A SOCIEDADE ABERTA
Rui Martinho Rodrigues*
A grandeza e a diversidade do mundo dificultam a compreensão das mudanças. Quanto maior ou mais complexo o objeto, mais raso e incerto o conhecimento sobre ele. A civilização começou nos grupos primários, caracterizados pelas relações diretas entre os membros, intimidade, afetividade, espontaneidade e cooperação direta (Dicionário de Ciências Sociais, da FGV). O trabalho de cada um podia ser visto por todos e consistia em atividade física. A organização resultou de tentativa e erro corrigido, conforme Friedrich August Von Hayek (1899 – 1992), sob o sistema de parentesco (Claude Lévi-Strauss, 1908 – 2009), como uma pequena ordem.
A amplitude do objeto é inversamente proporcional ao conhecimento sobre ele. Entender a ordem ampliada produz conhecimentos superficial e inconsistente (Imídio Giuseppe Nérici, “Introdução à Lógica”). Fórmulas definidoras do dever ser da sociedade fracassaram sempre desde a tentativa de Platão (428/27 a.C. – 348/347 a.C.) em Siracusa. Arrependido do que disse na obra “A República”, Platão escreveu “As leis”, mas não foi bem recebido. O planejamento central não consegue articular todas as variáveis da ordem ampliada, mas enseja a sensação de superioridade moral e intelectual. Fracassa, mas é sedutor.
A divisão dicotômica oferece um prato cheio de oprimidos e injustiças a quem queira profligar o mundo mal. A busca dos fatos considera a estratificação baseada na quantidade de renda (posição no mercado, Karl Emil Maximilian Weber, 1864 – 1920), como nas pesquisas eleitorais, dando lugar a diversas camadas de renda. Isso não é classe, é camada! Então para que serve a origem da renda? Não explica nem venda de sabonete. Grupos identitários, importantes como massa de manobra, não se ajustam a estratificação dicotômica nem às camadas de renda. A estratificação dicotômica, porém, continua entronizada como unidade fundamental de análise.
O fetichismo do
conceito (Luís de Gusmão, vivo), somado aos citados resíduos e derivações, longa
duração, incomunicabilidade dos paradigmas (Thomas Samuel Kuhn, 1922 – 1996) e aos
obstáculos epistemológicos (Gaston Bachelard, 1884 – 1962) também explicam o
animismo residual remanescente da pequena ordem. A logomaquia dos inimigos da
sociedade aberta (Karl Raymond Popper, 1902 – 1994) também influencia quem se
coloca genuflexo ao ler autores consagrados. É preciso seguir Friedrich Wilhelm
Nietzsche (1844 – 1900): ria de todos os mestres.
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