sábado, 17 de outubro de 2015

ARTIGO - Atire a Primeira Pedra (AM)

ATIRE A PRIMEIRA PEDRA
Alfredo Marques*

Não custa recorrer às experiências catalogadas na Bíblia, delas extrair ensinamentos e aplicar, por analogia, às vivências históricas deixadas, que facilmente se observam no cotidiano, notadamente do incidente constante do capítulo 8 do Evangelho de João  (8:1-11):

“Jesus, porém, foi para o Monte das Oliveiras. E pela manhã cedo tornou para o templo, e todo o povo vinha ter com ele, e, assentando-se, os ensinava.

E os escribas e fariseus trouxeram-lhe uma mulher apanhada em adultério;

E, pondo-a no meio, disseram-lhe: Mestre, esta mulher foi apanhada, no próprio ato, adulterando.

E na lei nos mandou Moisés que as tais sejam apedrejadas. Tu, pois, que dizes?

Isto diziam eles, tentando-o, para que tivessem de que o acusar. Mas Jesus, inclinando-se, escrevia com o dedo na terra.

E, como insistissem, perguntando-lhe, endireitou-se, e disse-lhes: Aquele que de entre vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra contra ela.

E, tornando a inclinar-se, escrevia na terra.
Quando ouviram isto, redarguidos da consciência, saíram um a um, a começar pelos mais velhos até aos últimos; ficou só Jesus e a mulher que estava no meio.

E, endireitando-se Jesus, e não vendo ninguém mais do que a mulher, disse-lhe:

Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou?

E ela disse: Ninguém, Senhor. E disse-lhe Jesus: Nem eu também te condeno; vai-te, e não peques mais.” 

Sem adentrar no mérito da literalidade da Lei de Moisés, nem apresentar juízo de valor sobre a “tradição”, ou sobre os valores das relações familiares da época, que já invocavam o novel conceito de "feminicídio", vale destacar a premissa da falibilidade do ser humano  que prejulga, que é violento, e enaltece o circo.

Foi sob o estigma de condenada e sentenciada, sem o devido processo legal, que Dilma Rousseff fora perfilada perante o verdugo, levado ao escárnio público, e postada num cadafalso de argumentos trôpegos, inflados por opositores medíocres, cuja trajetória e presente não lhes contemplam dignidade.

Dilma, em suplicio, roga por um julgamento realizado por magistrados de mãos limpas, de passado idôneo, pois seus desafetos e acusadores estão desprovidos do credenciamento que cobram da Presidente da República.

Sem se socorrer do peso que o cargo lhe confere, Dilma pouco ou nada tem feito para mitigar os feitos e efeitos da apuração dos crimes de lesa-pátria, e a cadeia tem recepcionado vários de seus próceres políticos, aliados e aproveitadores de momento, numa clara demonstração de altruísmo e seriedade política.

Seus algozes se perdem no discurso, quando provocados para medir-lhes estatura, caráter, compromisso...

Para Dilma, envolta num mar de lama, patrocinado por empresários aproveitadores, empreiteiros sanguessugas, vigaristas travestidos de políticos de todo os naipes e vieses ideológicos, inclusive daqueles que influíram diretamente para sua reeleição, só resta aguardar para ver quem lhe jogará a primeira pedra, pois as demais virão pela inércia da sociedade omissa, que vota mal, elege mal, e com suas sementes podres, não pode esperar por bons frutos.

Ao leitor atento, dotado de certeza inconteste, que sempre bem votou e bem elegeu, segue a outorga do falível escriba, para que em seu nome atire a primeira pedra!






NOTA DO EDITOR:

Alfredo Marques é habilidoso advogado, com pleno domínio das melhores técnicas argumentativas persuasórias, imprescindíveis às eficientes sustentações orais de defesa perante o Tribunal do Júri. Seu convincente artigo faz esplender essa virtude.


Nenhum comentário:

Postar um comentário