SOCIEDADE, ESTADO E BARBARIA
Arnaldo Santos*
A sociedade brasileira está sob o influxo das duas
chacinas que resultaram no trucidamento de quase cem presos, com
características de barbaria, nas penitenciárias do Amazonas e de Roraima.
Para entendermos a gênese sociopolítica dessa
exacerbação da violência, a multidimensionalidade de fatores, seja pela
ausência do Estado, cedendo lugar às organizações criminosas, com seu poder
paralelo, seja pela omissão da sociedade, será preciso retroagir na história e
lançar uma visão desnuda sobre o papel estatal e o embrutecimento social e
coletivo.

Demarcando um período iniciado no século XX,
identificamos no Estado Brasileiro uma tradição malsã, onde a face mais
violenta foi e continua sendo o abandono das crianças, ainda no ventre de suas
mães, quando lhes foram (e prosseguem) negados exames pré-natal. As filas no
sistema público de saúde, para marcação de exames e/ou consultas, compõem essa
visível e cruel realidade para com os mais pobres.

Quando sobrevivem ao
primeiro ano, graças à rede de solidariedade dos vizinhos (a solidariedade é um
valor entre os mais pobres), esse abandono do Estado se agrava, pois lhes resta
negado o mínimo, como creches, escolas e assistência à saúde, para que possam
ter uma perspectiva de cidadania.
Verdade seja dita: tudo isto sob o olhar bestificado
de parte da elite política e econômica, alimentado por uma visão atávica que a
faz pensar ser credora de todos os direitos e privilégios, que sempre tiveram
do Ser Estatal, e nem uma responsabilidade social. Ética, então – a “lava jato –
responde o quão...
Claro é que o abandono a que são submetidos os do “andar
de baixo”, a corrupção na estrutura da segurança, incluindo setores do Poder
Judiciário, somados à omissão e à insensibilidade social de parte da sociedade,
não justificam essa barbárie, mas têm relação direta com insegurança e
violência, a que todos estamos sujeitos, e não os exime de suas
responsabilidades, no tamanho e na proporção que lhes cabem.

A releitura e a internalização dos valores sociais do pensamento do professor Darcy Ribeiro oferece ao Presidente da República, aos governadores e prefeitos, a segunda oportunidade de optarem pela construção de escolas ou presídios. Qual será a opção?
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