Rui
Martinho Rodrigues*
O PSDB é socialdemocrata, com fama de liberal. É satanização,
é “desconstrução”. Socialdemocrata, pai das bolsas, tentando livrar-se da pecha
de liberal, fez uma oposição hesitante. Temeu em vão a acusação de inimigo das “bolsas”.
Secundariamente, na diversidade oposicionista, temos
liberais. Preocupados com estabilidade monetária, equilíbrio fiscal e cambial, desindustrialização,
condições do ensino público. Este grupo aliou-se à socialdemocracia. O motivo é
simples: os tucanos reconheceram que não se pode fazer política social sem
sustentabilidade financeira e esta depende do equilíbrio fiscal. Os liberais,
todavia, não conseguiram animar os parceiros, que permaneceram constrangidos
como oposicionistas.
A história recente contribui para o constrangimento
aludido. Líderes da oposição fizeram política em parceria com Lula e muito
contribuíram para transformá-lo em mito. Além disso, existe a profecia que se autorrealiza.
Propalou-se que Lula era imbatível. Atacá-lo era suicídio eleitoral. A tática
era mostrar afinidade, confundir-se com ele. Isso contribuiu para o crescimento
do líder metalúrgico. A oposição nada ganhou. Não só por tática eleitoral os
tucanos foram oposicionistas tíbios. Há também a afinidade ideológica e a hesitação
em renegar o passado recente dos seus líderes.
Verifica-se, a partir da divulgação dos depoimentos de réus
do processo do petrolão, a presença de muitos parlamentares da oposição na
folha de pagamentos do citado propinoduto. Este era o terceiro componente da
moderação oposicionista.
A falta de apoio entre formadores de opinião e dificuldade
de enfrentar a sociedade civil aparelhada também desencorajaram atitudes mais
afirmativas no exercício da fiscalização e da crítica dos atos de governo.
A moderação não funcionou. Não conteve a destruição de
reputações. A máquina de moer ossos intimidou as oposições. Basta olhar os
esqueletos de Maluf e Collor. O adesismo exemplificado pelos nomes citados
mostra a força da intimidação causada pela destruição de reputações, somada ao
oportunismo de associar-se ao desfrute do poder, verdadeiro festim dionisíaco.
O ex-militar Jair Bolsonaro, o pastor
evangélico Marco Feliciano e o
ruralista Luiz Carlos Heinze. Eleitos
com votações expressivas .
(Imagem: Pragmatismo Político)
|
O temor do confronto com forças corporativistas também
intimidou as oposições. Uma pequena minoria das oposições é formada por
conservadores. Temas ligados à moral sexual, proteção do nascituro, segurança
pública e menoridade e probidade administrativa sensibilizam os ditos
conservadores. Não se trata do conservadorismo de banqueiros ou industriais,
mas de segmentos médios e do povo em geral. Maldosamente, o dito conservadorismo
tem sido acusado de afinidade com o nazismo. É tática de destruição de
reputações e manipulação do medo.
Bancadas de policiais e repórteres policias e
representantes de grupos religiosos cresceram. A campanha de Aécio Neves não quis
parecer situacionista. Saiu-se melhor. O resultado das urnas encorajou o
surgimento de uma oposição de fato. Ganha a democracia, que não pode existir
sem oposição verdadeira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário