MEDALHA DURVAL AIRES
Durval Aires Filho*
A iniciativa da Acadêmia Cearense de Literatura e Jornalismo em homenagear o jornalista Durval Aires de Menezes com uma medalha cunhada com o seu nome deixou-me particularmente muito feliz, pelo exemplo deixado a nós, seus filhos, e às novas gerações, sobretudo aqueles que optaram pela carreira, uma profissão digna e de substancial importância, pois não se concebe uma democracia sem uma imprensa livre, corajosa e combatente. Aliás, a falta de liberdade de imprensa comprova a existência de regimes autoritários, as malfadadas ditaduras.
Radialista Alexandre Maia recebe a Comenda Jornalista Durval Aires de Menezes |
Foi aluno do Liceu do Ceará, serviu na Base Aérea de Fortaleza, e ingressou no
serviço público, mas logo trocando-o pelo o jornalismo. Tanto na caserna, como
na repartição, seu trabalho foi burocrático, por ser um exímio datilógrafo,
escrevendo com uma rapidez impressionante, utilizando apenas dois dedos. Dali
foi um salto para um trabalho intelectual e, mais ainda, engajado. Estacionou
no jornal O Democrata, de orientação marxista, como redator, ao lado de Aníbal
Bonavides, tendo estagiado na Tribuna Popular, também órgão de divulgação do
Partido Comunista, dirigido pelo poeta Carlos Drumond de Andrade. Na verdade, o
próprio Partido lhe reservou uma condição singular de teórico, o que lhe rendeu
prestígio e credibilidade nacional, quando o tema era Karl Marx.
Depois seguiu seu trabalhou no Diário do Povo, dirigido pelo poeta Jáder de
Carvalho, percorrendo todos os jornais da cidade: Tribuna do Ceará, Gazeta de
Notícias, O Povo e Diário do Nordeste, sempre na editoria de opinião, portanto,
na função de editorialista. No rádio, redigiu para o Irapuru a coluna “Antenas
e Rotativas”, cuja locução perfeita cabia ao professor Cid Carvalho. Também foi
Técnico de Comunicação Social da Universidade Federal do Ceará, por onde se
aposentou. Ocupou uma cadeira na Academia Cearense de Letras, devido a sua
incursão como escritor.
Estreou na poesia, a convite de Antônio Girão Barroso, mais tarde seu nome constou na “Antologia dos Poetas Cearenses”, e na ficção levou a lume dois títulos: “Os Amigos do Governador” e “Barra da Solidão”, novelas de sucesso de crítica, destaque no jornal O Estado de São Paulo, com resenha assinada por Lívio Xavier, e nos meios acadêmicos, pela publicação de “A Estrutura Desmontada”, de F. S. Nascimento, que examinou, sob o ponto de vista técnico literário, as duas novelas, que se seguiram às outras duas: “O Manifesto” e “Uma Estrela da Manhã”, todas englobadas na coletânea “A Ficção Reunida”, uma edição da Universidade Federal do Ceará.
Moacir C. Lopes |
Melhor explicando: Durval, ao aplicar o discurso indireto livre, nutria-se de flash beck e de plastificações de cenas do passado com o presente, sem que se possa perceber essas técnicas. Moacir dispunha de uma narrativa que não tem dimensão temporal alguma. Certa vez, perguntei ao próprio escritor quem estava narrando “A Ostra e o Vento”, se todos os personagens havia morridos afogados, e ele ficou muito entusiasmado. Disse-me: “Homem foi a pergunta mais insistente em todo Seminário de Teoria Literária junto a universidade Yale”.
Moares Né |
Em correspondência, Moacir me revelou que não tinha assistido “Ano Passado em Marienbad”, e sua novela foi um pouco antes da película. Já Durval viu não só o filme de Alain Resnais, como o “Eclipse” de Antonioni. É claro que a literatura é uma outra diferente forma de expressão artística, mas, sinceramente, não sei como meu pai, nascido em Juazeiro do Norte, chegou tão perto dessas sutilezas técnicas que tanto caracterizou o Noveau Roman, a marca dos principais escritores e roteirista da Europa do final dos anos 60.
