SEPTUAGENARIO,
EU?
Humberto Ellery*
Nem eu acredito, mas em pouco mais de
trinta dias (1º de dezembro) estarei completando SETENTA ANOS! Tchan-tchan-tchan-tchan...
Não sei se é porque sou muito sadio (Deo gratias), mas a verdade é que não
consigo perceber grandes diferenças em minha vida. O espelho, sim, esse
percebe.
Mas, como as diferenças fisionômicas foram
se estabelecendo lentamente, eu fui me acostumando.
No entanto há uns quatro ou cinco anos
aconteceu um fato bem ilustrativo da passagem do tempo pela minha aparência.

O namoro não prosperou justamente porque
era “escondido”. Ela, muito novinha, era proibida de namorar, e dizia que se
seus pais descobrissem ela levaria uma “pisa”, e ainda ficaria de castigo, sem
poder ir às tertúlias (é o novo!).
Terminado o nosso love affair ela,
algum tempo depois, passou a namorar com um grande amigo meu, com quem terminou
casando e formando um casal muito feliz.
Permitam-me abrir dois parênteses:
a.
sempre
namorei muito e sempre com moças muito bonitas, pois enquanto os homens se
apaixonam pelo que veem (a
beleza é fundamental), as mulheres se apaixonam pelo que ouvem, e o que me faltava em boniteza
me sobrava em lábia, a infalível cantada;

Voltando à narrativa do fato acontecido,
estava eu recentemente no velório de um querido amigo, precocemente falecido, e
encontrei com o marido da Betinha.
Trocamos um fraternal abraço enquanto
lamentávamos a morte de nosso amigo comum.
Nisso, aproximou-se de nós minha
ex-namorada, quando seu marido resolveu nos “apresentar”. Com a voz
sussurrante, em reverência ao ambiente de tristeza, ele disse:
– Betinha, este é meu grande amigo Ellery.
Ela me fitou meio sem acreditar e,
evidentemente me confundiu com meu irmão, o Dudu, que é cinco anos mais novo do
que eu, mas muito parecido comigo (sendo eu mais bonito).
Ela apertou minha mão e disse:
– Muito prazer. Seu nome é Ellery?
– Sim, respondi, sou o Ellery. Ao que ela retrucou:
– Eu namorei com seu irmão.
– Não, Betinha – disse eu – você namorou
foi comigo.
Ela , perplexa, balbuciou:
– Tu és o Bebeto?
– Sim, Betinha, eu sou o Bebeto, quarenta
anos mais velho.
Ela, meio sem graça, disse:
– Você está um pouco diferente...
Como estávamos na presença do seu marido,
senti-me à vontade para ser galante e concluí:
– Pois
é, Betinha, mas você não mudou nada, continua jovem e bonita.
E eu não estava mentindo!
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