domingo, 18 de setembro de 2016

APRECIAÇÃO LITERÁRIA - Dois Espiroás (GJ)


DOIS ESPIROÁS*
Geraldo Jesuino**


Quem não conhece o caminho que conduz ao mar convém que tome por guia um rio. (Tito Mácio PLAUTO – dramaturgo latino).


Há um Espiroá passando pelo Município de Caucaia, no Ceará. É riacho tímido que, quando as chuvas se lembram, se esgueira em ritmo de preguiça por baixo de uma pontezinha, pouco maior do que um bueiro, que emenda a Rodovia Pres. Juscelino Kubitschek. E existe este outro Espiroá, da literatura alteada do escritor piauiense, morador no Ceará, Augusto Rocha.

Aquele, naquela ponte (ícone), é o local da última e perigosa dose de adrenalina a marcar o final da saga e a impor reflexão e recolha ao aventureiro. Os riscos e os ganhos, as dores e os prazeres, os recantos e os cantos do motor, do vento surfando na velocidade e dos lugares – a exuberância e a grandeza da natureza – tudo está cuidadosamente acomodado nos alforjes.

Um quase breviário – a prova de que nada foi esquecido – este Espiroá é mimo urdido com as precauções deste intelectual de alta envergadura que, desvestido temporariamente de sua armadura de ousado viajor, o engendrou com o cuidado e a paciência dos grandes talentos.

Aqui, muda de transporte, habita o território da palavra e nos oferece, em linguagem esmerada e narrativa cuidadosamente constituída, sem riscos, intempéries, dores ou desgastes de qualquer natureza, a oportunidade de desfrutar consigo, nas páginas do seu Espiroá, cada detalhe desta sua mais recente e formidável aventura.

Respaldado na experiência dos milhares de quilômetros percorridos pelo Mundo e no domínio da escrita, obtido nos seus Vou no BomboSagandina e Carregadores de Melancias, Augusto Rocha nos leva, sem perder ou omitir detalhes, por caminhos de rude severidade ou rara beleza, até a BahíaLapataia, nos confins da Antártida, e nos devolve esses pormenores da viagem, incólumes e felizes, mesmo após o susto na chegada, quase sobre a ponte de um regato preguiçoso e escondido que se fez título de mais uma obra de qualidade inconcussa. 


*Texto de quarta capa de Espiroá, de Augusto Rocha. Fortaleza: Expressão Gráfica, 2016.


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