quinta-feira, 13 de setembro de 2018

DISCURSO - Biografia Ubiratan Aguiar (JL)


APRESENTAÇÃO DA BIOGRAFIA
UBIRATAN AGUIAR, 
PELAS SENDAS DO TEMPO
 De autoria de Luiza Amorim. 
Em 11 de setembro de 2018

Juarez Leitão*

Ouvi, pela primeira vez, numa sala de aula do velho Seminário da Betânia, em Sobral, que “a felicidade é a razão fundamental da vida”. Quem assim começava a sua aula de Português era o Padre Osvaldo Chaves, um dos grandes sábios que tive o privilégio de conhecer, hoje ainda felizmente vivo, na planura serena dos seus 95 anos.

E o mestre acrescentava: “Estamos aqui reunidos para ser felizes. Esta aula, estas informações, esta lousa, este giz, a nossa inteligência, o que puder ser assimilado por vocês e o que eu possa aprender conhecendo-os... todos esses valores materiais e imateriais devem apenas ser instrumentos de construção da felicidade”.

Fiquei marcado pelo jeito original daquele professor começar uma aula e, desde aquele dia, passei a fazer indagações sobre a vida e os caminhos da felicidade. Os livros e os fatos produziram em mim indagações profundas, respostas tortas ou retas, clarezas ofuscantes e verdades relativas.

Vi no Curso de Filosofia que, para Platão, a simples procura da felicidade já nos dá uma condição de bem-estar. A própria busca, o sonho de tê-la, mesmo que nunca seja alcançada, já nos faz habitantes de uma utopia gostosa e já nos basta para inebriar. Daí derivam as paixões unilaterais e os amores platônicos.

Para Aristóteles, a felicidade palmilha o campo do real. E não se realiza enquanto não for, de fato, conseguida, conquistada e usufruída, como uma fruta que se mastiga ou um peito que se mama. Plenifica-se no sabor dos triunfos e na apoteose do sucesso.

Para Jesus Cristo, a felicidade é um bumerangue: só acontece em nós depois de atingir os outros e voltar energizada pelo bem que fez. Só poderemos ser felizes fazendo os outros felizes e amando os anônimos do mundo como a nós mesmos.

Estas meditações nos acometem quando estamos diante de uma biografia. Do relato minucioso da vida de um homem. Do escancaramento das portas de sua alma, do devassar de sua movimentada peripécia, do conhecimento e aplicação de seus sonhos, dos acertos e percalços de sua caminhada.

Estamos diante das memórias do desempenho vital de Ubiratan Diniz de Aguiar, escrita com desvelos e cuidados especiais pela jornalista Luiza Helena Amorim, que já está no labor das biografias há um bom tempo e com quem reparti a autoria de alguns livros nesta mesma tarefa de vasculhar a vida, fazer a ordenação cronológica e publicar a história de destacadas figuras do Ceará e do país.

Tantas vezes falei sobre Ubiratan Aguiar, nos convescotes boêmios da cidade ou em cerimônias formais. Proclamei aos brados do efeito etílico, no Clube do Bode, o orgulho de vê-lo presidindo o Tribunal de Contas da União. Recebi-o solenemente em nome de meus confrades, quando ele ingressava como sócio efetivo no Instituto do Ceará, numa noite de casa cheia e retumbantes alegrias.

Sempre o vi como um ser singular, portador, como poucos no mundo, da capacidade de manter-se menino numa carcaça setuagenária, administrando os episódios austeros da vida sem perder a peraltice irrequieta da infância sertaneja, vivida num planeta chamado Cedro, incrustado na fisiografia do Sertão do Salgado e Alto Jaguaribe.

Menino assimilador dos encantos da natureza, que ainda guarda na alma infante as cores e os murmúrios dos bosques, o ruflar matinal da passarinhada, o canto dos galos anunciadores das manhãs e o mugido tristonho dos bois nas vermelhas despedidas do dia.

Mas um dia – como conta este livro - aos 11 anos, teve que deixar as ribeiras queimadas de sua sesmaria e partir, possuído de ansiedades, para a cidade grande. Era a saudade atávica do mar, aquela que – como bem descreve o poeta Linhares Filho – está enraizada na alma lusitana que mantemos e que, na primeira convocação, nos arrebata para o litoral.

Encontrou, em 1952, uma cidade de pedras toscas, espacialmente horizontal, que ainda rescendia os cheiros de aldeia e mantinha os costumes nas fronteiras pacatas e tranquilas daquilo que os seresteiros traduziam como a “paz serena e doce”.

O pré-adolescente que chegava do Cedro, entretanto, sabia que Fortaleza tinha mistérios a ser decifrados. E, com a curiosidade típica dos inteligentes, meteu-se por todos os cantos onde quer que houvesse uma coisa a saber e uma resposta para saciá-lo.

No Liceu do Ceará logo tornou-se um líder. Em pouco tempo estava presidindo o CLEC, Centro Liceal de Educação e Cultura, o mais importante grêmio escolar daquele tempo. Ali também deu os primeiros passos na Literatura. Não sei se o livro-texto ainda era a famosa Crestomatia, antologia que iniciou tantos escritores pelo Brasil a fora.

Sei que maneja com jeito e graça a oratória, a crônica e a poesia. Nessa, escala a composição musical, produzindo letras que foram melodiadas por alguns dos mais importantes artistas cearenses e brasileiros.

Fez discos e publicou livros de versos, muito bem recebidos pelos críticos. Sua produção literária o levou para a venerável Academia Cearense de Letras, entidade-mater das academias de letras do País, que ele, nesse momento, preside com tirocínio e comprovada capacidade gestora.

Aprendeu e gostou da arte de coordenar companheiros e dirigir entidades. Quando ingressou na Faculdade de Direito ali presidiu o Centro Acadêmico Clóvis Beviláqua, desenvolvendo um trabalho de diplomacia entre os colegas que, no fervor das divergências ideológicas, costumavam chegar aos enfrentamentos físicos. 

Ubiratan praticava na faculdade seus pendores diplomáticos, fazendo-se ouvir no meio das tempestades e, por conseguir sempre restaurar o diálogo civilizado, crescia no conceito da comunidade universitária. Não tinha mais dúvida: a política o havia seduzido e outros fóruns e tribunas agora o esperavam. Procurou o apoio popular e as urnas o abraçaram amorosamente.

Foi Vereador, Deputado Estadual e Federal e membro da Constituinte Nacional de 1987. Vocacionado, também, para funções executivas, assumiu, enquanto detinha mandatos legislativos a Secretaria Municipal de Administração, a Secretaria de Educação do Estado do Ceará e a Primeira Secretaria da Câmara Federal, além de fazer parte das mais importantes comissões do Congresso Nacional.

Demonstrou ser um dedicado e cuidadoso especialista em Educação, contribuindo de modo brilhante nesse setor quando da elaboração da Constituição de 1988. Naquela Carta estão as competentes digitais do deputado e educador Ubiratan Aguiar, ao ponto de despertar a admiração de Florestan Fernandes, registrada em proclamação elogiosa e de gratidão cívica.

Deixou o Parlamento quando foi escolhido por seus pares para compor o egrégio Tribunal de Contas da União, que, depois chegaria a presidir.

No exercício das atividades públicas, Ubiratan Aguiar, que não quis, como muitos, ficar rico às custas da Nação, jamais nos envergonhou. Não se sujou com o ouro da cobiça. Não retirou botijas da lama torpe. Não se lambuzou nas facilidades desonrosas. Por isso, nesses tempos de escândalos e desvarios, nós, seus amigos e contemporâneos, não temos medo de passar vexames ao ouvir os noticiários, porque o nome do Dr. Ubiratan por certo jamais figurará na lista infame.

Senhoras e Senhores:

Este livro conta a história de um cearense ilustre cuja ação pelas sendas do tempo deu-lhe dimensão nacional. Um cidadão que praticou política pelas receitas dos gregos clássicos e dos iluministas do Século XVIII. E, como ser humano, cumpriu o itinerário da felicidade, a platônica, a aristotélica, a cristã e, talvez, a epicurista.

Afagou com ternura e serenidade as estações de sua caminhada, cultivando a arte de ouvir, o dom da paciência e a virtude da compreensão. Praticou o pastoreio das paixões, um território turbulento e muito difícil de ser controlado. Tateou a porosidade dos acontecimentos, distinguindo a vulgaridade do que é substantivo, o trivial do permanente, o acessório do essencial, os caminhos da morte dos caminhos da vida.

O seu convívio nos faz bem. Sua companhia nos ilustra. Seu abraço nos dá confiança. Não cultiva as amarguras e sim os encantos da vida. No meio das mais tenebrosas situações vislumbra os raios da aurora. É um pendão de esperanças nesse chão movediço das dificuldades nacionais e estimula-nos a olhar o horizonte com otimismo porque uma planície verdejante ou um rio piscoso pode estar além dele.

Experiente e cuidadoso, inspira-se no exemplo das águas, no exemplo dos rios. O seu objetivo é o mar. Mas, se no trajeto surgir um obstáculo, uma montanha, um aluvião, não hesitam em contorná-los e, através de sinuosidades, atingem o seu destino. É uma atitude de estratégia diplomática da natureza.

Ubiratan Aguiar, como os que sabem contornar os obstáculos, conhece os princípios vitoriosos da diplomacia. Por todos estes argumentos, estamos reunidos nesta noite para celebrar a vida de Ubiratan Aguiar e aprender, conhecendo a sua história, as trepidantes cirandas da sorte e os caminhos da felicidade.

Sejam bem-vindos à leitura e às profícuas lições deste excelente livro escrito por Luíza Helena Amorim:

Ubiratan Aguiar, pelas sendas da vida!

Muito Obrigado.


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