quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

CRÔNICA - O Escândalo (RV)


O ESCÂNDALO
Reginaldo Vasconcelos*


Numa rota doméstica banal cai no mar o avião particular que transporta um dos homens mais visados da atualidade brasileira, o juiz que julgará centenas de componentes da cúpula da República, envolvidos no maior escândalo de corrupção da vida do País, um dos mais momentosos na História Universal.

Morre assim esse personagem de repente, dias antes de homologar delações feitas contra políticos poderosos, por portentosos empresários, e naturalmente o fato levanta fundadas suspeitas de atentado contra ele.

A lei das probabilidades aponta para a eventualidade de que figurões magoados com a cadeia por ele decretada, e tantos outros que estão caminhando na prancha rumo ao castigo e à desgraça, tenham contribuído de alguma maneira para o fato.   

A começar pelas hipóteses mais simples, de que algum sicário fanático das hostes criminosas tenha sabotado o avião, ou lhe dado orientações erradas a partir de uma torre de controle, ou que dinheiros imundos hajam rolado para financiar o perverso desatino.

O piloto era devidamente habilitado e por demais experiente na rota e no aparelho que voava, e este, se garante, era moderno e seguro, em perfeita ordem, com todas as revisões em dia, o que afastaria a possibilidade de falhas humanas e mecânicas.

Ressalva-se que chovia no momento, e que não havia um copiloto – mas contra isto há o argumento de que este seria útil, porém não necessário, tanto assim que não era obrigatório. Também se tem dito que chuva não derruba aviões, pois do contrário todos os dias cairiam vários em volta do Planeta. É voz comum que não havia vento – este sim, agudo perigo em momento de pouso e decolagem.

Então se revelam as gravações de bordo – ainda não trazidas a público – em que o piloto nada relataria de anormal no seu organismo, em seu psiquismo, ou na máquina que conduz. E, de súbito, CRECHE! – o parelho mergulha no mar, matando por traumatismo e afogamento os viajantes.

Mas se diz que o campo de pouso não é dotado de aparelhos, obrigando à operação visual, e o teto de voo estava baixo – mas isso não era fato novo naquela região, que nem por isso jamais foi interditada, e desde sempre é intensamente utilizada pelo tráfego privado.

Particularmente, eu não acredito no acaso, porque não aceito ser meramente casual a minha própria existência, desde o encontro fortuito em que um jovem casal cruzou olhares numa tarde dos anos 40 e pouco tempo depois resolveu fazer família.

Tudo pode ter acontecido com o avião de prefixo PR-SOM, semelhante ao PT-IOL do Banco do Nordeste, no qual por vezes eu sobrevoei o Estado do Rio. Tudo pode ter acontecido, menos um fato aleatório, independente do grave contexto humano em que ele incide, e das consequências sociais que ele provoca.

Quando o Voo 168 da Vasp colidiu com o Serra da Aratanha, em 1982, matando os 137 ocupantes, principalmente o nosso Chanceler Edson Queiroz, tão absurdo parecia o fato que muito se disse e até hoje há quem acredite em suicídio do piloto.

Sim. Todo dia um depressivo se mata em algum lugar, e nada obsta que um deles esteja eventualmente diante de um manche aviatório e resolva chocar este mundo, e se fazer acompanhar no outro mundo por um séquito de pessoas, somando a desgraça alheia à sua tragédia pessoal.

Certamente este não é o presente caso, tendo em vista o quadro absolutamente saldável em que o piloto Mazinho se encontrava, um homem feliz e querido de todos, profissional prestigiado e sem vocação a camicase, o qual foi tão vítima do acidente quanto os seus comorientes.  

Mas nada me demove da ideia de que as forças do mal que infelicitam o Brasil presentemente tenham se conjugado no éter para obumbrar os olhos lúcidos do inditoso aviador, e para fazer trepidar seu pulso firme, a fim de produzir o desastre e mover o escândalo.

É inevitável que venha o escândalo, mas ai daqueles por quem venha o escândalo”, segundo o Cristo advertiu.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário