REPÚBLICA
DOS EMBUTIDOS
Arnaldo Santos *
Por mais que o
Presidente Michel Temer aposte na mediocridade dos integrantes do Congresso
Nacional, na indigência moral e ética daqueles que, direta ou indiretamente, estão envolvidos na trama e o querem no poder, sob o falso argumento de que sua
saída prejudicaria ainda mais o país, e até na omissão e morosidade do Poder Judiciário,
seu mandarinato já não serve nem para produção de embutidos pela JBS.
Mesmo com todo o
desprezo que o senhor Michel Temer demonstrou nutrir pela República, (esse
sentimento ficou claro ao se permitir participar da trama que agora está sendo
divulgada), e pelo que se pode depreender dos fatos revelados nas gravações dos
Irmãos Batista, (ainda que editadas ou forjadas), não é preciso ser
constitucionalista nem penalista para logo se perceber quão graves são os
crimes contidos no diálogo do empresário com o ainda Presidente.
Se as delações dos
executivos da Odebrecht não encontram precedentes na história política
brasileira, pelo largo espectro de políticos e partidos envolvidos, convido os
do "andar de cima", que ora fazem de tudo para defender o senhor
Michel Temer, a fazerem uma aligeirada reflexão sobre a gravidade dos crimes
cometidos pelo Presidente da República, a partir dos conteúdos revelados nessas
gravações publicadas nas últimas duas semanas.

Tudo isso relatado ao
Presidente, até com uma certa jactância, pelo senhor Joesley – que, a bem da
verdade, já era investigado pela prática de outros crimes, em cinco outros
processos pretéritos aos fatos agora revelados. Para agravar ainda mais o nebuloso cenário em
que esses fatos ocorreram deve ser dito que a trama foi encenada em uma reunião
secreta no Palácio do Jaburu, onde o senhor Michel Temer teve a preocupação de
perguntar ao seu interlocutor se alguém o havia visto entrar. O leitor saberia o
porquê desse cuidado? A um presidente da República é dado o direito a conversar
com um criminoso confesso, e ouvir os relatos dos seus crimes, e, não só ficar
calado, mas até manifestar o seu apoio?
O senhor Michel Temer,
ao aceitar participar desse despudorado enredo, demonstrou, além de desapreço
pelo republicanismo, não ter qualquer noção das nobres responsabilidades e da
concepção do que significa exercer a função de Chefe de Estado. Assim, é
preciso dizer-lhe que a majestade do cargo de Presidente da República não se
coaduna com a realização de encontros, ainda que informais, às escondidas, na
calada da noite, e menos ainda em companhia de um criminoso lesa-pátria, para tratar
de negócios pouco ortodoxo com o Governo.
Diante dos fatos que
abalaram a Nação, quando o Brasil inteiro esperava sua renúncia na última
quinta-feira, o senhor Michel Temer surpreendeu a todos, reafirmando sua
permanência no cargo. Aqui deve ser lembrado que quando a banda
"pútrida" dos seus Ministros começou a ser denunciada pela Lava Jato,
o Presidente logo se apressou em estabelecer e anunciar uma linha de corte,
adotando como critério para exoneração dos mesmos a denúncia contra eles, pois
enquanto investigados permaneceriam nos cargos, e assim é até hoje. Adotando
para si o mesmo critério, para o seu próprio benefício, talvez por isso tenha
afirmado em alto e bom som que não renunciaria, já que, por enquanto, é apenas
investigado, por determinação do Ministro Edson Fachin.


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