segunda-feira, 26 de setembro de 2016

ENSAIO LITERÁRIO - Folhas Mortas I (VM)


Folhas Mortas
Inspirações em Versos Ecléticos (I)
Vianney Mesquita*



Se o poeta não pode iludir, não é poeta; e falar em poesia com raciocinio é igual a se referir a um animal pensante. (G. LEOPARDI. Poeta e filólogo italiano. Recanati, 29 de junho de 1798; Nápoles, 14 de junho de 1837).

       

1 INTRODUÇÃO

Embora coetâneo de Santiago VASQUES FILHO e conhecedor de sua obra artística, não experimentei a ventura de privar do seu convívio.

Dado às coisas do espírito, o Rapsodo piauiense cultuou vigorosamente a arte da Pintura, havendo deixado copiosa produção em variados gêneros, registados em guaches, óleos e aquarelas. Jornalista colaborador de periódicos do Ceará, Paraíba e Estado do Rio de Janeiro (Niterói), frequentou movimentos culturais dos mais diversos jaezes, como, exempli gratia, no exercício da logogrifia, discurso em prosa escrita e aplicação na atividade de composição e decifração de palavras cruzadas.

No século, hic est, em contraposição aos exercícios da cultura incorpórea, o Poeta foi magistrado e advogado competente, creditando, ainda, ao seu currículo, a pertença à vida castrense.

Dessa atividade multímoda, nos misteres seculares e fora destes, destaca-se em motos literários do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Pernambuco, Bahia, Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Paraná, Mato Grosso do Sul, e até do Exterior, feito titular de uma cátedra do Instituto de Cultura Americana, do México.

Ao atestar a grandiloquência de sua produção na senda das letras, com destaque para a poesia, o Autor de Bronzes e Cristais granjeou muitos prêmios, em concursos de poesia, trova e soneto, representados por diplomas, medalhas e troféus, consoante registam Girão e Sousa (1987 p. 231), em cidades das diversas unidades federadas há pouco mencionadas.

A despeito de sua obra multifária, foi o metro a socializá-la no País inteiro, mercê dos trabalhos de rara beleza, como o prefalado Bronzes e Cristais (1975), Cantigas de Três Patetas, em parceria com Aloísio da Costa e César Torraca (1985), e o Folhas Mortas (glosado no meu Fermento na Massa do Texto - Apreciações – MESQUITA, Vianney -2001), dado ao público em 1985, em edição princeps, numericamente limitada e artesanal, com o sinete das Academias Espirito-santense de Letras e Brasileira de Literatura, reeditada, desta vez industrialmente, em 2000, pelas Edições UVA, de Sobral-CE.

Caminhos sem Fim, romance de 1984, O Testamento e outros Contos, e O Azarado e outros Contos pertencem à prosa de ficção do Autor, assinante, também, de Três Ensaios Literários, todos eles de apreciável valor artístico e didático, não editados.

2 TRÊS ASPECTOS DA PRODUÇÃO

Sem qualquer pretensão ensaística para cobertura de toda a obra desse Autor, evidencio três aspectos de suma relevância em qualquer escritor e em todos os seus produtos, nomeadamente no de feição poética, o qual, além do gosto estético a infundir nos leitores, solicita outras tenções autorais a fim de conferir às composições do gênero verdadeira axiologia de conteúdo, tornando-se resistentes a modismos, épocas e escolas.

Neste passo, apraz-me remeter o leitor à ideia do crítico de nomeada nacional, o cearense Pedro Lyra, sustentada na segunda edição de Utiludismo – a Socialidade da Arte (1982:39, acerca dos conceitos de a) a forma como eficácia, b) o conteúdo como interesse e c)a fusão de ambos como condição de permanência da obra de arte, pressupostos habitantes dos trabalhos de Vasques Filho.

Três requisitos, conforme o Autor de O Reduto Ontológico do Poema, são indescartavelmente requeridos para configurar a verdadeira obra de arte: eficácia, interesse e transcendência.

O argumento da eficácia está na capacidade de um sistema para alcançar os objetivos constituintes de sua razão de ser, enquanto o interesse se vincula à capacidade de atrair o outro e mantê-lo indefinidamente em contato. A seu turno, a transcendência, conforme a ideação de logo conota, está na capacidade de ultrapassar os limites espaçotemporais de origem, para permanecer no convívio das sucessivas gerações. Pedro Lyra ainda explica:

[...] a transcendência reside na sua substância ideológica, a sua eficiência reside na maneira como essa substância é preparada e apresentada ao público, ou seja, na FORMA como é considerada concluída pelo autor. (LYRA, op. cit, p. 40. Versal meu).

Convicto, pois, estou do fato de os trabalhos de Vasques Filho resguardarem essas características, coerentemente divisadas por Lyra, constituindo teores transcendentes.

Então, inventario os aspectos há pouco mencionados, intrínsecos aos escritos de Vasques Filho:

 detenção de sólido e apurado aparelhamento intelectual;

 conhecimento e domínio das técnicas de métodos de
versificar; e

 saber, domínio e emprego vasto e correto da Língua Portuguesa.

(Continua, oportunamente, com o módulo II).



Observação


Conforme é de costume, vez por outra, o autor deste trabalho seriado de crítica literária experimenta abandonar a partícula quê, a fim de demonstrar o fato de seu emprego não fazer – ou fazer pouca – falta numa escrita, aplicando recursos substitutivos oferecidos pela extraordinária “última flor do Lácio”.


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