sábado, 30 de junho de 2018

CRÔNICA - Golvavá (TL)


GOLVAVÁ
Totonho Laprovitera*



A tradicional macarronada italiana da família Laprovitera, faz-se acompanhar de bracciola (enrolado de carne recheada) e polpette (bolinho frito de batata, às vezes recheado de salsicha).

Lá em casa existia a “cozinha do povo”, um amplo cômodo de serviço nos fundos da residência, para apoio aos habituais festejos da família. E foi onde a bracciola virou “brajola” e  polpette “propeta”, pelas afetuosas cozinheiras e copeiras que aportuguesaram as palavras da língua italiana.

Em 1962, no Chile, Vavá foi um dos artilheiros da Copa do Mundo com cinco gols e bicampeão mundial. Na época, aos 5 anos de idade, eu dava um trabalho danado para comer. Aí, no almoço, a Maria (minha segunda mãe) espetava uma propeta com o garfo e, imitando o locutor do rádio, gritava: “Gol, Vavá!”. Encantado, eu abria a boca e me deixava alimentar.

A partir de então, lá em casa, a propeta, que era polpette, passou a ser chamada de “golvavá”!




COMENTÁRIO

Zélia Gatai lançou um livro que denominou “Códigos de Família”. A obra trata dessas expressões curiosas nascidas de fatos singelos, porém marcantes, que se tornam corriqueiras entre pais e filhos, entre irmãos, entre familiares, às vezes perfurando gerações do mesmo clã.

Totonho traz nessa sua saborosa croniqueta a evolução na terminologia culinária italiana, no seio de sua família de oriundi, com afetuosas inflexões na cultura brasileira – a gentil criadagem multiétnica e a proverbial paixão futebolística.

Dou dois exemplos pessoais, ambos no campo alimentar, para não dissentir do tema em que Totonho trefegou com galhardia.

Traficamos para a nossa família uma expressão dos Coelho Ximenes, célula familiar com cujas últimas gerações a minha gente se irmanou.

Contam eles que uma tia, de finanças modestas, visita a casa da cunhada pecuniosa em reunião familiar, e, a certa altura, na roda feminina, ansiosa por oportunizar um pequeno luxo que a sua dispensa não fornece, ela indaga à anfitriã: “Emília, tem queijo? Pois vamos a ele!

Por isso, aqueles, e depois os meus, passamos a solicitar que algum acepipe venha à mesa com essa frase, na direção de quem esteja no serviço: “Emília, tem queijo?”.

Um segundo código de família de minha casa, também culinário, teve início no Sítio Nirvana, lá pelos anos 60, entre irmãos e primos da prole de minha mãe e de minha tia, reunidos para as férias.

Elas costumavam mandar ferver as roubas lavadas, creio que para obter melhor limpeza ou para evitar contaminação de qualquer ziquizira que o ambiente sertanejo transmitisse às crianças, no convívio com os bichos e com os simples.  

Uma certa manhã os meninos percebemos a grande lata cheia de panos fumegando entre as panelas do fogão, e quando ao meio dia foi servida uma travessa com “arroz Maria Izabel”, conhecido no sertão como “arroz de atoleiro”, este ganhou imediatamente, entre nós, o apelido de “sopa de roupa”, assim até hoje conhecido esse prato por meus netos, primos-terceiros, sobrinhos-netos.

Reginaldo Vasconcelos



COMENTÁRIO

Muito me causa saudades essa referência do Reginaldo a esse pitoresco fato havido em minha casa, pelos idos dos anos 70. A Emília do “Emília tem queijo?” era minha mãe. A outra interlocutora era a minha tia Cotinha. Faz tanto tempo que os nosso estoque de queijos sofriam aquelas avarias...

Paulo Ximenes

Um comentário:

  1. Muito me causa saudades esse referência do Reginaldo a esse pitoresco fato havido em minha casa pelos idos dos anos 70. A Emília, do "Emília tem queijo?" era a minha mãe. A outra interlocutora era a minha tia Cotinha. Faz tanto tempo que os nossos queijos sofriam aquelas avarias...

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