quarta-feira, 24 de agosto de 2016

CRÔNICA - Os Bacorinhos (TL)

OS BACORINHOS
Totonho Laprovitera*


No Sítio Santa Rita de Cássia, seu Zé resolveu criar alguns bichos. Além da animação que eles levariam ao lugar, alguns deles ainda tornar-se-iam saborosos manjares.

E assim fez. Entre a matança de uma ou outra galinha caipira, a ser preparada à cabidela para o almoço dominical, o velho gato da casa a tudo observava ronronando pela cozinha.

E via-se e ouvia-se, passeando pelo terreiro, os órfãos pintinhos ciscando e piando, os capotes com seus estridentes e repetitivos fraquejares – tofraco!, tofraco! – o alvo carneiro e seu balir, e a vaquinha Mimosa que, mugindo, parecia esperar a hora da ordenha. 

Ouvia-se, ainda, o grasnar dos patos, o ruflar das asas do peru gorgolejando, o relinchar do jumento, o trilar dos canários, o martelar da araponga e, entre o farfalhar das árvores, o sabiá gorjeando. Faltava, porém, o grunhido dos porcos. E foi quando Seu Zé resolveu adquirir alguns bacorinhos.

Foi à feira e comprou oito. Depois, repartiu o pão: dos oito, deu quatro ao caseiro Bastião. A intenção era clara: sendo dono da metade dos bacorinhos, Bastião iria dedicar-se muito mais aos bichinhos.

– Na semana que vem, pode esperar, vou trazer uma ração especial pra eles disse o caprichoso seu Zé.

Na sexta-feira, lá estava o patriarca da família Dias. Embora já escuro, era mais ou menos umas seis e meia da tarde, partiu rumo à pocilga pra conferir os suínos. Acompanhado do serviçal residente da propriedade rural, seu Zé empunhando uma lanterna pôs-se a contar a leitegada:

– Um, dois, três, quatro... Esquisito, não estou vendo os quatro restantes...

– É, seu Zé, o senhor tem razão, também não tô conseguindo enxergar.

Só tem quatro mesmo... – Reforçou um dos seus genros.

Ô, Bastião, onde estão os outros quatro?

– Ah, seu Zé, num tão aí mesmo, não.

 – Bastião, e estão aonde?

– Sei lá, seu Zé, já faz mais de três dias que eu vendi os meus!


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