quarta-feira, 14 de maio de 2014

DISCURSO (DAF)

MEDALHA DURVAL AIRES
Durval Aires Filho*



A iniciativa da Acadêmia Cearense de Literatura e Jornalismo em homenagear o jornalista Durval Aires de Menezes com uma medalha cunhada com o seu nome deixou-me particularmente muito feliz, pelo exemplo deixado a nós, seus filhos, e às novas gerações, sobretudo aqueles que optaram pela carreira, uma profissão digna e de substancial importância, pois não se concebe uma democracia sem uma imprensa livre, corajosa e combatente. Aliás, a falta de liberdade de imprensa comprova a existência de regimes autoritários, as malfadadas ditaduras.


Radialista Alexandre Maia recebe a Comenda
 Jornalista Durval Aires de Menezes
Rigorosamente, meu pai foi da geração de 22, nascido em fevereiro daquele ano. Tornou-se jornalista cedo, ingressando na imprensa em meados dos anos 40, colaborando com diversos jornais e revistas literárias, enfrentando a profissão, iniciando-se como revisor, portanto, como o amigo Moraes Né, não fizeram curso superior, na verdade, sua escola foi a vida, o batente, o cotidiano dos jornais, desde a sua elaboração em nível de ideias, o texto escrito e revisado, rescrito para o chumbo quente e derretido das antigas linotipos, até as máquinas rotativas das grandes oficinas de impressão. 

Foi aluno do Liceu do Ceará, serviu na Base Aérea de Fortaleza, e ingressou no serviço público, mas logo trocando-o pelo o jornalismo. Tanto na caserna, como na repartição, seu trabalho foi burocrático, por ser um exímio datilógrafo, escrevendo com uma rapidez impressionante, utilizando apenas dois dedos. Dali foi um salto para um trabalho intelectual e, mais ainda, engajado. Estacionou no jornal O Democrata, de orientação marxista, como redator, ao lado de Aníbal Bonavides, tendo estagiado na Tribuna Popular, também órgão de divulgação do Partido Comunista, dirigido pelo poeta Carlos Drumond de Andrade. Na verdade, o próprio Partido lhe reservou uma condição singular de teórico, o que lhe rendeu prestígio e credibilidade nacional, quando o tema era Karl Marx.

Depois seguiu seu trabalhou no Diário do Povo, dirigido pelo poeta Jáder de Carvalho, percorrendo todos os jornais da cidade: Tribuna do Ceará, Gazeta de Notícias, O Povo e Diário do Nordeste, sempre na editoria de opinião, portanto, na função de editorialista. No rádio, redigiu para o Irapuru a coluna “Antenas e Rotativas”, cuja locução perfeita cabia ao professor Cid Carvalho. Também foi Técnico de Comunicação Social da Universidade Federal do Ceará, por onde se aposentou. Ocupou uma cadeira na Academia Cearense de Letras, devido a sua incursão como escritor.


Estreou na poesia, a convite de Antônio Girão Barroso, mais tarde seu nome constou na “Antologia dos Poetas Cearenses”, e na ficção levou a lume dois títulos: “Os Amigos do Governador” e “Barra da Solidão”, novelas de sucesso de crítica, destaque no jornal O Estado de São Paulo, com resenha assinada por Lívio Xavier, e nos meios acadêmicos, pela publicação de “A Estrutura Desmontada”, de F. S. Nascimento, que examinou, sob o ponto de vista técnico literário, as duas novelas, que se seguiram às outras duas: “O Manifesto” e “Uma Estrela da Manhã”, todas englobadas na coletânea “A Ficção Reunida”, uma edição da Universidade Federal do Ceará.


Moacir C. Lopes
Quando muitos anos depois eu presentei ao escritor Moacir C. Lopes “A Ficção Reunida”, após sua leitura, o autor de “A Ostra e o Vento” não se conformou em não ter conhecido Durval em vida, apesar de serem da mesma geração, posto que ambos inovaram, e eles tinham consciência disso, pois enquanto Durval Aires trabalhava o tempo real e psicológico em suas narrativas, por intermédio de vários recursos utilizados pelo cinema, Moacir utilizava outro parâmetro: o tempo eterno.

