sexta-feira, 19 de maio de 2017

CORRESPONDÊNCIA - Vianney Mesquita a João Soares Neto


CORRESPONDÊNCIA
Ao Escritor João Soares Neto*


Por Vianney Mesquita**




Fortaleza, 18 de fevereiro de 2013.
Prezado Dr. João Neto,
Abraço.


Muito me contenta acusar e agradecer pelo convite para sua posse como imortal da Academia Cearense de Letras, nosso mais distinto Sodalício, locus de peso da intelectualidade literária deste Estado.

Folgo, em particular, com o fato de recair a opção em um nome denso da nossa inteligência, o qual acompanho, velada, mas intensivamente, desde os anos 1960. Quando ainda discente secundarista da antiga Escola Industrial de Fortaleza – hoje Instituto Federal de Educação – apliquei questionário público (amostra) de sua COCEA – Companhia Cearense de Administração, na oportunidade em que empreendeu investigação científica (já naqueles tempos, cuidava, na juventude mediana, de misteres tão assinalados!) com vistas à instalação de ônibus elétricos na urbanisticamente claudicante e ainda arquitetonicamente provinciana Fortaleza.

Meu regozijo é dirigido, neste passo, a crédito, por primeiro, do seu perfil de pessoa afeita aos estudos diuturnos e sem intermitências, como escolar demandante do estado d’arte dos saberes da Ciência de Henri Fayol, dos teores aziendais e do Direito, sem descurar das artes e da cultura, fato demonstrado constantemente em suas manifestações nos registos em livros, bem assim em artigos e crônicas de inconcussa qualidade na imprensa local.
A outra parte desse confesso júbilo assenta no êxito de a ACL haver promovido esta excepcional renovação do seu quadro academicial, rejuvenescido de intelecção e produção, a fim de se destacar no Ceará e noutros rincões, do Brasil e do Estrangeiro, como prima inter pares de nosso discernimento literário.

Sabe, infelizmente, o preclaro companheiro da quase indigência de alguns silogeus cearenses, onde, via de regra, o prestígio social, assistido pelos haveres financiais e certas circunstâncias ocasionais, é que preenche suas cátedras, chegando a quase lotar alguns deles de pessoas apenas mais do que alfabetizadas. São participações goras e brocadas, defesas de produzir, exatamente à míngua de aptidão intelectiva; ou, quando muito – quiçá isto se afigure pior – levando à luz produtos desabridos em quaisquer gêneros, insossos e sem humo algum de originalidade, porquanto jamais perseguiram as feições de intelectuais, pela via do estudo procedido de caso pensado, da leitura constante e das observações inteligentes no labor dos bancos e campos de prova das universidades.
       
Intelectual à força, osmótico, é impossível! E nossas entidades culturais e científicas os têm em profusão. Ó tempora! Ó mores! Perversidade cultural dos nossos tempos! Para não ser fastidioso, me reporto à produção nas quais é sensível o pasticho servil, visível é o expediente (talvez até ingênuo) da cópia amouca, notadamente colada de escritores mais recuados e de estrangeiros, como, e.g., historiar fatos do século XVII, sem mencionar literatura, como se fosse possível longevidade matusalênica para viver os períodos históricos, consoante ocorre na obra princeps de um conhecido escritor brasileiro, postado na crista do sucesso e assentado no topo da ascensão.

De efeito, prezado imortal, Dr. João Soares Neto, tenho razões para celebrar esse feito justo e oportuno, na convicção de que concorrerá para engrandecer os haveres intelectuais da Academia Cearense de Letras, ditosamente ali tão ocorrentes, entre a maioria, nas pessoas de Pedro Paulo Montenegro, Giselda Medeiros, José Augusto Bezerra, Eduardo Diathay, Batista de Lima, Marly Vasconcelos, Carlos d’Alge, Linhares Filho, Noemi Elisa, Ednilo Soárez, Luciano Maia, Juarez Leitão, Cid Carvalho, Dimas Macedo e tantos outros.

Fora de dúvida, esta representou para mim, até agora, a melhor notícia de 2013.

Como remate, aceite meus emboras e as escusas por não comparecer à festa, em razão de um evento de natureza cardiovascular, felizmente – pensamos eu e o meu cardiologista Valdester Cavalcante Pinto Jr. – sem maiores consequências.

Atenciosamente.

V.M.


Obs. Não houve registo de recebimento desta mensagem.





RESPOSTA:

Caro ex-colaborador, amigo e preclaro mestre Vianney Mesquita

“Compreender tudo, é tudo perdoar”. Tolstoi


Não recebi, não sei a razão, sua missiva congratulatória quando do meu ingresso na ACL. Só agora, por meio do Reginaldo, dela tomei conhecimento.

Por seu talento, ela é maior que o meu merecimento. Obrigado. Passados quatro anos da posse, posso lhe dizer o que acho da minha ascensão à Cearense.

Poderia ter querido entrar quando da morte da minha amiga maior, Natércia Campos.  Instado, não aceitei. Igualmente, quando da morte do meu colega de Administração, José M. Barros Pinho. Rejeitei, de plano.

Só depois é que me candidatei em disputa com mais três candidatos, dois professores universitários(homem e mulher) e um magistrado de 2o. Grau. Ganhei, no primeiro escrutínio, com 24 votos.

Fiz o discurso de posse, lutei pela reforma do Palácio da Abolição, desde quando presidente da Fortalezense (2008-2010), publiquei alguns textos nas edições anuais da Revista da ACL. Um novo livro. Nada mais.

Há pessoas que lá estão sem merecimento. Entraram por pressão política e/ou compadrio. Ausentam-se, pois nada têm a contribuir.

Agora, envergonhado pelo não conhecimento, no tempo certo, de seu belo texto, peço que me redima dessa involuntária falta.

Defeitos? Tenho muitos, não o da ingratidão. O meu respeito por você é incondicional. Saiba disso nesta serôdia mensagem.

João Soares

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