terça-feira, 27 de maio de 2014

APRECIAÇÃO LITERÁRIA (NAL)

O ASCETISMO DE VIANNEY MESQUITA EM 
...E O VERBO SE FEZ CARNE
Neide Azevedo Lopes*

Por que perambulas assim, homem, buscando muitas coisas? Busca uma apenas na qual estão as demais, e deixarás de perambular (Agostinho de Hipona. TagasteArgélia, 13.11.354; Hipona – Argélia, 28.08.430).

...E o Verbo se fez Carne e em mim habitou. Forte, rico, lírico, pleno de luz.

...E o Verbo se fez Carne, convidando-me ao ágape para desfrutar da farta mesa da sabedoria.

Aquilatar o significado da prazerosa leitura desta magnífica obra do professor Vianney Mesquita ser-me-ía tarefa por demais difícil.

Detenho-me a afirmar. Fiquei, ao lê-la, em estado de graça!

O livro, escrito em versos de sete sílabas (redondilhas maiores), usando o autor o sistema ABCBCB, leva o leitor, da persignação ao epílogo, ao êxtase da plena beleza.

Vianney Mesquita é senhor do seu ofício. E o faz de irretocável forma.

Nada há que se não possa acrescer ou subtrair. Tudo se encadeia em ordem perfeita. É como se o artesão da palavra, ao usá-la, tivesse a lira como pano de fundo. Tal a sonorização, a harmonia emanada dos 4.458 versos desta obra.

Usando os inexauríveis caminhos da memória, o autor conta em versos parte da Escritura Sagrada, com base nos quatro Evangelhos, reproduzindo ipsis verbis o de São Lucas, mostrando-nos a outra face de Bíblia. Poética, acessível, clara.

Destaquemos a aparição do anjo anunciando o nascimento do Senhor:

Falou Ele: nasceu hoje
O Messias, Salvador
Em Belém, lá na Judeia,
Dos homens o Redentor.
Cuja obra giganteia
Enche a terra de louvor.

Atentemos para o meticuloso recurso, usado ao descrever a Morte de Jesus:

Naquele instante, Jesus
A Deus, seu Pai, invocou.
Em alto brado exclamando,
 Sua Razão entregou.
Em assim anunciando,
 Incontinenti expirou.

Pelo brilho argumentado em toda a obra, e por encantada estar, ouso, em versos, emitir ao leitor minha opinião acerca deste Verbo que, feito Carne, em mim habitou.

Li, reli, com atenção,
A história do Senhor,
Contada por Vianney
Com inusitado esplendor,
 Do Nascimento do Rei,
A Morte, tristeza e dor.

Ao meu amigo leitor,
Conclamo à boa leitura
Deste exemplar artesão
Que usa a fina textura,
Descrevendo em precisão
A Sagrada Escritura.

Vianney, alma bendita,
Por força, por devoção,
Fez do Verbo alegoria,
Fez da Bíblia uma canção
Por crença, por alegria
Em Mateus, Lucas e João.

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*Neide Azevedo Lopes é professora, advogada, poetisa e trovadora. Da Academia Cearense da Língua Portuguesa (ex-presidente); da AJEB; Ala Feminina da Casa de Juvenal Galeno, União Brasileira de Trovadores – seção de Fortaleza-CE. Diplomada em Literatura Inglesa, pelo Green Lanes Institut (Londres). Autora, dentre muitos outros, do admirável Teoria dos Afetos.

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