sábado, 13 de maio de 2017

ARTIGO - A Voz das Urnas (RMR)


A VOZ DAS URNAS
Rui Martinho Rodrigues*



As eleições francesas, as americanas, consultas populares sobre a paz com as FARC e a saída do Reino Unido da União Europeia apresentaram resultados surpreendentes. Partidos tradicionais, lideranças estabelecidas, ideologias e imprensa apresentaram-se desacreditados. Mais do que isso: o eleitorado votou contra toda esta lista. Trump não venceu.

Quem perdeu foi a grande imprensa americana, que era toda contra ele; quem perdeu foram os partidos, inclusive o Republicano, derrotado nas prévias. Na eleição francesa quem perdeu foram os grandes partidos. Novos líderes e novas agremiações estão na ordem do dia dos eleitores.

Alguns rumos temidos também não se confirmaram. O avivamento da paixão nacionalista, embora forte, não se mostrou dominante. A Frente Nacional, na França, malgrado tenha tido uma votação sem precedentes, sofreu uma derrota esmagadora.

Trump, nos EUA, venceu, mas não convenceu, não teve maioria nos votos populares nem tem a aprovação dos cidadãos para o que está fazendo. Outras eleições na Europa apresentaram resultados semelhantes aos da eleição francesa. Partidos, líderes e formadores de opinião perderam o contato com o público.

O monopólio da doutrinação ou desinformação foi quebrado. Escolas e imprensa têm agora a concorrência da internet. A maioria silenciosa encontrou sua tribuna. A satisfação das aspirações é inalcançável. Nunca houve tanto conforto material e tanto acesso aos serviços essenciais, contrariamente ao vaticínio da teoria da pauperização, mas nunca houve tanta insatisfação.

Câmaras sempre presentes; registros eletrônicos indeléveis; acordos de cooperação internacional obrigando os paraísos fiscais prestar informação sobre transações suspeitas; e o fortalecimento do direito premial, estimulando a colaboração dos réus, tudo isso tornou impossível esconder as práticas criminosas.

Os políticos, porém, ainda não entenderam isso. Habituados a um modo de governar criminoso, agora não sabem o que fazer, nem para escapar à ação da Justiça, nem para continuar na política. Buscam a impunidade, mas não está fácil destruir a Lava Jato. Buscam legalizar as práticas delituosas, mas até o constrangimento internacional obstaculiza este roteiro.

A democracia, por outro lado, não possui instrumentos legais para se defender das maiorias criminosas. Este é o impasse.



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