Hotel Nacional
Wilson Ibiapina*

Quando cheguei ao
hotel, Rodolfo estava no meio da rua. Um outro cearense ilustre, o
ex-governador Gonzaga Mota, na mesma situação, já havia saído em busca de novo
abrigo. Depois ficamos sabendo que o Nacional foi obrigado a retirar seus
hóspedes por decisão da Justiça, que dava reintegração de posse à empresa dona
do terreno, o Banco Rural, aquele que foi tragado pelo mensalão.
O grupo Canhedo, do
empresário Wagner Canhedo (que ganhou a Vasp a preço de banana e levou à falência) não pagava a taxa de administração do imóvel havia mais de três anos. dívida de mais de 30 milhões de reais. No mesmo dia, à tarde, o Grupo Canhedo
conseguiu cassar a liminar de despejo e o hotel voltou a funcionar normalmente,
mas a imprensa foi proibida de entrar no local. Apenas alguns hóspedes voltaram
ao Nacional. Era o declínio daquele hotel de luxo intimamente ligado à história
política do País.

Desenhado pelo
arquiteto Nauro Jorge Esteves, o hotel, com dez andares e 347 apartamentos, tem
uma suíte presidencial com quatro quartos; quatro closets, mesa de reuniões,
bar e sala de jantar.
Inaugurado em 1961,
hospedou a Rainha Elizabeth e o Duque Phillip, o francês Charles de Gaulle, os
americanos Jimmy Carter e Ronald Reagan, e muitos outros políticos, diplomatas
e celebridades como Roman Polanski, John Travolta e Roberto Carlos.
As suas galerias, na parte térrea, eram ocupadas por lojas de artesanatos, roupas, livrarias, empresas de aviação, agências de viagens, imobiliárias e lanchonetes que atraíam os brasilienses. O movimento em frente a entrada principal do hotel lembrava a rua Guilherme Rocha, em Fortaleza. Justamente o trecho da casa Parente, Loja Vox, livraria do Edésio, onde a moçada se postava, jogando conversa fora, cubando o movimento.
Foi na calçada do
hotel, batendo papo, que conheci os jornalistas Roberto Macedo e Hélio Doyle, no
inicio dos anos 70. O movimento aumentava quando do Festival de Brasília do
Cinema Brasileiro. Artistas como Paulo José, Dina Sfat, Darlene Glória, Ítala
Nadi, Leila Diniz e Arduíno Colasanti, galã do cinema novo, que foi casado com
a atriz e escritora cearense Ana Miranda, se exibiam na piscina do hotel, observados por jornalistas, hóspedes e fãs.

Nas décadas de 60 e 70 o hotel era o local de happy hour de políticos e jornalistas. Mesas de baralho, uísque, paqueras e conversas que varavam a noite, começavam no restaurante principal, com maitre e garçons vindos do Rio de Janeiro e São Paulo e geralmente passavam pela boate Tendinha, ou pelo restaurante Tabu. No Bar, os políticos, senadores, embaixadores, ministros, deputados se revezavam ao telefone, caçados pelas telefonistas para atender os chamados dos amigos e contar os bastidores. A feijoada, aos sábados, reunia a fina flor dos Ponte Preta.
Era no Nacional que
a cidade promovia festas de debutantes e bailes de carnaval e de passagem de ano.
Lembro que no baile em comemoração aos 15 anos de Brasília a Globo flagrou a
presença da menina Brasília, a primeira a nascer na nova capital. Embora
estivesse também completando 15 anos não lembraram de convidá-la. Ela viu tudo
do jardim em frente ao salão de festa, no sereno, esquecida.
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