segunda-feira, 21 de março de 2016

ARTIGO - Não aos Excessos (AS)


NÃO AOS EXCESSOS
 Arnaldo Santos*

Como é do conhecimento de todos, em um estado democrático de direito nem um cidadão deve pairar acima de Lei;  a relevância do trabalho que o Juiz Sérgio Moro tem desenvolvido como coordenador da operação Lava Jato é de tal ordem de importância para a nação brasileira, seja no que refere à nova postura do Judiciário, seja como ação pedagógica para a elite político-econômica e a sociedade em geral, não encontra precedentes na história do país, desde a segunda metade do século passado, até os dias atuais.

Para além da descoberta dos desvios, e da desarticulação da corruPTopatia– esse é o novo vírus identificado – que tinha como hospedeiros a Petrobras e as grandes empreiteiras, a prisão dos envolvidos, em razão da importância de cada um deles, fez erodir a máxima segundo a qual, no Brasil, só se prende preto é pobre. O magistrado em tela mudou essa premissa.

Esse reconhecimento que o Juiz Sérgio Moro tem de toda a sociedade brasileira é meritório. Esse fato é relevante e incontestável; porém não o torna infalível e isento das vicissitudes humanas, e também está sujeito a cometer excessos.

As últimas semanas foram marcadas por uma discussão de extrema importância para o estado democrático de direito, mas que pela ideologização do fato acabou por torná-la menor. Refiro a condução coercitiva do ex-presidente Lula, para depor na Polícia Federal.

Na última quarta-feira o magistrado paralisou o país, ao liberar os áudios com as gravações de conversas telefônicas entre a Presidente Dilma Rousseff, e o ex-Presidente Lula, (agora nomeado new primeiro ministro), cuja intenção segundo o teor das conversas e a opinião generalizada, sua nomeação para Ministro Chefe da Casa Civil, seria para lhe garantir foro privilegiado, e  evitar um possível pedido de prisão de pelo Juiz Sérgio Moro.

Dito isso, comunico ao distinto público leitor que não tenho formação em Direito, e muito menos procuração para defender o ex-presidente Lula, que para mim é o Maquiavel dos Trópicos no século XXI, e muito menos a Presidente Dilma. Mas interceptar e vazar conversas telefônicas envolvendo a primeira mandatária do País, em meio ao clima de tensão política que se vivência, não é banal, como um mandato de coerção também não o é.

Coerção, segundo o dicionário, é ato ou efeito de reprimir: repressão”; em linguagem jurídica, força exercida pelo Estado para fazer valer o direito. Indago: como então se justifica coagir alguém que não está se negando a fazer, ou deixando de fazer algo que ainda não lhe fora solicitado? Ainda que o teor das gravações possa ser entendido como uma manobra para proteger o ex-Presidente de uma possível prisão, pode um magistrado agir motivado por outro sentimento que não seja o da legalidade?

É sobre o cometimento desses possíveis abusos de autoridade praticados pelo Juiz Sérgio Moro que gostaria de angular essa despretensiosa reflexão, não sob o aspecto jurídico, pois, como disse, não tenho formação na área, mas enquanto cidadão, que entende que pelo precedente aberto, em tese, criou-se a perspectiva para que outros abusos possam vir a ser cometidos.

Zelar pela cidadania é preservar o estado democrático de direito. Esse valor maior a ser preservado é o imperativo que se coloca, e deve estar acima das filigranas jurídico-políticas, sob pena de estarmos todos sujeitos ao humor e às preferências outras dos magistrados, nas várias instâncias do Judiciário.

Assim, entendo que, a pretexto das preferências políticas contrárias e a favor do PT, todo o excesso eventualmente cometido pelos integrantes da Operação Lava Jato, por menor que possa parecer, como vazar conversa envolvendo a Presidente e um já Ministro nomeado não é banal, e não deve ser ignorado pela sociedade, até para preservar a continuidade das investigações, pois entendo que essa operação pode se revelar a oportunidade que faltava para a refundação da elite político-econômica brasileira, ancorada em um padrão ético e moral Republicano.

Coonestar os excessos e abusos de autoridades, de quaisquer dos lados, além de ferir os direitos e as garantias constitucionais dos cidadãos, independente de qual seja sua posição, revela ignorância dos direitos, desrespeitos às leis que devem ser aplicadas igualmente para todos, e um profundo desprezo pela Democracia.

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