quarta-feira, 17 de julho de 2019

ARTIGO - A Nova Ordem Disruptiva da Canina Lógica Bolsonária (RV)


A NOVA ORDEM DISRUPTIVA
DA
CANINA LÓGICA BOLSONÁRIA
Reginaldo Vasconcelos*



Jair Bolsonaro é meio tosco e muito voluntarioso – todos sabemos disso, e mesmo os seus mais passionais seguidores das redes sociais, forçosamente, o admitem. Comparando mal, o meu cachorro rottweiler também é. Quando este late com as visitas, ou fica acuando gatos durante a madrugada, me aborreço com ele.

Mas mantenho o bicho porque ele é muito necessário: obstinado na segurança da minha casa, incorruptível na proteção da minha família, implacável contra os ladrões que empestam as cidades  bem como todo o mundo de hoje em dia.

Não fosse isso, eu não teria o incômodo de manter um cão feroz,  correndo o risco de que, na sua torpeza natural, possa malferir um inocente. Eu teria apenas um animal de companhia – um manso e elegante labrador talvez fosse o cachorro ideal.

Da mesma maneira, se não fosse a praga de meliantes na política do País – e eu me lembro de quando a minha casa sequer era guarnecida por muros – eu teria votado em um presidente mais polido, mais tolerante, mais previsível, um verdadeiro golden retriever da política, como, por exemplo, o Dr. Geraldo Alckmin e o tonitroante Álvaro Dias, a quem, particularmente, admiro muito. 

Votei em Bolsonaro e na sua matilha de generais, na qual deposito a minha inteira confiança  e dentre outras excentricidades temos agora a indicação de um dos filhos presidenciais para embaixador na Capital americana, quando se esperava que um diplomata de carreira fosse uma opção mais adequada.

Mas é preciso entender o caráter “disruptivo” deste Governo – a Palavra do Ano em 2018, segundo a nossa Academia  que indica a tendência de quebrar paradigmas, que continua vigente sob o mitológico capitão. 
  
O então Presidente Lula da Silva inaugurando embaixada na Mongólia.
Pode ser ousado... mas é compreensível: o Presidente prefere um filho dele na Embaixada de Washington, para se manter mais próximo do governo americano, enquanto desmonta dezenas de outras, criadas pelo Presidente Lula em inexpressivas e longínquas latitudes. 

Bolsonaro não quer um chanceler de punhos de renda nos representando em Washington, frequentado os salões elegantes, fazendo ademanes na alta sociedade mundial entre bolhas de champanhe, oferecendo jantares finos às elites, como a velha política recomenda, e como normalmente acontece por longa e deletéria tradição.

Sim, é nepotismo, do ponto de vista retórico  “nepot” significa “sobrinho”, em alusão aos filhos dos irmãos dos antigos Papas, que de forma consentida gozavam de muitas regalias. Porém, juridicamente falando, em se tratando de escolha política no Executivo brasileiro, a nomeação de parentes é constitucionalmente permitida – segundo já sumulou o Supremo Tribunal. 

É verdade que o “garoto” é imaturo, e que seria preferível não ter aludido à sua experiência estadunidense preparando sanduíches populares. Na verdade, muita gente boa se orgulha de atividades humildes exercidas no passado, ostentando isso entre os méritos e os louros que subjazem aos feitos e títulos de seus currículos pessoais, como sinal orgulhoso de superação profissional. 

Então, com um pouco de boa-vontade, pode-se entender que o “número três” da República quis apenas significar que cursou também a universidade do mundo e que  conhece de perto a vida privada americana.

Claro que para ser embaixador isso não basta, na verdade muito pouco interessa, pois as lides diplomáticas estão afetas às relações internacionais, à macroeconomia, à formulação de acordos atinentes a negócios, a políticas públicas, a conflitos planetários. Nada disso passa pelas lanchonetes e pelas cozinhas ordinárias.

Mas também é verdade que os embaixadores são tecnicamente muito bem assessorados, contando com corpos funcionais experientes, de modo que logo-logo o “menino do Rio”, com os seus vinte anos de praia”  que é fluente em inglês e deve ser suficientemente “ichipierto”  assimilará muito rapidamente todas as rotinas da função.

Pode ser que ele seja reprovado na sabatina do Senado – e não surpreendem essas decisões do Parlamento contra as pretensões presidenciais. Mas já é muito importante que a política velha esteja sendo fustigada, questionada, acossada pelas incisivas iniciativas do Governo Bolsonaro, pois o Presidente desceu dos palanques, físicos e eletrônicos, mas não esqueceu as promessas feitas e não abandonou a sua plataforma eleitoral.

  

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