TRAQUINAGENS
A BORDO
Vianney Mesquita*
A BORDO
Vianney Mesquita*
É,
pois, a fé a substância das coisas que se devem esperar, um argumento daquelas
que não aparecem. (Hebreus,
11-1).

Já ao adentrar
o avião, no “Pinto Martins”, se viam aquelas duas ou três pessoas apavoradas,
espantadas, como jumento da boca preta, feitas cachorro em noite de são-joão,
externando um semblante de medo, sobrosso do voo insondável que nos ia (talvez,
quem sabia!) deixar em Congonhas e, de lá, ocorreria (era a expectativa) o
voejo para o Aeroporto de “Viracopos”.
Neste tempo, não
havia assento marcado e (incrível) se podia fumar no interior da cabine. Éramos
os primeiros da fila. Então, convidei:
– Frazão, vamos
nos sentar aqui, logo na frente.
– Tá maluco,
rapaz! Em não ando na frente!
– Qual a razão,
amigo?
– É que eu
nunca vi avião cair pelo rabo!
Foi o
suficiente para o homenzinho acender um cigarro no outro e olhar
investigativamente para o fundo da aeronave, mudando de lugar imediatamente.
Alguns minutos
mais tarde, no anúncio do começo da viagem, [...] A VASP, tem o prazer de recebê-los a bordo. Receba os cumprimentos do
Comandante Agamenon ...
Imediatamente
veio a interrupção:
Ah! É o Comandante Agamenon? Não tem
quem faça! Vou de jeito nenhum! – gritou um gaiato lá de trás.
A muito custo,
as aeromoças (e aerovelhas, também) conseguiram acalmar os ânimos, tendo a Coramina (é o novo!) corrido solta neste
dia e o Frazão morrendo de rir lá atrás.

Conversei com
ele, amenidades – mais amenidades – e literatura filosófica, pois havia
consultado um pouco antes sua Antropologia
Filosófica I e II. O avião
sobrevoava os Andes, exatamente o Lago da Titicaca, região fronteiriça
Peru-Bolívia. A palestra gravitou ao redor de seus interesses pela região
Nordeste, nomeadamente, em relação ao Ceará e, mui particularmente, acerca do
celebérrimo assassinato de Dom Expedito Lopes, pelo Padre Hosanah Cerqueira,
vigário de Quipapá, Diocese de Garanhuns-PE, em 2 de julho de 1957, onde Dom
Expedito era titular da Prelazia.
Conversa vai, conversa
vem, ocorreu uma regular tremedeira no avião e me lembrei, então, de uma
história de viagem aérea por mim ouvida havia muito tempo, exatamente com um
arcebispo. Contei-a, pois, a Dom Henrique Cláudio.
Acenderam-se os
signos de apertar cinto (“abrochar el
cinturón”) por causa de uma regular turbulência, pedindo o anunciante que
todos volvessem aos seus lugares.
Um bispo da
Igreja Católica Tridentina, desses mais medrosos, estava aterrado com as
sacudidelas, ao que seu secretário aduziu: – Não há razão para pavor,
Excelência Reverendíssima! Não viu que o Comandante falou que passava logo? De
fato, cessou um pouco e deu para o prelado tomar um gole d’água com um
comprimido não-sei-de-quê. Logo em seguida, entretanto, os balanços aumentaram,
já com muita gente terrificada e o nosso antístite quase a enfartar, sempre
acolitado e acalmado pelo já também aflito ajudante.
– Não se
molestem. Tudo está sob controle. Fiquem em seus lugares! – Ouviu-se do
alto-falante.
Segundos
depois, cresceu assustadoramente a agitação e se escutava a fuselagem estalar
como se fosse tudo se partir, vendo-se a correria das aeromoças e aerovelhas a
se abrigarem nas cabinas e se “abrocharem
a sus cinturones”.
Nisso, fala o
Comandante:

Despeço-me de
vocês. Certamente, até o dia do Juízo!
Sob o terror do
Pontífice católico, seu coadjutor o arrostou e exprimiu:
– Dom Fulano,
não se preocupe nem se intimide, pois, dentro de instantes, estaremos nos
braços do Senhor!
Com os olhos
esbugalhados e bufando de ódio, exprimiu o Bispo:
– Homem, não
diga uma desgraça desta !!!
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