ATIRE A PRIMEIRA PEDRA
Alfredo Marques*
Não
custa recorrer às experiências catalogadas na Bíblia, delas extrair ensinamentos
e aplicar, por analogia, às vivências históricas deixadas, que facilmente se observam no cotidiano, notadamente do incidente constante do capítulo 8 do Evangelho de João (8:1-11):
“Jesus, porém, foi para o Monte das Oliveiras. E pela manhã cedo tornou para o templo, e todo o povo vinha ter com ele, e, assentando-se, os ensinava.
“Jesus, porém, foi para o Monte das Oliveiras. E pela manhã cedo tornou para o templo, e todo o povo vinha ter com ele, e, assentando-se, os ensinava.
E os escribas
e fariseus trouxeram-lhe uma mulher apanhada em adultério;
E, pondo-a no
meio, disseram-lhe: Mestre, esta mulher foi apanhada, no próprio ato,
adulterando.
E na lei nos
mandou Moisés que as tais sejam apedrejadas. Tu, pois, que dizes?
Isto diziam
eles, tentando-o, para que tivessem de que o acusar. Mas Jesus, inclinando-se,
escrevia com o dedo na terra.
E, como
insistissem, perguntando-lhe, endireitou-se, e disse-lhes: Aquele que de entre
vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra contra ela.
E, tornando a inclinar-se, escrevia na terra.
E, tornando a inclinar-se, escrevia na terra.
Quando
ouviram isto, redarguidos da consciência, saíram um a um, a começar pelos mais
velhos até aos últimos; ficou só Jesus e a mulher que estava no meio.
E,
endireitando-se Jesus, e não vendo ninguém mais do que a mulher, disse-lhe:
Mulher, onde
estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou?
E ela disse:
Ninguém, Senhor. E disse-lhe Jesus: Nem eu também te condeno; vai-te, e não
peques mais.”
Sem adentrar no mérito da
literalidade da Lei de Moisés, nem apresentar juízo de valor sobre a “tradição”, ou sobre os valores das relações familiares da época, que já invocavam o novel conceito de "feminicídio", vale
destacar a premissa da falibilidade do ser humano – que prejulga, que é
violento, e enaltece o circo.
Foi sob o estigma de condenada e sentenciada, sem o
devido processo legal, que Dilma Rousseff fora perfilada perante o verdugo,
levado ao escárnio público, e postada num cadafalso de argumentos trôpegos,
inflados por opositores medíocres, cuja trajetória e presente não lhes contemplam
dignidade.
Dilma, em suplicio, roga por um julgamento realizado
por magistrados de mãos limpas, de passado idôneo, pois seus desafetos e
acusadores estão desprovidos do credenciamento que cobram da Presidente da
República.
Sem se socorrer do peso que o cargo lhe confere,
Dilma pouco ou nada tem feito para mitigar os feitos e efeitos da apuração dos
crimes de lesa-pátria, e a cadeia tem recepcionado vários de seus próceres
políticos, aliados e aproveitadores de momento, numa clara demonstração de
altruísmo e seriedade política.
Seus algozes se perdem no discurso, quando provocados
para medir-lhes estatura, caráter, compromisso...
Para Dilma, envolta num mar de lama, patrocinado por
empresários aproveitadores, empreiteiros sanguessugas, vigaristas travestidos
de políticos de todo os naipes e vieses ideológicos, inclusive daqueles que
influíram diretamente para sua reeleição, só resta aguardar para ver quem lhe
jogará a primeira pedra, pois as demais virão pela inércia da sociedade omissa,
que vota mal, elege mal, e com suas sementes podres, não pode esperar por bons
frutos.
Ao leitor atento, dotado de certeza inconteste, que
sempre bem votou e bem elegeu, segue a outorga do falível escriba, para que em
seu nome atire a primeira pedra!
NOTA
DO EDITOR:
Alfredo
Marques é habilidoso advogado, com pleno domínio das melhores técnicas argumentativas
persuasórias, imprescindíveis às eficientes sustentações orais de defesa perante
o Tribunal do Júri. Seu convincente artigo faz esplender essa virtude.
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