terça-feira, 31 de janeiro de 2017

ARTIGO - Manipulação das Massas (RMR)


MANIPULAÇÃO
DAS MASSAS?
Rui Martinho Rodrigues*


Fala-se em manipulação das massas, quando se perde eleição. Quem vence não duvida da consciência política do povo. Falaram mal das pesquisas eleitorais, desprezando o direito à informação. Os críticos passaram a vencedores... e as críticas cessaram. A lei da ficha limpa restringiu as escolhas do eleitor. Imposição da ética.

Só os sabichões têm consciência política. E o povo? Só se votar como eles querem.

Eleição não é o caminho para assegurar o triunfo da “verdadeira consciência”. É o reconhecimento de que os juízos de valor e a complexidade da política nivelam por baixo iletrados e “esclarecidos”. O voto do erudito e o do apedeuta têm o mesmo valor.

Os sabichões erram iludidos com os sofismas dos pensadores de renome internacional.  O que diziam sobre globalização e livre comércio? Era neocolonialismo. Agora se opõem a quem quer acabar com a globalização e o livre comércio.

Quatrocentos milhões deixaram a miséria na China; duzentos milhões na Índia. Isso não conta. Nem conta o declínio da mortalidade infantil, o aumento da esperança de vida e dos anos de escolaridade, o acesso aos bens e serviços. A teoria da pauperização foi convenientemente substituída pela tese do “consumismo”.

É preciso negar tudo para propor o mudancismo a qualquer preço. A Filosofia quer compreender o mundo, mas é preciso mudar o mundo! Sem compreendê-lo? Eis o fundamento do totalitarismo (Hannah Arendt).

Relativistas, os “esclarecidos” falam em consciência verdadeira e em ética, se... a cobrança recair sobre o adversário. Caso contrário, falar em ética passa a ser “moralismo udenista”. Dizem não ser relativistas, defendendo apenas o conhecimento relacional. O ponto de vista seria a vista de um ponto, como se tudo fosse apenas opinião.

Mas a Matemática e a Física são cheias de constantes, inclusive na teoria da relatividade, que considera a velocidade da luz uma constante independente de qualquer referencial. Ressalte-se que a Física tem objeto material, não é puramente formal, como a Matemática; e as verdades lógicas não são relacionais. As verdades objetivas também não, quando se trate de um juízo de existência referido a um fato singular.

A ciência limitada às conjecturas e refutações, de que falava Popper, é aquela das teorias, não de simples juízos de existência referido a fatos singulares. A verdade moral também não é relacional. A redução de todo conhecimento à condição de simples perspectiva ou relação leva ao relativismo, expresso na vulgata dos campi como “verdade de cada um”, relacionada à subjetividade.

A manipulação foi problematizada pela eleição do Trump, a derrota do acordo de paz na Colômbia e o Brexit. Ela é eficaz quando diz que todos têm direito a tudo sem esforço, sem perseverança ou algum mérito; que ninguém fracassa, a culpa é do “sistema”; a solidariedade deve ser feita às expensas de terceiros; ou que ninguém erra, a culpa é da sociedade injusta; que somos virtuosos e a inveja é a nobre defesa da igualdade. A paixão nacionalista também pode ser um caminho exitoso para manipulação.

O desmascaramento vem quando os sabichões levam os seus países à ruina e os santarrões se mostram corruptos.


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