Melhor explicando: Durval, ao aplicar o discurso indireto livre, nutria-se de flash beck e de plastificações de cenas do passado com o presente, sem que se possa perceber essas técnicas. Moacir dispunha de uma narrativa que não tem dimensão temporal alguma. Certa vez, perguntei ao próprio escritor quem estava narrando “A Ostra e o Vento”, se todos os personagens havia morridos afogados, e ele ficou muito entusiasmado. Disse-me: “Homem foi a pergunta mais insistente em todo Seminário de Teoria Literária junto a universidade Yale”.
Moares Né

Em correspondência, Moacir me revelou que não tinha assistido “Ano Passado em Marienbad”, e sua novela foi um pouco antes da película. Já Durval viu não só o filme de Alain Resnais, como o “Eclipse” de Antonioni. É claro que a literatura é uma outra diferente forma de expressão artística, mas, sinceramente, não sei como meu pai, nascido em Juazeiro do Norte, chegou tão perto dessas sutilezas técnicas que tanto caracterizou o Noveau Roman, a marca dos principais escritores e roteirista da Europa do final dos anos 60.

Bem, o tempo passou e não está mais aqui Durval Aires, Aníbal Bonavides, Carlos Drumond de Andrade, Antônio Girão Barroso, Jáder de Carvalho, Moares Né, nem o próprio Moacir Costa Lopes. Todos desceram a Gaia, vestindo o paletó da terra, mas suas experiencias continuam brotando como os lírios nos campos. Por isso, parabenizo a Academia Cearense de Literatura e Jornalismo, pela feliz iniciativa em lembrar daqueles que precisam ser lembrados pela contribuição artística que deixaram como legado. 


Em 08.05.2014

*Durval Aires Filho
Desembargador do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará
Membro Honorário da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo



Durval Aires de Menezes nasceu na cidade de Jua­zeiro do Norte, aos 13 de fevereiro de 1922. Era filho de Otávio Aires de Menezes e Marieta Franca de Menezes.  As primeiras letras, Durval as teve no Grupo Escolar Padre Cícero e na Escola Normal Rural, onde ali fez o curso primário.

Em 1937, veio morar em Fortaleza. Empregou-se na firma Laboratório Malvil, ficando poucos anos nesta atividade. Em 1940 ingressou no serviço militar, como praça, no 23º Batalhão de Caçadores. Em 1941 e por dois anos serviu na Base Aérea de Fortaleza. Nesta mesma época estudou no Colégio Lourenço Filho, e fez os preparatórios para o antigo Exame de Licença, que correspondia ao Ginásio.

Tornou-se profissional da imprensa em 1946, como redator-chefe de O Estado, de que eram diretores os seus amigos Cláudio e Fran Martins. Trabalhou na Tribuna do Ceará e na Gazeta de Notícias (onde ficou 16 anos), de que foi diretor. Desenvolveu, ainda, atividades na Folha do Povo, no Democrata e no Diário do Povo. Fundou e dirigiu, com Egberto Guilhon, o tabloide Sete Dias, a primeira expe­riência de jornal a cores no Ceará. Trabalhou também na Rádio Urapurú, sendo redator do famoso programa Antena Política. Com a aquisição da Gazeta de Notícias pelo O Povo, Durval se transferiu para o jornal da família de Demócrito Rocha, trabalhando como editorialista. Por último esteve no Diário do Nordeste, onde entrou em 1983 e exercia a função de editorialista, até quando faleceu.

Era membro da Academia Cearense de Letras e exerceu alguns cargos pú­blicos como o de Técnico administrativo no antigo Departamento Nacional de Endemias Rurais – DNERU, na Divisão de Imprensa do Gabinete do Reitor, na gestão de Antonio Martins Filho, da UFC, e na Assessoria de Imprensa do Prefeito Municipal de Forta­leza, na gestão de Vicente Fialho. Exerceu as funções de diretor de fiscalização e orientação do ensino e de chefe de gabinete da Secretaria de Educação, na gestão do Dr. Cláudio Martins.

Em 22.10.1953, Durval Aires e Alberice Machado de Menezes contraíram núpcias e deste casamento houveram dez filhos: Durval Aires Filho, e os netos Nélida, Clarisse, Saulo e Maria Clara; Francisco Otávio de Menezes, e os netos Fábio, Davi, Lara e Francisco Otávio, e deste os bisnetos Gustavo e Ana Lia; Túlio Regis de Menezes e os netos Leonardo e Rafael; Reginaldo Jorge de Menezes e o neto Samuel; Reinaldo Jorge Aires de Menezes e os netos Durval Aires de Menezes Neto, Daniel e Sara, e desta o bisneto Pedro Henrique; Alberice Maria de Menezes, sem descendentes; Cláudio Henrique de Menezes e os netos Júlia e Yuri; Maria da Gloria Menezes e a neta Lívia; Regina Cláudia de Menezes, sem descendentes; e Ilca Maria de Menezes, e o neto Davi.



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