quarta-feira, 12 de setembro de 2018

ARTIGO - Falsa Democracia ou Ditadura Disfarçada (RV)

FALSA DEMOCRACIA OU
DITADURA DISFARÇADA
Reginaldo Vasconcelos*


A sociedade ideal é aquela em que não há miséria, onde não convivem o fausto e a pobreza absoluta em grupos estanques, por se oporem óbices à mobilidade social   lugares em que a linha de pobreza é considerada na faixa de renda mensal equivalente a de sete mil reais.

Em que haja educação e saúde públicas de qualidade para todos, de modo a se manter um estado de bem-estar social generalizado, a partir de um governo norteado pela honradez e o espírito público  como se viu na última Copa de Futebol com a Presidente da Croácia, viajando às próprias expensas e tomando chuva para abraçar o time adversário.

Uma sociedade que incentiva a produção de artes, de ciências e de riquezas econômicas, estimulando a iniciativa privada e o emprego, através de uma carga tributária justa e adequada a um Estado mínimo e eficiente. 

E em que as oportunidades de evolução cultural e socioeconômica são acessíveis a qualquer um que as procure – sendo garantido, inclusive, o direito pessoal de preferir permanecer intelectual e socialmente estagnado.

Sim, porque essa opção existencial é historicamente feita individualmente por uma parcela das populações do Planeta, independentemente da saúde econômica e do grau organizacional e evolutivo do grupo nacional a que pertença.

Em toda parte há pessoas que se recusam à competição e à disciplina, resignadas à sua sorte natural, que se expõem ao vício, ao ócio, à indigência e à mendicância, opção de vida que somente as liberdades democráticas admitem e toleram.

Há países no mundo que correspondem realmente a essa descrição acima, de modo que não se faz aqui uma “utopia” – o “deslugar”, o “não-lugar”, o lugar que não existe – tradução literal dessa palavra latina, que se passou a plicar na acepção de um sonho quimérico e aparentemente inviável.

Apenas nesses países caracterizados da forma acima descrita se pratica a real democracia – o “governo do povo”, a pacífica soberania do interesse popular.

De ordinário se imagina no Brasil que o conceito de democracia se esgota no direito de votar nos dirigentes, e na liberdade de expressão – e é isso que procuram fazer crer os ditadores disfarçados que se adonam do poder para manter seus privilégios.

Esses ditadores disfarçados que compõem as elites econômicas e políticas detêm mecanismos hábeis para controlar a grande mídia e conduzir a opinião pública, usando o capital para direcionar a liberdade de imprensa de maneira imperceptível, de modo a consagrar mentiras reiteradas e distorcer a realidade.

Naquelas sociedades perfeitas cada um conhece e cumpre o seu dever espontaneamente, cônscio e orgulhoso de sua missão social, sem prejuízo de envidar esforços para evoluir e melhorar, compulsão natural que é a mola propulsora do progresso. Ali os cidadãos nada têm a contestar ou combater, porque o pacto tácito com a coletividade é pacificamente assumido e respeitado.

Enquanto isso, o brasileiro médio é levado a acreditar que “imprensa investigativa” prospectando lama infecta nos escaninhos do Poder seja um sinal evolutivo. Que seja um mecanismo indicativo de saúde democrática os sindicatos fortes e o “direito de greve”, para que trabalhadores possam chantagear por melhores salários os empresários que idealizam, empreendem, investem e arriscam capital sadio para criar e garantir os seus emprego.

Ingenuamente, o povo brasileiro, e mesmo os sociólogos focados somente na realidade nacional, interpretam que protestos de rua, quebra-quebras que resultam impunes, invasões irreprimidas de propriedades públicas e privadas, tudo isso represente a apoteose democrática, indicadores de saúde republicana – quando, na verdade, esses são apenas sintomas da doença psicossocial de uma nação que ainda não se libertou ideologicamente, e ainda vive a sanha do colonialismo desvairado.

Alguns dirão que essas manifestações sociais são fruto do embate sadio entre situação e oposição – tese e antítese em busca de uma síntese virtuosa – mas essa concepção é totalmente enganadora. Como a História Universal já demonstrou diversas vezes, e como se tem verificado na tradicional tranquibernice da política brasileira, “quem está contra o poder, quer o poder”. E quer o poder, pelo poder.

Façamos uma analogia orgânica para demonstrar quanto é falsa a democracia brasileira:

Naquelas sociedades perfeitas acima descritas, verificadas na Europa Central e do Norte, notadamente na Península Escandinava, bem como em países do Extremo Oriente como, por exemplo, o Japão e a Coreia do Sul, impera a “perfeita saúde democrática”, com pequenas e raras ocorrências de distúrbios.

Já nas ditadoras existentes ainda hoje, sejam de esquerda, sejam de direita – sejam socialistas como Cuba e Coreia do Norte, sejam capitalistas, como países do Oriente Médio e da África – observa-se a “ditadura sem remédio”, porque a essência do regime de força é o despotismo, é a doença.

No Brasil, por seu turno, o que se tem é uma “democracia doente”, meramente remediada por liberdades ilusórias – ou a ditadura disfarçada, na qual a indigência é assistida e mantida pelas políticas de governo, e a cultura do povo é aviltada, para que se mantenha a pobreza feliz”, e nela o grande estoque de eleitores embotados e iludíveis.

Os ditos governos democráticos brasileiros se esmeraram em dar o peixe, e não em ensinar a pescar – pois nenhum deles investiu massivamente em educação gratuita de qualidade, desde o ensino básico até o técnico e o acadêmico, como fizeram a Alemanha e o Japão no pós-gerra, e mais recentemente os chamados “Tigres Asiático”, única maneira de eliminar a pobreza de forma definitiva e consistente.   

É para manter esses mecanismos casuístas que o Congresso engendrou normas pelas quais uma fortuna bilionária foi sacada dos cofres públicos para ser distribuída aos partidos no poder, nestas eleições, para  se garantirem privilégios.

Além disso, as normas eleitorais dotam esses partidos de um desproporcional tempo de propaganda eletrônica gratuita, reservado aos seus integrantes – em sua grande maioria pessoas com maus antecedentes notórios e até com histórico criminal na vida pública, que vêm  pedir votos com a maior desfaçatez, para eles e para os seus apaniguados, aos incautos eleitores, prometendo, falsamente, o paraíso. E as massas ignaras se dispõem a votar neles.

         

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