Bem, o tempo passou e não está mais aqui Durval Aires, Aníbal Bonavides, Carlos Drumond de Andrade, Antônio Girão Barroso, Jáder de Carvalho, Moares Né, nem o próprio Moacir Costa Lopes. Todos desceram a Gaia, vestindo o paletó da terra, mas suas experiencias continuam brotando como os lírios nos campos. Por isso, parabenizo a Academia Cearense de Literatura e Jornalismo, pela feliz iniciativa em lembrar daqueles que precisam ser lembrados pela contribuição artística que deixaram como legado.
Em 08.05.2014
Desembargador do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará
Membro Honorário da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo
Durval Aires de Menezes nasceu na cidade de Juazeiro do Norte, aos 13
de fevereiro de 1922. Era filho de Otávio Aires de Menezes e Marieta Franca de
Menezes. As primeiras letras, Durval as
teve no Grupo Escolar Padre Cícero e na Escola Normal Rural, onde ali fez o
curso primário.
Em 1937, veio morar em Fortaleza. Empregou-se na firma
Laboratório Malvil, ficando poucos anos nesta atividade. Em 1940 ingressou no
serviço militar, como praça, no 23º Batalhão de Caçadores. Em 1941 e por dois
anos serviu na Base Aérea de Fortaleza. Nesta mesma época estudou no Colégio
Lourenço Filho, e fez os preparatórios para o antigo Exame de Licença, que
correspondia ao Ginásio.
Tornou-se profissional da imprensa em 1946, como redator-chefe de O
Estado, de que eram diretores os seus amigos Cláudio e Fran Martins. Trabalhou
na Tribuna do Ceará e na Gazeta de Notícias (onde ficou 16 anos), de que foi
diretor. Desenvolveu, ainda, atividades na Folha do Povo, no Democrata e no
Diário do Povo. Fundou e dirigiu, com Egberto Guilhon, o tabloide Sete Dias, a
primeira experiência de jornal a cores no Ceará. Trabalhou também na Rádio
Urapurú, sendo redator do famoso programa Antena Política. Com a aquisição da
Gazeta de Notícias pelo O Povo, Durval se transferiu para o jornal da família
de Demócrito Rocha, trabalhando como editorialista. Por último esteve no Diário
do Nordeste, onde entrou em 1983 e exercia a função de editorialista, até
quando faleceu.
Era membro da Academia Cearense de Letras e exerceu alguns cargos públicos
como o de Técnico administrativo no antigo Departamento Nacional de Endemias
Rurais – DNERU, na Divisão de Imprensa do Gabinete do Reitor, na gestão de
Antonio Martins Filho, da UFC, e na Assessoria de Imprensa do Prefeito
Municipal de Fortaleza, na gestão de Vicente Fialho. Exerceu as funções de
diretor de fiscalização e orientação do ensino e de chefe de gabinete da
Secretaria de Educação, na gestão do Dr. Cláudio Martins.
Em 22.10.1953, Durval Aires e Alberice Machado de Menezes contraíram
núpcias e deste casamento houveram dez filhos: Durval Aires Filho, e os netos
Nélida, Clarisse, Saulo e Maria Clara; Francisco Otávio de Menezes, e os netos
Fábio, Davi, Lara e Francisco Otávio, e deste os bisnetos Gustavo e Ana Lia;
Túlio Regis de Menezes e os netos Leonardo e Rafael; Reginaldo Jorge de Menezes
e o neto Samuel; Reinaldo Jorge Aires de Menezes e os netos Durval Aires de
Menezes Neto, Daniel e Sara, e desta o bisneto Pedro Henrique; Alberice Maria
de Menezes, sem descendentes; Cláudio Henrique de Menezes e os netos Júlia e
Yuri; Maria da Gloria Menezes e a neta Lívia; Regina Cláudia de Menezes, sem
descendentes; e Ilca Maria de Menezes, e o neto Davi.
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