domingo, 10 de maio de 2020

POEMA - Sonho de Sonhador (ES)


Sonho de Sonhador
Edmar Santos*


Não precisa ser noite, precisa ser sono.
É assim que o sonho vem, nem sempre tão apressado.
Tem bocejo preparatório, ronco persecutório,
preguiça esticada na colcha, escuro de olho fechado.
Empurrão que ninguém deu, apagão geral de ideia,
imagem do nada em breu, cabeça que vira de lado.


Um tempo que não se conta, teatro que não se apronta,
cenas que se misturam, colorido e desbotado.
Atores de várias faces, corpos de todo tamanho:
anjo, princesa, rei e demônio, um bicho desembestado.
Voando de céu a fora, caindo de inferno a dentro,

regate por ser de luz, queda de jumento empacado.
Cena de se lembrar, caso de se esquecer,
na hora do beijo esperado, no adeus que faz doer, casamento acabado.
Sufoco que falta o ar, suspiro avexado,
cachorro atrás do próprio rabo,


casa de porta aberta, o outro que sai suado.
Tentativa de lembrar a parte que falta,
de esquecer lembrança ruim,
lentidão querendo correr, um amor inacabado.
As vezes até tem gemido, cara de burro amansado;

em outra até faz gritar, como quem tá acuado
Sonho sonhado é bicho de dentro,
falando pro de fora pensar,
sentido do que não foi dito,
que deva ser escutado.


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