,
majoritariamente, são parte do segmento mal definido que se apresenta como
“esquerda”, que formam a grande maioria dos integrantes das redações da
“imprensa golpista”.
Não se pode atribuir aos integrantes das redações a
revolta com o fato dos pobres estarem andando de avião, nem aos jornalistas a
condição de serviçais do capital. Nem se pode dizer que os empresários de
comunicação obrigam as redações a servir aos propósitos “golpistas”.
Empresários
de comunicação recebem muitos favores oficiais, dependem de publicidade e
propaganda de empresas estatais e não estão excluídos da doutrinação ideológica
das escolas por onde passaram.
Insistir no argumento do “golpe” – depois que o
STF legislou sobre o rito do processamento do impeachment no Congresso e tal
legislação está sendo seguida; depois que a unanimidade do TCU declarou que a Lei de Responsabilidade Fiscal foi violada; depois do trabalho da PF, do MPF e
da Magistratura, quando os ministros dos tribunais superiores, em sua maioria,
foram nomeados pelos governos petistas; depois que a OAB
pediu o impeachment, por 26 votos contra 2 dos integrantes do seu Conselho
Federal; depois do clamor de parcela tão expressiva da sociedade – insistir nessa alegação de que esteja em curso um golpe é seguir o
caminho do engano. É uma teoria conspiratória envolvendo um amplo leque de
instituições e personalidades, que exige muita credulidade para ser levada a
sério.
Opositores e governistas esquecem que
os candidatos a reis filósofos, que militam com os governistas, estão querendo
impor uma nova moral privada. A agressividade com que são tratados os
sentimentos das pessoas ligadas à moral tradicional moveu uma parcela
significativa da sociedade para as oposições, o que é um fato relevante.
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