segunda-feira, 3 de novembro de 2014

ARTIGO (RV)

VITÓRIA DE PIRRO III
Reginaldo Vasconcelos*

Humberto e o filho Fernando
O autor do artigo “Vitória de Pirro II”, postado abaixo, Humberto Ellery, é um dos mais cultos e bem informados intelectuais cearenses, embora nunca se tenha compenetrado como tal.

Engenheiro Químico, ex-oficial da Marinha, Ministro da Eucaristia, aparentemente se situa entre o pragmatismo das ciências exatas, que tão bem ele domina, os rigores da disciplina castrense, que já lhe vem no próprio sangue, filho e sobrinho de detentores de altas patentes militares, e a dogmática católica, que impõe aos fieis rígidos antolhos fideístas. Qual nada, Ellery é um humanista de escol, um filósofo refinado, um livre e eclético pensador, verdadeiro polímata, que, como todo sábio, é um polemista vigoroso. 

Quando escrevi e postei o artigo “Vitória de Pirro” neste Blog, no dia 27 de outubro, quis significar apenas que a campanha do PT à Presidência da República fora tão difícil e desgastante que, ao fim e ao cabo, não terá valido a pena para Dilma Rousseff, que agora está exposta a uma implacável oposição, submetida a indefensáveis acusações no escândalo da Petrobrás, escravizada a mentiras toscas do marqueteiro e a promessas de campanha que não vai poder cumprir. Não pretendi jamais compará-la ao Rei do Épiro.

Por exemplo, quem diz que entrou em determinado contexto como “Pilatos no Credo” não está se atribuindo os presumidos méritos do prefeito da Judeia, nem a  sua omissão culposa na condenação de Jesus Cristo, que segundo se diz ele teria cometido. Quem usa desse recurso de linguagem apenas remete analogicamente à desnecessidade do nome do pagão Pôncio Pilatos constar da prece católica romana.  

Aliás, coincidentemente, também empregou a mesma expressão "Vitória de Pirro" em título de artigo, já no dia 28 de outubro, portanto após o meu, no Jornal O Globo, o jornalista Rodrigo Constantino, como também o ministro demissionário Guido Mantega (e a verdadeira pronúncia é “Mantéga”), ao referir à primeira derrota do Governo pós-eleições, que não conseguiu aprovar na Câmara o decreto que pretendia criar os Conselhos Populares.

Mantega, sim, aplicou o termo de forma equivocada, porque “Vitória de Pirro” indica uma vitória frustrante, e não uma derrota provisória, como ele pretende, neste caso, o Governo tenha tido, confiando seja ela revertida no Senado.

Quanto a mim, (como também no caso do Constantino), apenas observei no meu artigo que Dilma Rousseff manteve o “trono”, ao obter a reeleição, mas agora tem a espada de Dâmocles suspensa sobre si agora utilizando eu uma outra anedota histórica de cunho moral, para indicar o alto preço do poder.  

Dâmocles foi um general do Rei Dionísio de Siracusa. Este, sempre muito preocupado com a traição de seus próprios cortesões, suspeitando de que Dâmocles o invejava, um dia lhe ofereceu sentar no trono, e depois lhe apontou uma afiada adaga que pendia do teto sobre sua cabeça, sustida apenas por uma crina de cavalo.

Foi a forma que o rei adotou para fazer ver ao seu maior êmulo os imensos riscos a que estão constantemente expostos os que têm postos de mando, de modo que aos privilégios reais correspondem responsabilidades enormes e perigos diuturnos.


     
*Reginaldo Vasconcelos
Advogado e Jornalista
Titular da Cadeira de nº 20 da ACLJ

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