SONETO-OXIMORO
Vianney Mesquita*
Sendo mentirosos
profissionais, devem os poetas ter excelente memória (Jonathan Swift - YDublin,
30.11.1667 †19.10.1745).
Gratíssima recordação tangeu-me a alma à segunda
metade dos anos 1960, quando estudava na então Escola Técnica Federal do Ceará,
hoje Instituto Federal (Campus de
Fortaleza – Av. 13 de Maio, 2081 – Benfica). Neste tempo, na E.T.F.C. havia
excelentes professores de Língua Portuguesa – conforme, certamente, ainda há –
como o foi meu guru Hélio de Sousa
Melo, fundador da Academia Cearense da Língua Portuguesa, seu primeiro
presidente.
Tal sucesso, apontado ao abrir estas notas, decorreu
de leitura do magistral texto, cujo autor é o Dr. Humberto Ellery, publicado
aqui no dia 11.10.2015, sob o título Golpe
Democrático, em que se reporta, em estilo e correção irreprocháveis, à
deplorada imagem do oximoro, perpetrado pela Excelentíssima Senhora Presidente
da República, convenientemente comentado pelo Autor, não me concertando fazer
adendos nem reparos.
Com efeito, passei o dia de hoje todo (11.10.2015)
procurando o manuscrito de um decassilábico português de minha lavra, pois,
naquele tempo, ainda tinha bom curso a craveira do soneto entre os poetas, e
havia um grupo de alunos que, sob a orientação do Dr. Hélio Melo, primava pela
composição artística nesse gradil. O texto que procurei, como quem demanda um
excelente deputado, não foi encontrado e o jeito que tive foi preencher os
claros da memória para complementar as pouquíssimas passagens das quais não
guardei decorado e de salto o conteúdo completo. Esse expediente métrico foi
produzido a instâncias do dito decassílabo camoniano, acerca do qual se
reportou o Articulista (“Amor é fogo que arde sem se ver”...), exatamente na
exploração do símile oximoro.
Não me contive e reproduzo a composição de dez ictos,
disparatada de estudo, exatamente para configurar o oximoro.
SONETO-OXIMORO
Na expungida visão de quem jaz vivo,/Cego visório o
meu exício ensaio,
Sombrio e alegre, derrotado e gaio,/Prossigo morto e
retrocedo ativo.
A igual tempo me alevanto e caio,/Em inextrincável
vividez de extinto,
Então, me apresto da verdade e minto,/Olhando, bem de
frente, de soslaio.
Cadáver esperto, cego feito lince,/Conquanto ao mesmo
instante assente e pince,/É minha insânia lúcida que exorta:
Deixa-me, então, que eu rime em verso branco,/Em
semelhante destro e esquerdo flanco,/ Doutas bobagens que o papel suporta.
(Que tal enviar para a Presidente decorar?)
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