A CASA CAIU
Reginaldo Vasconcelos*
A
cidadania brasileira toda vida soube, e sempre comentou a boca pequena, mesmo muito
antes de delações premiadas, que as práticas políticas em Brasília nada tinham
de republicanas, tudo permeado pelas “tenebrosas transações” a que se referiu
em letra de música o compositor Chico Buarque – ainda atribuindo ele os desvios
éticos à elite da direita, que então dominava a cúpula do poder.

Mas
também sempre foi discutível a representação popular no Brasil em virtude
de que as campanhas políticas, que antes compravam a alma popular com
dentaduras e tijolos, com o advento da mídia eletrônica passou a iludir consciências
com falsas virtudes, vendidas com propagandas enganosas, o que perverte totalmente
a democracia, em seu conceito original.

Sendo
assim, é claro que grupos de interesses – grandes empresas, empreiteiras dos
governos, traficantes de drogas, cardeais do jogo-do-bicho, igrejas evangélicas
– todos estes estamentos financiam campanhas para que, uma vez encastelados no
poder, os políticos financiados lhes atendam as pretensões, sempre de forma espúria
e imoral, não raro em prejuízo do erário e até da incolumidade popular, como no
caso de negligenciar providências nos campos médico e alimentício.


Quando
as esquerdas brasileiras, que faziam oposição ao “capitalismo selvagem” da
direita desonesta, ascenderam ao poder, todos os mais conscientes brasileiros
exultamos, certos de que haveria uma faxina ética no Governo Federal, com reflexos em todas as esferas de poder.

Caiu-se
no mais desvairado paternalismo social, instalando-se a troca de “miçangas e
espelhinhos pelo voto” – bolsa disso, bolsa daquilo – e o crime organizado crescendo
e apavorando, a droga grassando, o novo cangaço explodindo tudo, a saúde
pública matando nas filas, e a educação produzindo analfabetos funcionais e
doutores que não redigem corretamente um só bilhete.
Ônibus fornecidos e sanduíches franqueados pelo agitar de bandeiras e o queimar de pneus
pelos grupos marginais de sustentação do governo, invasores de propriedades, mantidos com recursos
desviados por meio de ONGs e de verbas sindicais. E os negócios entre os Poderes
Executivo e Legislativo garantiam a maioria folgada para aprovar o que bem quisessem
no Congresso.

Porém, o novel instituto da delação premiada veio como São Jorge e seu cavalo
justiceiro, patanhando sobre o dragão da iniquidade, a rasgar o véu da mentira,
a fragmentar as quadrilhas instaladas nos palácios de Brasília. A Operação Lava
Jato da Polícia Federal, apoiada pelo Ministério Público, servindo ao bravo magistrado Sérgio Moro.
Isso
levou Dilma Rousseff a se chocar com os bandidos da base aliada a quem dera
poder para roubar. Assim ela perdeu o seu apoio no Congresso e foi defenestrada
do poder, por meio de um processo regular de impeachment, juridicamente fundamentado em um crime fiscal, mas politicamente
causado pelo lixão a céu aberto que se passou a chamar “conjunto da obra”. E então
a casa derruiu parcialmente.

Pessoalmente,
sem nenhuma simpatia por Michel Temer, enojado com o seu Ministério de
cretinos, de vez em quando caindo de podre um dos ministros, me incomodava no entanto com as esquerdas revoltosas, agora na oposição,
a torcer pelo "quanto pior melhor", por mera vingança política, como a torcida do
Fortaleza, se o Ceará perder para o Ibis, o pior time do mundo – sem se incomodarem com o Brasil. E o
Brasil está sangrando, como sentenciou o Ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal.
Eu
de cá rezava para que não chacoalhassem demais a pinguela precária sobre a qual
estava a política brasileira, pois não havia de como voltar, nem de como salvar
a Nação se o Governo Federal não atravessasse o Rubicão, se precipitasse no
abismo e não chegasse ao fim do mandato, pois era preciso recuperar a economia
esfrangalhada por Lula e Dilma, que se não roubaram deixaram roubar, vitimando
a Petrobrás, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica, o BNDES, e assim por diante.

Por isso os brasileiros sérios não têm o que comemorar
neste momento, porque haverá um retrocesso perverso no crescimento econômico do
País, que começava a dar sinais de redenção. Haverá recrudescimento da
recessão: redução no desempenho da indústria e do comércio; queda no nível de
empregos, já dramaticamente baixo; perda de credibilidade do Brasil nos
mercados estrangeiros, já tão prejudicada – entre outras desgraças.
Sendo assim, não venha ninguém apontar a imundície alheia com o dedo emporcalhado.
Não venham os esquerdistas soltar fogos ao meu lado, e não venham exultar perto de mim Farias, Grazziotins e Hoffmanns, gozando com o aprofundamento da crise de cujas causas também participaram. Como diria Nelson Cavaquinho, tirem o seu sorriso do
caminho, que o Brasil quer passar com a sua dor.
E que Deus se apiade de nossas almas, como nos ensina a dizer Vianney Mesquita.
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